terça-feira, 25 de dezembro de 2012

É Natal

Poesia Menino Jesus1

Acordou naquela manhã
Assim fazia todos os dias
Foi à cozinha, passando pela sala
Nem notou a árvore de Natal

Saiu da cozinha, passou pela sala
De novo uma árvore não percebida
Chegou ao quarto e lembrou-se
Era Natal, um dia diferente

Correu até a árvore na sala
Parou e Desta vez a notou
Viu todo o seu esplendor
E vários presentes em volta

Correu até ela e se ajoelhou
Ignorando os presentes
O Menino Jesus pegou
Delicadamente, na manjedoura, o deitou

Olhou para a Sagrada Família
Agora ela toda reunida
Nascera o Menino Jesus
E, com ele, nossa alegria
Ainda sem ver os presentes

Fez o que achava mais certo
Junto ao Menino Jesus
Rezou pelo bem de todos

Sabia ele que presentes havia
Não faltaria tempo para abri-los
Mas a humanidade tinha pressa
E o mundo ansiava por paz e amor

Fossem, então, todos os homens
Verdadeiramente felizes
Em um mundo sem dor
Feito apenas pelo amor

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Contos Twitteranos [14]

Contos Twitteranos

Contos que, como no Twitter, devem conter
um máximo de 140 toques.
O mais legal é fazer com que fiquem
com exatos 140 toques.

261) A entrevista (140 toques)
Era o emprego dos sonhos. Acordou cedo para a grande entrevista final. Oportunidade única. Greve dos ônibus, atraso total. Perdeu o emprego

262) Silêncio (140 toques).
O bate-estaca era ensurdecedor. Finalmente a obra acabou. Silêncio. Que nada, a área de lazer e o parquinho eram logo do outro lado do muro.

263) Cachorro X Ap pequeno(140 toques)
Apartamento pequeno. A filha queria um cachorrinho. Sem conhecer, optaram por um filhote com que se encantaram. Cresceu, era um dinamarquês.

264) Vômito (140 toques)
Ele chegou a casa todo vomitado. Camisa, calça e sapatos imundos, fediam. A irmã gritou: - QUE NOJO! Ele: - Pior! Não é meu, é de um bêbado!

265) O mundo gira (140 toques)
Não ia ao carrossel porque ficava tonto com tudo o que girasse. Chegou tonto da escola. O professor havia ensinado sobre a rotação da Terra.

266) Pastel (140 toques)
Queria comer pastel. Indicaram o Caracu. Saiu do centro e lá foi com um amigo. Pediram e tentaram comer. Voltaram para o centro: ao Carioca!

267) Príncipe encantado (140 toques)
Beijou todos os sapos querendo pegar um príncipe. Nenhum sapo daquele brejo escapou de seus selinhos. Nada! O que pegou foi sapinho na boca.

268) Aniversário (140 toques)
Discussão acirrada, mas ele ganhou a disputa. Nem todos faziam aniversário exatamente no dia em que nasceram. Sim, há o dia 29 de fevereiro.

269) Carioca de araque (140 toques)
Vangloriava-se dizendo-se carioca e flamenguista. Chorou muito ao descobrirem que nascera em Resende. Na real era flamenguista e fluminense.

270) Aprendendo a ser feliz (140 toques)
Vivia triste. Não conseguia rir com a vida que levava. Tudo mudou quando notou que viver infeliz não fazia sentido e aprendeu a rir da vida.

271) Surpresa! (140 toques)
Sempre chegava a casa na mesma hora. Um dia, de surpresa, chegou duas horas mais cedo e estranhou. Quem era aquele sujeito pulando a janela?

272) Campeão do mundo (140 toques)
Como capitão e campeão, iria levantar a Taça do Mundo para bem alto. Parecia um sonho. Alguém o chamou à razão e viu que era mesmo um sonho.

273) Coloração capilar (140 toques)
Flagrou o marido traindo e, de revólver, gritou: Vou matar todos. Apontou pra própria cabeça. Viu o marido rindo: Não ria, você é o próximo!

274) Horizontes abertos (140 toques)
De repente seus horizontes se abriram. Foram ampliados de uma forma tal que ele nunca vira sozinho. Aí reparou: bastou ficar em pé no berço.

275) Amor [1] (140 toques)
Paizão, quero lhe apresentar o Eduardo. Este bonitão é o meu namorado. O pai, estupefato, caiu sentado na cadeira: - como é que é meu filho?

276) Amor [2] (140 toques)
Paizão, quero lhe apresentar a Beth. Esta bonitona é minha namorada. O pai, estupefato, caiu sentado na cadeira: - como é que é minha filha?

277) O chiclete (140 toques)
Viciado em chicletes, fazia tempos que não mascava. Ganhou um e o levou à boca sem pensar. Danou-se. Não podia mascar por causa do aparelho.

278) Bola nova (140 toques)
Todos pediram bola de futebol no Natal. Ganharam e já marcaram o jogo e, claro, todos foram. Mas, faltou a bola. Ninguém queria sujar a sua.

279) Mico [1] (140 toques)
Ele era só orgulho. Reunira coragem e convidara a garota mais bonita do colégio para velejar. Uma calmaria total. O barco não saía do lugar.

280) Mico [2] (140 toques)
Oi! Gritaram do outro lado da rua. Ele se virou, viu um cara vindo. Não se lembrou dele, mas foi ao encontro. Faltou ver a menina ali atrás.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Mal súbito

Mal Súbito blogDe repente um mal súbito e ele se foi. Esvaiu-se a vida.

Infarto fulminante, disse o médico.

Ele, sem entender nada, ouvia tudo, mas não conseguia mexer um músculo sequer. Não conseguia se mexer, abrir os olhos, nada. Todo desforço era em vão.

Lembrou-se do filme Awake - a vida por um fio em que o protagonista recebe a anestesia para um transplante de coração e algo estranho acontece: ele sente e ouve tudo, mas o corpo permanece como se estivesse anestesiado, dormindo. Sem saber disso, os médicos vão operando-o e ele sentindo todas as dores.

Também sempre ouvira histórias extraordinárias sobre a passagem para o mundo espiritual, em que alguns, por serem muito apegados à vida, ficavam perambulando no limbo - seria o caso dele? Afinal estava morto ou não? Que sentimento era aquele?

Não! Com toda a certeza aquele não era o caso dele, ele não estava morto. Apenas precisava encontrar uma saída para fugir daquilo e voltar à sua vida normal.

Contudo, o tempo ia passando e ele cada vez mais se conscientizando do que acontecera de fato.

-- O infarto fora violento, muita dor no peito. Só posso ter morrido mesmo, mas, e agora? O que acontece? O que faço? Pensava sofrendo.

Notou a esposa e as filhas chorando. Queria pode falar que estava vivo, que as ouvia, mas todas as tentativas eram em vão. O desespero foi tomando conta dele.

Ficou sabendo sobre os preparativos, de como e onde seria o velório, a escolha do caixão, quem avisariam... e ele ali, ciente de tudo e cada vez mais desesperado.

Nada daquilo poderia estar acontecendo, pois ele estava vivo. Chamem outro médico, gritava, porém era um grito mudo, inaudível - não conseguia fazer-se ouvir.

E lá estava ele, deitado em um caixão, todo coberto de flores, uns dois mosquitinhos mais que chatos presos dentro do tule que cobria seu corpo e que insistiam em pousar em seu nariz. Não conseguia dar, nem ao menos, uma coçadinha, por mais que quisesse.

Um por um, parentes, amigos e até alguns desconhecidos baixavam-se e falavam com ele, desejando-lhe muita Luz, que Deus o abençoasse, que os antepassados o recebessem no plano espiritual, que isso e aquilo.

Só não gostou quando ouviu dois amigos cochichando sobre a “bonitona da viúva” e que queriam muito consolá-la. Como assim? Que tipo de amigo é esse?

Ah se pudesse levantar-se dali. Eles iam ver quem é que ia ficar viúva.

E o tempo foi passando, e ele ali, imóvel, querendo sair daquela situação.

Era meio ateu, mas rezou todas as rezas que conhecia, inventou outras, fez promessas. Valia acreditar em tudo para tentar sair daquele caixão antes que fosse tarde demais.

Depois da cerimônia, quando chegaram os homens da funerária, viu que o tempo dele estava acabando, dali a poucos instantes seria tarde demais para qualquer outra tentativa.

E sequer a tal da luz branca que fazia parte das histórias extraordinárias que ouvira não aparecia para buscá-lo. Bem poderia haver um “Manual da Passagem Para Leigos”, pensava, assim saberia o que fazer.

Quando vieram com a tampa para fechar o caixão, ele sabia que seria a sua última chance. Num total desespero, reuniu todas as forças que tinha e, no instante derradeiro, conseguiu.

Esticou as mãos para cima, impedindo que baixassem a tampa e, ao mesmo tempo, soltou um grito horrível que saiu lá do fundo de sua alma. Um grito sepulcral.

A esposa deu um salto com o grande susto que levara e, recuperando-se da surpresa, falou com ele:

Querido! Acorde! Você está tendo outro pesadelo!

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Ninguém perde a grande chance

clip_image002Ilustração feita pelo Luiz Rafael da Caricômicos,

um parceiro indicado por este Blog.

Beto sempre fora metódico. Fazia tudo de forma bem pensada, para que nada fugisse ao seu controle; tudo tinha de funcionar perfeitamente.

Só não, digamos, “funcionava direito” na presença de Ana Lúcia. Invariavelmente as pernas lhe faltavam e a lógica de seus pensamentos iam por água abaixo.

Nesses momentos a timidez falava mais alto e uma poderosa barreira o impedia de falar com ela, declarar-lhe todo o amor preso em seu coração.

Isso acontecia desde a adolescência, quando ela entrou pela primeira vez naquela sala de aulas e tornou-se mais uma colega de classe. Mais uma? Fala sério, era muito mais que isso.

Ela era a nora que a mãe dele sempre quis, mesmo sem saber.

Os anos se passaram, a paixão platônica ficou e ambos continuavam solteiros, o que era um alento para Beto... quem sabe um dia?

Ana Lúcia mudou-se de São Paulo para o Rio de Janeiro. Trocara a Lapa paulistana pela carioca.

Mesmo a distância não amainou o amor no coração de Beto. O problema é que a timidez também permaneceu forte. A distância apenas piorara o contato - como falar com ela?

Certa tarde ele recebe uma chamada pelo Skype e... falta-lhe o ar. Era Ana Lúcia chamando para uma conversa com vídeo.

Tremendo, ele clicou no ícone e aceitou a chamada.

Logo aparece aquele rostinho angelical na tela, mas um tanto triste.

- Beto, apenas ouça. Não diga nada, por favor. – Disse ela em tom preocupado.

- Amo você praticamente desde a primeira vez que o vi, lá atrás naquela sala de aulas, mas minha timidez nunca me permitiu falar algo a você.

E continuou:

- Meu maior desejo era que você também me amasse como o amo, que ficássemos juntos para sempre. Pena eu não ter tido a certeza de ser correspondida, afinal você nunca se abriu comigo.

- Beto, estou falando isso agora porque não quero casar-me com este peso na consciência. Tinha de declarar meu amor a você e, se por acaso você me amar, venha para cá e me impeça de casar-me. Apenas sua presença bastará. Não precisaremos falar nada um ao outro.

- Se você não vier, entenderei e parto para a Lua de Mel no Caribe e, de lá, já mudo para a França, onde morarei.

- Eu me caso às 20 horas na Igreja Nossa Senhora do Desterro, aqui na Lapa.

Declarou tudo isso e desligou, deixando um atônico Beto sem saber o que fazer.

O coitado não sabia se o mundo desabara ou se abrira uma enorme porta para a felicidade.

... nem vou precisar dizer nada? Basta aparecer? Pensou Beto já tomando a decisão.

Olhou no relógio: 16 horas. Se corresse, pegaria o voo das 17 ou 17h30 para o Rio e chegaria em frente a Ana Lúcia bem antes das 20 horas.

Era a última chance de ele ser feliz com a mulher que amava e não a perderia por nada. Pegou uma mochila, jogou lá dentro algumas coisas básicas e correu para o aeroporto.

Conseguiu um lugar no voo das 17 horas mas, ao passar para a área do portões o escâner acusou a presença de um canivete na bolsa. Não poderia embarcar com aquilo e a sugestão dada foi o descarte.

Não poderia descartá-lo. Fora presente de Ana Lúcia há vários anos e não largava dele.

Saiu em disparada, deixou o canivete no guarda-volumes e voltou correndo para não perder o voo.

Passou como um foguete e foi o último a entrar a bordo e, cansado, sentou-se na primeira poltrona vazia que encontrou.

O avião demorou um pouco a mais para sair, mas isso não o incomodou. Havia tempo de sobra até as 20 horas.

Finalmente o avião partiu e ele, procurando relaxar, nem ouviu as palavras do comandante que explicava o por quê da demora e outros detalhes acerca da viagem.

Mas, no final, quando o comandante disse o tempo estimado de voo, ele ficou intrigado.

Chamou a comissária de bordo e perguntou:

- Duas horas de voo não é muito tempo? Normalmente leva uns 40 minutos.

- Desculpe-me senhor - disse uma educada comissária - mas o tempo de voo para Cuiabá é cerca de duas horas mesmo.

- Ah sim, respondeu Beto. Para Cuiabá é este mes.............CUIABÁ??????????????????

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Contos Twitteranos [13]

Contos Twitteranos

Contos que, como no Twitter, devem conter
um máximo de 140 toques.
O mais legal é fazer com que fiquem
com exatos 140 toques.

241) Cadeia nele? (140 toques)
Não era pedófilo, mas, muito ao contrário, era gerontófilo - só pegava as velhinhas. Baixou a polícia e foi preso. Para desespero das vovós.

242) Hora de escrever (140 toques)
Noite fria. Nada na TV e nada a fazer. Deitou na cama e se enrolou no cobertor para escrever uns contos. Acordou babando em cima do caderno.

243) Ás do motociclismo (140 toques)
Via-se como Valentino Rossi. Queria ser um ás do motociclismo. Mas havia um problema: vencer o medo e, antes, aprender a andar de bicicleta.

244) Filme de Terror (140 toques)
Noite, pipoca, café preto e um filme de terror na TV. Sozinho, ia assistir àquilo que quisesse. Mudou de canal no primeiro grito da heroína.

245) Fim do passeio (140 toques)
Pegou o conversível importado do patrão e foi ao Guarujá querendo “pegar todas”. Blitz! Sem carta, o carro foi apreendido. Perdeu o emprego.

246) Sexta-feira 13 (140 toques)
Sexta-feira 13. Muito supersticioso, ainda na cama pensou em evitar gatos pretos na rua. Levantou-se e foi fazer a barba. Quebrou o espelho.

247) Desistindo (140 toques)
Tirou habilitação pra moto e comprou uma novinha. Primeiro dia de carta, estreando a moto, caiu e teve fratura exposta na perna. Nunca mais!

248) Espirro fora de hora (140 toques)
Busão lotado. Mesmo gripado, foi ao trabalho. De repente espirrou forte e uma grande massa verde aparece no casaco da moça à frente. Desceu.

249) Deficiente auditivo (140 toques)
O vendedor não lhe deu tempo. Pôs-lhe o fone de ouvido e a melhor música. - Você tem de comprar este som - disse ao rapaz. – Que? Era surdo.

250) Gravidez (140 toques)
Todos ficaram felizes e a cumprimentaram. Ela até estava feliz, mas muito mais preocupada. Não sabia como ia fazer. Grávida de quadrigêmeas!

251) Escravidão (140 toques)
Sem descanso, trabalhava dia e noite, 24 horas por dia, 7 dias por semana. Um dia parou. Trocaram a pilha e lá estava a hora certa de volta.

252) Ambição zero! (140 toques)
Na infância: vai graxa tio? Na adolescência: Vai graxa moço? Fase adulta: vai graxa senhor? Na velhice: Vai graxa jovem? Não tinha ambições.

253) Autossuficiente (140 toques)
Autossuficiente, ele não fazia favores a ninguém. Exigia que todos fossem iguais a ele. Um dia precisou. Todos riram e ele aprendeu a lição.

254) Pára tudo 1 (140 toques)
Dia dos Pais. Os 3 filhos pequenos invadem o quarto, bem cedo. A ideia era acordar os pais. Já estavam acordados. Hora errada, muito errada.

255) Pára tudo 2 (140 toques)
Madrugada, o casal fazia amor. A filhota bate à porta. Pulam da cama, vestem-se rápido e saem. A menina já voltara para a cama. Adeus clima.

256) Quem tudo quer... (140 toques)
Saiu para a balada dizendo que ia pegar a menina mais bonita. Passou a noite escolhendo. Escolheu demais. Acabou ficando com a mais baranga.

257) O último ônibus (140 toques)
Madrugada. Lá vinha ele, não podia perdê-lo de forma alguma. Correu, levou um tombaço. Levantou-se e continuou a correr. Ralou-se todo mas não perdeu o último ônibus.

258) Ser alguém (140 toques)
Queria ser alguém no mundo. Estudou, trabalhou, dedicou-se. Só parou quando notou: melhor que ser alguém no mundo era ser o mundo de alguém.

259) Quede os aplausos? (140 toques)
Tudo combinado com o público e ele cantou para gravar o CD ao vivo. Acabou e vaiaram. Vaiaram? Era o contra-regra levantando a placa errada.

260) Habilitação (140 toques)
Tentou, foi reprovado. Tentou de novo, reprovado de novo. Mais uma vez e nova bomba. Não tinha mesmo jeito a não ser continuar de bicicleta.

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

As Mulheres mais velhas

Mulheres mais velhas

O Blog agora conta com as ilustrações feitas pelo Luiz Rafael da Caricômicos,

um novo parceiro que já fica indicado.

Dinho sempre gostou de mulheres mais velhas. Tara antiga.

Era normal ouvi-lo elogiar, dizendo que algumas delas deixavam qualquer garotinha “no chinelo”.

Rapaz bonito, boa pinta, ele conhecia bem seus dotes e não dava moleza. Quando via uma que valesse a pena, assediava até vencer.

Desistir? Jamais!

Certa tarde, lá estava ele na praça de alimentação de um shopping esperando por Edgar, um colega de escola, de pouco tempo, mas que estava se tornando um amigão.

Ao tomar o primeiro gole de coca, notou a presença solitária daquela deusa do Olimpo, alguém que causaria inveja a Afrodite.

-- A coroa dos sonhos - pensou Dinho - tomara que o Edgar se atrase um pouco...

Sem perder tempo, levantou-se e partiu para o ataque, Não poderia deixá-la fugir.

- Boa noite. Desculpe-me, mas é que eu tenho meio que um trauma de infância e não consigo comer sozinho. Incomodo muito se eu me sentar à sua mesa?

Com toda a educação mostrada, aliada à “cara-de-anjinho-carente”, ela não teve como negar.

Ele se sentou calado, demonstrando certa timidez, o que fez com que ela iniciasse a conversa. Tudo o que ele queria.

O que se viu a partir daí foi uma crescente eloquência por parte daquele rapaz antes tímido e retraído.

Dinho jogou todo seu charme, ao que ela, percebendo as intenções do malandro, de imediato quis dar um basta.

Mas, que nada. Dinho, apesar da pouca idade, tinha uma vasta experiência no campo da sedução. Ela logo estaria conquistada, afinal ele era uma espécie de Rei da Gerontofilia, como ele mesmo se gabava.

A partir daí foi ela tentando desvencilhar-se do rapaz e ele cada vez mais afoito, começando a dar uma baixada no nível da conversa.

Quando notou que não ia dar em nada, aí ele descambou de vez.

Fazendo uso de palavras cuidadosamente escolhidas, começou a ofendê-la, dizendo que ele seria a salvação dela pois, com certeza, o marido já não mais dava conta. Que ele isso, ele aquilo, que ela viajaria como nunca nos braços dele.

Começou a detalhar cenas imaginárias de como eles se curtiriam, sobre o que ele faria com ela em um motel, fechados entre quatro paredes. Deu asas amplamente abertas à imaginação.

Não teria nada a perder e, por tabela, ensinaria àquela ex-deusa do Olimpo que ele era O Cara e ela uma perdedora.

Sempre em voz baixa, para não levantar suspeitas, continuou a ofendê-la de maneiras cada vez mais baixas.

Ela se levantou e foi para outra mesa e, quando Dinho fez menção de segui-la, deparou com o Edgar que vinha chegando.

-- Bem, pensou ele – vou deixar essa velha pra lá. Acenou para o amigo, chamando-o para a mesa.

- Oi Dinho. Chegou há muito tempo?

- Nada cara, estou aqui tem menos que 15 minutos. Estava começando a tomar um lanche.

- Legal Dinho. Você está com suas coisas aqui? Meu pai vem nos buscar daqui a pouco e já partimos para o final de semana na chácara.

- Sim Edgar, está tudo aqui. Estou é bastante ansioso para este final de semana prolongado e tenho certeza de que vai ser bem divertido.

Assim foram conversando, e Dinho não tirava os olhos daquela tentativa de conquista, daquela coroa sensacional sentada à uma mesa do outro lado da praça. Desta vez não dera mesmo certo, mas não se podia ganhar todas.

O importante agora era pensar no final de semana na chácara dos pais de Edgar.

Notou quando um homem aproximou-se dela, beijando-lhe rapidamente os lábios - como ele queria ter feito aquilo.

Nisso, Edgar olhou para o mesmo lado que Dinho e também notou a presença do casal.

- Legal, meus pais chegaram, venha, vamos falar com eles.

- Hã? Como assim? AQUELA É A SUA MÃE?

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Contos Twitteranos [12]

Contos Twitteranos

Contos que, como no Twitter, devem conter
um máximo de 140 toques.
O mais legal é fazer com que fiquem
com exatos 140 toques.

221) Tiros na favela (140 toques)
Tiros do lado de fora. Ela, com medo, fincou-se na sala vendo TV. Madrugada adentro, mais tiros e ela acordou assustada. Agora era só na TV.

222) Frustrado (140 toques)
No apartamento, sozinho, gritou: CHEGA DESSA VIDA! Abriu uma janela e, sem pensar, saltou para o suicídio. Só esqueceu que morava no térreo.

223) Incêndio (140 toques)
Sirenes e gritos na madrugada. Ele acordou com sono. Só queria dormir. Abriu a janela para reclamar. Viu que era o próprio prédio em chamas.

224) Neve (140 toques)
Mudou-se para o Canadá. Queria conhecer e viver na neve. Inverno. A primeira neve, LINDA! Brincou muito. Mais 3 dias, xingava preso em casa.

225) Turismo (140 toques)
Passear de trem pela Europa. Comprou uma cabine e armou a cama perto da janela. Queria ver as paisagens. Dormiu toda a viagem. Não viu nada!

226) Fim de namoro (140 toques)
Fim do namoro. Pediu a ela que lhe devolvesse o chaveirinho de boneca. – Tá bem, disse ela. E você me devolve o cartão de crédito e o carro.

227) Na pele do lobo (140 toques)
Radicalizava. Quis conhecer as drogas, drogou-se. Pobreza? Mendigou. Asa Delta? Voou. Tudo acabou quando quis conhecer o outro lado da vida.

228) Carros (140 toques)
A dúvida era cruel. Não sabia se comprava a Mercedes Mc Laren ou a Ferrari California. Na dúvida, esqueceu os dois e comprou um fusca mesmo.

229) Sol ou chuva? (140 toques)
Sol? Chuva? Oh dúvida! Resolveu sair sem o guarda-chuva, o otimismo havia prevalecido e o sexto sentido lhe dizia estar certo. Choveu muito!

230) Sentinela (140 toques)
De prontidão, vigiava o acampamento. Cochilou, acordou, olhou ao redor, dormiu. Acordou com o pior dos sargentos, fitando-o. Adeus descanso!

231) Campeão (140 toques)
Queria muito ir ver o jogo decisivo. Foi. O time seria campeão. Vitória garantida. Voltou triste. Alguém não combinou com o time adversário.

232) Lei de Murphy: o pum! (140 toques)
Sábado, final da tarde, saindo do escritório. Prédio vazio. Viu-se só e soltou no elevador. Nem ele aguentava. A porta abriu, elas entraram.

233) A fila anda (140 toques)
Onze da noite, deixou a namorada em casa, pois tinha de estudar. Em casa, trocou-se e foi para a balada. Encontrou a namorada divertindo-se.

234) Voz fina (140 toques)
Ele tinha voz fina, afeminada. Nunca ligara para isso e curtia, brincando. Brincou até o dia em que o Anderson Silva perguntou-lhe as horas.

235) Casamento difícil (140 toques)
Iam casar-se. No dia, morreu o pai da noiva. Adiaram. Aí vem a morte do pai do noivo. Adiaram. Então foi a vez da mãe do noivo. Juntaram-se.

236) Fora na balada (140 toques)
Na balada vê a mulata dos sonhos. Ficam. Ficam mesmo. Leva-a para casa. Ela vai ao banheiro e, escondido, ele a espia fazendo o xixi. Em pé?

237) A última bolacha do pacote (140 toques)
Escondeu o pacote com a última das bolachas importadas. Ainda não comera nenhuma. Quando o pegou, a sobrinha aparece do nada e: tio, dá uma?

238) Filme de terror (140 toques)
Foi com a namorada ao cinema ver um filme de terror. Ela tremia e ele ria. À noite, hora de dormir, lá foi o machão: mãe, posso dormir aqui?

239) Cadela folgada (140 toques)
Hora de dormir. Foi pra cama. Calor e ar ligado. Ia deitar-se naquela cama fresquinha. Deparou-se com a cachorrinha aninhada no travesseiro.

240) O voo da águia (140 toques)
Com coragem, abriu as asas para alçar o primeiro voo. Estufou o peito e pulou. Caiu como um saco de batata. Só penugens, faltavam-lhe penas.

domingo, 30 de setembro de 2012

Expondo-me

57 anos30 de setembro de 2012, estou completando 57 anos de vida e acabo de ganhar o DVD “Amizade Sincera”, comprado pela Camila a pedido da Natália, a caçula. Originalmente o pedido foi direcionado a um DVD do Almir Sater, mas, segundo o rapaz da loja, não existe DVD do Almir.

Então, a Natália pediu que a Camila visse um daquele cara que canta “caipira pora”. Conversas lá e cá, o vendedor procurou no Google e achou Elis Regina. Não seria.

Até que apareceu um salvador da pátria que lembrou do Renato Teixeira. Salvos pelo gongo!

Pois é, “coisas das antigas” e não comerciais são mesmo pouco conhecidas, mas valem a pena quando se conhece.

Voltemos ao texto.

A Naty, com o Augusto, o namorado corinthiano dela (pois é, nem tudo é perfeito), deram-no a mim.

“Amizada Sincera” foi gravado pelo Renato Teixeira e Sérgio Reis, música autenticamente regional brasileira – o que eu gosto de verdade.

Claro que o disco foi posto de imediato e passei a ver e ouvir as músicas de raiz. Para mim hinos que nos mostram o que é a verdadeira música caipira.

O melhor momento foi ter ficado, por um tempo, sozinho na sala. A saída da Rita para fazer a Hanna dar uma andada lá fora, para o 1 e o 2, a Naty tomando banho e a Camila no quarto, foi na hora certa.

Melhor momento? Sim, porque ver Filho Adotivo, a história de um paizão, e até como foi, com a participação do filho do Sérgio Reis saindo do auditório de microfone na mão e cantando, fazendo as vezes do filho adotivo, foi a gota d’água.

Uma ou duas lágrimas puderam rolar pela minha face sem que ninguém visse – assim não paguei um pequeno mico [rsss]. Emocionado sim, por tudo o que passei e passo na vida - aí tomo o direito de reservar isso aqui dentro de mim, mas digo que ser pai é bom demais.

Por quê? Sei lá, esta música sempre mexeu comigo. Trata da história de um pai que ama incondicionalmente todos os sete filhos, de seu sangue, seis, e um que pegou com menos de um mês.

De algo tenho certeza em minha vida: amar e ser amado pelas minhas três mulheres. Brigamos, discutimos e outras mazelas mais, mas fica a certeza de que nos amamos acima de tudo isso.

Cada uma delas é um presente que Deus me deu para formar uma família, a minha família, da qual me orgulho.

O que este DVD fez foi avivar um sentimento muito legal. Recuperar algo muito, muito bom mesmo.

E tudo isso é só para dizer: Obrigado jovens, por mexerem comigo desta maneira.

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

O Mundo de cabeça para baixo

AvessasFred nasceu em uma noite quente de primavera. Não chorou, como normalmente fazem os bebês; apenas resmungou, mamou e dormiu aninhado no colo da mãe.

E assim levava sua vidinha de nenê mimado pela mãe sempre atenta.

Era ele se mexer e lá estava ela de prontidão, abraçando-o junto ao corpo como que para protegê-lo.

Mas Fred não era um bebê qualquer. Desde cedo mostrara-se bastante observador.

Curtia a mãe, o pai, a família cheia de primos. Reconhecia cada um deles embora ainda tivesse algum problema de comunicação, afinal, era uma época de aprendizado, o que incluía a comunicação.

Como observador ávido a aprender o máximo, Fred analisava, dentro de sua cabecinha, tudo o que via e era evidente que aconteciam coisas estranhas.

O mais estranho, para ele, era também o mais intrigante: quase todos de cabeça para baixo.

Os pais nunca comentavam nada e isso atiçava ainda mais a curiosidade de Fred que acreditava ter algum problema de visão. “Sei lá, será que meus globos oculares são invertidos?” pensava o jovem com seus botões.

Como podiam viver de ponta cabeça? O sangue não invadia o cérebro deles? Não dava para se equilibrar daquele jeito. Meninos jogando bola às avessas? Como conseguiam?

Sim, havia várias perguntas e o pequeno Fred, sem respostas, era um mar de dúvidas e, ainda pequeno, não tinha como perguntar à sua mãe.

“Um dia saberei como falar com a mamãe e ela vai saber explicar tudinho” – pensava Fred.

Todos pareciam artistas saídos daquele circo maluco em que a mãe o levara certa vez.

A mãe, ensinando-lhe tudo o que podia, sempre dizia que a natureza era assim mesmo, às vezes meio esquisita, mas perfeita.

Como assim? Esquisita e perfeita?

A vida de um bebezinho curioso era mesmo sofrida. Que ânsia de aprender e haja paciência para esperar.

Fred não via a hora de ser independente e sair pelo mundão afora, ver tudo e, finalmente compreender.

As árvores cresciam para baixo e era impossível ser normal, muito menos, perfeito.

Não podia ser. Fred tinha de saber como tudo funcionava e o por quê de todos viverem de cabeça para baixo. Se a Natureza era perfeita - a mãe nunca mentia - o problema estava nele.

Angustiado, Fred tentava de toda maneira dizer à mãe o que se passava, o que via e sentia, mas não conseguia - era ainda muito pequeno.

Aquele nenê, esperto demais para a idade, sofria cada vez mais com aquela situação impossível de ser compreendida. Fred não via a hora de crescer, poder comunicar-se à vontade e, finalmente, compreender toda aquela bagunça.

Se fosse aquela questão do globo ocular virado alguém daria um jeito. Com certeza haveria algum doutor especializado no assunto e iria salvá-lo daquela situação incômoda.

Como a espera seria longa, Fred tinha de continuar vivendo e driblando as dúvidas que não conseguia, sozinho, compreender e dar-lhes um fim.

Assim, o pequeno fazia seu dia a dia transcorrer, distraindo-se ora com a mãe, ora com o pai ou com os primos ou com qualquer brinquedinho que lhe caía nas mãos.

Fred tinha apenas uma certeza: melhor mesmo viver em um mundo normal, com a família ao seu lado, tentando deixar aquele mundo exterior de cabeça para baixo não lhe esquentar os miolos.

Ah... - pensava Fred -... nada como ser morcego e viver normalmente.

sábado, 22 de setembro de 2012

Contos Twitteranos [11]

Contos TwitteranosContos que, como no Twitter, devem conter
um máximo de 140 toques.
O mais legal é fazer com que fiquem
com exatos 140 toques.

201) Pegaram o ladrão (140 toques)
A noite estava calma. De repente um alarme na garagem. Sem chamar a polícia, todos desceram e pegaram o invasor. O ladrão nunca mais voltou.

202) Vaqueiro (140 toques)
Seu sonho era conduzir a boiada, tocar o berrante, galopar pelas planícies. Um sonho impossível. Tinha pavor de cavalos e alergia a esterco.

203) Porco (140 toques)
No bar, ia conhecer o noivo da amiga. Chegando, foi ao banheiro. Um homem saía sem lavar as mãos. Porco! Retornou à mesa e viu: era o noivo.

204) A gafe (140 toques)
No elevador ele devorava o decote da moça. Desceu e entrou no escritório descrevendo a cena. Não a viu atrás, entrando para buscar o marido.

205) O homofóbico (140 toques)
100% homofóbico. Não aceitava qualquer atitude gay. Emprego novo, foi com a mulher jantar na casa do patrão. Jantar preparado pelo namorado.

206) Parto (140 toques)
Sonho dela era ter vários filhos. O primeiro nasceu aos cuidados de uma parteira na fazenda em que passava férias. Bastou! Primeiro e único.

207) Playboy (140 toques)
O pai montou um império. Vida de playboy intensa. Não economizava. O pai morreu e ele teve de tomar a frente do império desconhecido. Faliu!

208) O gordo (140 toques)
Era um gordo feliz. Comia de tudo, toda hora. Os amigos pediam que maneirasse. Poderia morrer. Ele? Ria dizendo que não carregaria o caixão.

209) Carros (140 toques)
De pais pobres, morando na favela, ele tinha um BMW e um Jaguar. Juntava dinheiro para um Porsche. Chegou o dia: - Mãe, comprei a miniatura.

210) Na pele do lobo (140 toques)
Muito curioso e maluco, experimentava de tudo. Comeu uma feijoada, tomou óleo de rícino e tampou com uma cenoura. Seria essa a dor do parto?

211) Nerd (140 toques)
O nerd no campo: - Deitarei na sombra dessa árvore, uma fruta cairá na minha cabeça e terei uma grande ideia! Não viu que era um pé de jaca.

211) Boa vida (140 toques)
Malandro igual não tinha. Vivia pulando de galho em galho; comia todas que davam sopa. Árvores e frutas. Tinha mesmo uma boa vida, o macaco.

212) Consolando (140 toques)
Velório e enterro. Fim. Levou a viúva para casa, para consolá-la. Choro, tristeza e o abraço fraternal esquentou. “Consolou-a” até de manhã.

213) Bola fora (140 toques)
Convidado para um chorinho e uma carne assada. Foi com os amigos, queria diversão. Decepção! Era o choro da viúva e o defunto no crematório.

214) Gira mundo (140 toques)
A vida dava muitas voltas. O mundo todo girava. Enfim, tudo rodopiava à sua volta. Tontura? Labirintite? Não, estava era muito bêbado mesmo.

215) Cruzeiro (140 toques)
O sonho era um cruzeiro de uma semana. Finalmente embarcou, e no melhor dos navios. Gatas a bordo. Enjoou. Uma semana vomitando no camarote.

215) Cabeça para baixo (140 toques)
Via o mundo de ponta cabeça. Tudo, todos estavam de cabeça para baixo. Não entendia como conseguiam tal façanha. Era mais fácil ser morcego.

216) Simplicidade (140 toques)
Felicidade para ele era ser simples. Tinha uma vida tranquila, não precisava de mais nada. Até que ganhou na mega-sena. Fim da simplicidade.

217) Dentes (140 toques)
Família de dentistas. Dentes bem tratados e perfeitos. Foram a um seminário odontológico. Não chegaram - quebrou a correia dentada do carro.

218) Remando (140 toques)
Pescaria de barco a remo. Desceram o rio pegando peixes aqui e ali. Cansados, resolveram voltar. Como remar aquilo tudo contra a correnteza?

219) Mudança (140 toques)
Pobres, moravam embaixo de um viaduto. Um dia a sorte apareceu, saíram de lá e agora tinham água corrente. Foram para de baixo de uma ponte.

220) Amazona (140 toques)
Ela, a cavalo, dava saltos sobre obstáculos, exibindo-se para os garotos. De repente o cavalo estancou e ela voou. Pulou sozinha. Mico puro.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Contato com os mortos

RIP

Marcelo levava uma vida normal.

Do alto de seus 18 anos, tudo era festa. Gostava de viver a vida como ela se apresentasse, não importando se era o lado bom ou o ruim - lados que se alternavam e ambos curtidos.

Não tinha experiência, mas aprendera cedo que tudo na vida tinha um sentido e era bom sempre estar agradecido.

Chorar pra quê? Isto só faria chorar mais.

A única coisa que atormentava um pouco era um primo meio distante que se dizia médium.

Este primo, diziam, tinha contato com o mundo dos espíritos. Que via, sentia e conversava com pessoas mortas.

Marcelo não sabia o por quê, mas não gostava do assunto. Algo naquilo o incomodava.

Distanciava-se disso procurando esquecer e, assim, vivia a vida com tranquilidade.

Até que, a partir de um certo dia, Marcelo começou a ver gente morta.

Interessante é que aquilo não o incomodava, pelo contrário, agia normalmente.

Via todo tipo de pessoas, de manhã ou à tarde, não havia hora. Só à noite é que via muito de vez em quando.

O primo, ao saber, quis todos os detalhes. Como acontecera? Como acontecia? Ele os chamava? Vinham a esmo?

A curiosidade excessiva do primo chamou a atenção de Marcelo que, desconfiado, começou a interrogá-lo e descobriu que o primo era uma farsa.

Não via nada, não fazia contato algum. Era tudo invenção para impressionar.

Com Marcelo era diferente. Ele realmente via. Não havia qualquer farsa naquilo.

Contra as invencionices do primo, que sempre o incomodaram, achou por bem não comentar nada. Deixou a primo a ver navios em vez de mortos. Doravante, o primo que se incomodasse.

O primo pediu-lhe, pediu não, implorou segredo. Que não fosse denunciado. Marcelo consentiu, mas não abriria o jogo.

- Talvez um dia, quem sabe? Disse-lhe Marcelo.

A partir daí, visualizando a possibilidade de saber como tudo acontecia, o primo não lhe deu mais sossego.

- Viu hoje? Perguntava ansioso. – Quantos? Como foi?

- Hoje vi uns três e foi como sempre, normal. Respondia Marcelo, sem dar mais detalhes.

O primo não cabia em si. Tinha que saber como era, assim poderia dar mais veracidade às suas falas, às suas criações fantasiosas acerca do contato com o mundo dos mortos.

Marcelo deixava o primo contorcendo-se em curiosidade, algo que o aprazia.

Passado um tempo, Marcelo começou a ficar com pena do primo e o chamou para uma conversa.

- Sabe, César, eu realmente vejo pessoas mortas, praticamente todos os dias, e isso começou exatamente no dia 2 de junho de 2012, depois que tomei uma decisão, mesmo sabendo que isso ia acontecer. Começou Marcelo.

- Então você vê todas essas pessoas mortas por que quer? Como conseguiu isso? Preciso mesmo saber. Adiantou-se César, o primo curioso.

- Não foi nada demais. Como lhe disse, passei a ver pessoas mortas a partir do dia 2 de junho.

- Mas, como assim? Este dia específico tem algo a ver?

- Tem tudo a ver. Foi quando comecei a trabalhar no IML.

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

“TerraKai - Os Haikais da Terra”

Haikai

Os Haikais abaixo formam uma poesia sobre o nosso
planeta, com a qual participei de um concurso da
Academia Vicentina de Letras, Artes e Ofícios.

Claro que o iniciante aqui, bem cara de pau, não
ganhou nada, nem poderia – quem mandou competir
com quem
tem bagagem de verdade?

Mas, como lembrava o criador das olimpíadas modernas, o Barão de Coubertin, o importante é competir. rrsss

Chora a Terra
Vem chorar pelo Homem
Que a enterra

O Homem não pensa
Beleza? Natureza?
O lucro compensa

Mata a mata
Destrói o que se constrói
Alma ingrata

Árvores ao chão
Animal foge do mal
Pássaros se vão

Há de perceber
Cuidar e a vida ganhar
Para não morrer

Façamos a guerra
Do pior para o melhor
Salvemos a Terra

Flores nascerão
Ar puro a respirar
Bons tempos virão

Chora a Terra
Sem dor, mas com o amor
Que a encerra

Paraíso já
Humano não insano
Canta o sabiá

Vencida a dor
Festeja a natureza
Um mundo em flor

 

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Contos Twitteranos [10]

Contos Twitteranos

Contos que, como no Twitter, devem conter
um máximo de 140 toques.
O mais legal é fazer com que fiquem
com exatos 140 toques.

181) Quem corneia, corneado é (140 toques)
Pegava todas. Nenhuma lhe escapava. Achava-se o tal corneando a esposa que “de nada sabia”. Um dia chega em casa e pega o Mário no armário.

182) Um banheiro! (140 toques)
Chegou em casa apertado. Embicou o carro na garagem, desceu correndo e destravou o portão. Entrou no carro e... crás! Faltou abrir o portão.

183) Fé é acreditar (140 toques)
Escalada noturna. Caiu e ficou pendurado. Pediu ajuda a Deus. -“Corte a corda”, ouviu. Nunca! Pensou. Raiou o dia e ele morto a 1m do chão.

184) O cão e a ladra (140 toques)
Enquanto o cão ladra, a ladra tenta invadir, mas, noite adentro, o barulho preocupa. Invadir ou não invadir? Eis a questão. Cala a boca cão!

185) Acordando cedo (140 toques)
De 2ª a 6ª era duro acordar o filhão. Jogavam até água gelada para não perder a hora. Sábado, manhã, 5h30: - Pai! Mãe! Tô saindo pra surfar!

186) Bungee jump (140 toques)
Bungee jump. Tinha medo mas queria. Foi! Um cara descia vaiado. Subiu, olhou, sentiu o medo a vencer. Cerrou os olhos e... pediu pra descer.

187) Real e virtual (140 toques)
Quando criança brincava na fazenda real com amigos reais. Hoje, um adulto, brinca na fazenda virtual com amigos virtuais. Que mundão é esse?

188) Insônia (140 toques)

Dormiu no sofá, em frente à TV. Sonolento, levantou-se e foi para a cama. Rolou e rolou e nada de dormir. Só adormeceu depois que amanheceu.

189) Pôker (140 toques)
Todas as chances eram contra ele. No pôker, não tinha a experiência dos adversários. Mas havia a sorte dos principiantes. Saiu duro. Perdeu!

190) Distração (140 toques)
Queria dormir cedo para acordar cedo e não se atrasar. Distraiu-se com o trétis, dormiu tarde. Perdeu a hora. Maldito celular com joguinhos.

191) História de pescador (140 toques)
Foi pescar. Deu a maior sorte. Nunca pegara tanto peixe. E grandes. Na volta, foi assaltado e levaram tudo. Quem acreditaria nessa história?

192) A sogra (140 toques)
Adorava a sogra. Curtia muito aquela boa e velha senhora. Era invejado. Tudo mudou quando ela veio do Pará para morar com o casal em Santos.

193) Bebida [1] (140 toques)
Ia às festas e bebia todas. – E a festa? – Bebi todas, dizia. Um dia não pôde beber por causa de uns exames. Viu que a festa foi bem melhor.

194) Bebida [2] (140 toques)
Carnaval. Alegria. Saiu dizendo que iria rasgar a fantasia, acabar-se. Bebeu muito e enfiou o carro em um muro. Acabou foi o saldo bancário.

195) Não sou! (140 toques)
Os amigos o convenceram. E o grupo foi “tirar uma onda” no baile gay. Uma foto no jornal. Os dias no escritório nunca mais foram os mesmos.

196) Quase afogado (140 toques)
Não sabia nadar. Caiu no lago. Entrou em desespero: Socorro! Todos olhavam e riam. Levanta! Alguém gritou. Meio metro de profundidade. Mico!

197) Namoro (140 toques)
A namorada chegou, desmanchou, ele chorou, a luz apagou, o mundo acabou. A Regininha ele conheceu, reviveu, a luz acendeu, o mundo renasceu.

198) Mochileiro (140 toques)
De mochila, embarcou sem dinheiro. Queria ser mochileiro pela Europa. Passou perrengue e alegrias. No final, valeu a pena ver o velho mundo.

199) Asa-Delta (140 toques)
Tinha muito medo, mas queria mesmo fazer um voo duplo de asa-delta. Reuniu coragem e pulou. Borrou-se todo! Devia ter ido ao banheiro antes.

200) Vaidade pro brejo (140 toques)
Vaidoso, vestia-se bem. Mas, em sua primeira reunião informal na casa do presidente da empresa, não reparou que a calça nova estava rasgada.

sábado, 7 de julho de 2012

Amor à primeira vista

Aliança partidaEncontraram-se em um bar. Os dois haviam acabado de fazer 18 anos e, em plena “pré-adultice”, viram-se, olhos nos olhos, amor à primeira vista.

No dia seguinte falaram-se por telefone durante mais de duas horas. Entendiam-se como se um conhecesse o outro há vários anos.

Marcaram um encontro, outro, outro e outro. Acabaram por estar juntos praticamente todos os dias, não importava a hora.

Era perfeito. Um completava o outro e aquela felicidade total de quando estavam juntos irradiava-se por todos os lados.

Nem com as sogras havia problema, pois os dois curtiam, cada um a sua e eram amados como se filhos fossem.

Passaram os anos e o amor cada vez mais enraizado. Claro que havia problemas, uma briguinha aqui e ali, ou uma discussão perdida no dia a dia, mas até esses dissabores eram legais, pois sempre terminavam em conciliação, o que era ótimo.

A paixão de cada lado era inequívoca. Não havia lugar para o ciúme já que a confiança era total e um não sabia viver sem o outro.

Com a idade amadurecendo, veio a conclusão mais que óbvia para qualquer casal que se ama, namora há tanto tempo e quer terminar seus dias embalado no colo um do outro: casamento.

Nada de pressa. Marcaram a data do noivado, o que aconteceu no mesmo bar em que se conheceram. A cerimônia ocorreu da melhor forma possível, com a presença de vários amigos, dos pais e oficiada pelo Zé Marco, o amigo que os apresentara oito anos atrás.

Aliança no quarto dedo de cada um, como manda a tradição e crendo na lenda chinesa, as idéias começaram a brotar de forma mais madura. Casamento era mesmo algo muito sério e deveria ser tratado com toda a pompa.

Ambos eram só felicidade.

Como Adalberto já morava sozinho, em um apartamento confortável e espaçoso para as crianças que viriam, optaram por morar lá mesmo, apenas adaptando-o para receber os nubentes depois do tão aguardado “sim”.

Móveis novos - do gosto dos dois -, cama king size na suíte principal, a que seria o ninho de amor do casal; sala aconchegante; cozinha toda equipada... tudo do melhor para acolher a família mais feliz do mundo.

Os dias iam passando, a data chegando e o tempo cada vez mais exíguo. Não sobrava muito para o que ainda estava por fazer, mas eles corriam e tudo ia bem.

Faltando menos de duas semanas para o grande evento, um problema inesperado atingiu os dois como uma bomba.

A briga foi feia e tudo estava por desmoronar.

Os amigos, sem saber do que se tratava, tentaram interceder... nada.

Os irmãos, também desconhecendo as razões, vieram na esperança de fazerem os dois cederem... nada.

Os pais, que também não faziam ideia do que havia acontecido, chamaram os dois para uma conversa franca... nada

As esperanças estavam perdidas. Ambos, com a cabeça mais dura que rocha, não queriam abrir mão daquele sentimento e continuavam a se estranhar.

Ninguém tinha certeza do que estava havendo. Apenas especulações e uma impotência absurda por não poder ajudar ou entender o que ocorria.

Todo o amor dos anos passados foi embora e tudo por causa de uma briga que somente eles sabiam e não queriam, por melindre talvez, contar a quem quer que fosse.

Nove anos de namoro e... Fim!

Terminaram o relacionamento às vésperas do casamento e cada um foi para o seu lado.

Eles entendiam que não dava para começar uma vida de casados quando um não queria abrir mão de um desejo para que o outro se sentisse feliz justamente na data máxima: o dia do casamento.

O motivo? Eles queriam a mesma coisa e não chegaram a um acordo e, por isso, terminou a história de amor entre Adalberto e Inácio... os dois queriam ser a noiva.

sexta-feira, 29 de junho de 2012

Contos Twitteranos [9]

Contos Twitteranos
Contos que, como no Twitter, devem conter
um máximo de 140 toques.
O mais legal é fazer com que fiquem
com exatos 140 toques.

161) Que festa? (140 toques)
Na festa, bebeu todas. No dia seguinte vangloriava-se de ter bebido todas. Perguntaram sobre a festa. Quê? Nem viu a festa, mas bebeu todas.

162) Que dia é hoje? (140 toques)
Vida simples no interior. Nas férias, brincava todos os dias, sem noção do tempo. Só sabia que era domingo porque tinha macarrão com frango.

163) Sou marinheiro (140 toques)
Queria ser marinheiro. Ver o horizonte infinito atrás das ondas. Os portos se aproximando. Conseguiu! Mas foi trabalhar na sala de máquinas.

164) Feijoada (140 toques)
Sábado almoçou rápido com a família. Tinha de sair para pedi-la em namoro. Saiu apressado e se esqueceu de escovar os dentes. Maldita couve.

165) Jogo 0 X 1 Visita (140 toques)
Sábado à tarde quis jogar futebol. Insistiu com a mulher que preferia visitar um casal amigo. Brigou, reclamou, bateu o pé. No fim, visitou.

166) Ledo engano (140 toques)
Acordou assustado. Eram 8h25 e estava atrasadão. A reunião no escritório era às 9h00. Saiu apavorado. Ruas vazias. Era domingo, não segunda.

167) Contos para o Twitter (140 toques)
Tentava escrever um conto com 140 toques. Estava com148. Alterou, baixou para 138. Mudou de novo, 142. É, foi difícil, mas conseguiu os 140.

168) Fuga atrapalhada (140 toques)
Madrugada, fugira da cadeia. Ia pela via escura. Viu os faróis de um carro. De arma em punho deu um pulo e o parou. Era uma viatura da Rota.

169) Saco cheio (140 toques)
Já estava com o saco cheio. Cheio, grande e vermelho. Houve quem chorasse quando o viu. Mas, na maioria, as crianças abraçaram o Papai Noel.

170) Uivando para a Lua (140 toques)
Passou a noite na mata uivando para a lua cheia. Amanheceu e veio o eterno dilema: Quede as roupas? Praga: ser lobisomem e amanhecer pelado.

171) Gato nada malandro (140 toques)
Bonachão e preguiçoso em casa. Na rua era outro, subia e andava pelos muros, corria, saltava independente. Um dia subiu na árvore. Bombeiro!

172)Fim inglório (140 toques)
Diariamente ele gritava as manchetes vendendo o jornal. Mas, vem a notícia de uma bala perdida no bairro. O menino nunca mais vendeu jornal.

173)Motoqueiro (140 toques)
Vento no rosto. Pura liberdade. Na estrada imprimia velocidade sem se lembrar dos conselhos da mãe. Caiu e caiu na real: Moto, só com juízo.

174)Quem casa quer casa (140 toques)
Ela vivia feliz e sempre sorridente. Conheceu Victor e tudo melhorou. Eram um casal feliz. Casaram-se e tudo mudou: foram morar com a sogra.

175)Mortoqueiro (140 toques)
Queria bater o recorde. Subir a Anchieta em 10 minutos. Com a moto possante costuraria o trânsito, ultrapassaria pelo corredor. Não chegou.

176) Jamais desistia (140 toques)
Era uma enorme inspiração. Jamais desistia, conseguia. Braço e perna ausentes não faziam falta. Dava um jeito. Fã do MMA, montou o PARA-MMA.

177) Não colou porque colou (140 toques)
Na faculdade só se preocupava com o social. Colava em todas as provas. Passou os anos assim. Ficou - não pôde colar o que precisava: o grau.

178) Busão cheio (140 toques)
Ônibus super cheio. A cada ponto, mais gente. Desesperou-se e quis descer. Gritou e empurrou. Desistiu ao notar que não pisava mais no chão.

179) Noras (140 toques)
Como filho da nora do avô era casado com a nora da mãe. Poderia dizer que a nora do pai era casada com o irmão dele, mas ele não tinha nora.

180) Dia da caça (140 toques)
Caçando na savana africana, mirou o leão já imaginando aquela pele em sua sala. Preocupado só com a mira não viu a leoa atrás. Virou comida.

sábado, 2 de junho de 2012

O garanhão do interior

clip_image002

Jorge era um bom filho, um bom rapaz mas... mulherengo, paquerador e, se houvesse o menor vacilo que fosse, elas não escapavam da rede daquele jovem sedutor.

Morava em Araçatuba com os pais e algumas irmãs, mas sempre dava um jeito de escapar para suas aventuras noturnas, quando, como ele mesmo dizia, o lobo ia à caça dos chapeuzinhos vermelhos.

Em seus 20 anos de idade, para Jorge, a vida era a ideal e não poderia ser melhor. Tinha vários amigos, entre eles alguns que até o invejavam pelo seu poder de conquista e outros que tinham muito interesse em aprender com aquele professor senhor de si, um pouco presunçoso mas muito amigo.

Em todos os encontros, lá estava ele narrando a última conquista, sem o menor pudor, considerando a menina apenas como um objeto de suas satisfações de macho. E os amigos sempre prestando a maior atenção, querendo mais detalhes.

Se aparecia uma jovem vinda de outra cidade era considerada, de imediato, carne nova no pedaço e tinha de ser conquistada.

Os homens saíam em uma corrida maluca para ver quem primeiro ficaria com a moça e, invariavelmente, Jorge ganhava. Não tinha como competir com aquele sujeito que de caipira matuto não tinha nada.

Até que um dia aparece Paula, uma morena de corpo escultural, vinda de Santos para passar um tempo em Araçatuba.

Ela fazia veterinária e passaria algumas semanas visitando as fazendas de búfalo da região.

Nem é preciso dizer que Jorge e os amigos ficaram alvoroçados com aquela presença feminina: alta, corpo esguio, cabelos lisos quase chegando à cintura, olhos verdes, pele morena queimada do sol e gestos delicados. Um sonho.

O primeiro passo foi irem à Pensão Icaraí na qual ela estava hospedada. Tinham de conhecer o roteiro da moça, aonde iria, aonde almoçaria, o que faria à noite, sobre o jantar, a que horas ela dormia. Tudo era interessante para traçar o melhor plano para que aquela joia fosse conquistada.

E o cerco teve início.

Lugar comum - Jorge saiu na frente. Por “pura coincidência” ele foi almoçar justamente no restaurante em que ela estava almoçando. E na mesma hora!

Jorge passou distraído pela mesa dela e, neste exato momento, torceu o pé e desabou no chão. Ela, com os instintos de cura e preocupação com a saúde, inerentes ao curso que frequentava - mesmo que fosse um animal racional e não um irracional - levantou-se rápido para socorrê-lo.

Pronto. A isca estava lançada.

O “coitado” do Jorge, sem poder andar direito por causa da torção no pé, foi “obrigado” a sentar-se na cadeira mais próxima e que ficava, “por mera coincidência”, junto à mesa em que aquela deusa de outro mundo estava ocupando.

Com a lábia de profissional que tinha, o resto foi fácil e em poucos minutos estavam almoçando juntos e conversando como velhos amigos. Conclusão: combinaram de se ver à noite para encontrarem-se com a turma e ela conhecer a noite araçatubense.

Na hora marcada, Jorge foi buscá-la na pensão e chegaram no barzinho em que a turma estava esperando. Jorge, com o ego inflado apresenta-a ao pessoal, aparentemente como a Paula mas, no íntimo, como um troféu conquistado.

A noite foi gostosa, com muita conversa jogada fora, cervejas e beliscos. Ao final, claro, Jorge a levou de volta.

Lá foram os dois, sempre vigiados pelos olhos atentos e pelas mentes imaginosas dos amigos. Cada um tentando adivinhar como seria o resto da noite e loucos para encontrarem Jorge no dia seguinte. Tinham de saber os detalhes

No dia seguinte, a decepção. Não acontecera absolutamente nada.

- Ela é muito recatada, meio tímida. De família mesmo. Pelo que vi, não vai ser fácil. Disse um Jorge lamentoso. - Mas, não desisti!

Os dias foram passando, um almoço aqui, um encontro ali e... nada. A moça continuava irredutível em suas convicções.

Na véspera de ela ir embora, Jorge lançou sua última cartada.

Os pais e as irmãs tinham ido a Lins, em casa de uns tios, e Jorge tinha toda a casa à sua disposição.

Lançou o convite com a maior cara de inocente e, para surpresa, ela disse:

- Tem certeza de que não vai haver ninguém lá? Só nós dois?

A isca fora mordida e a presa estava à mercê do Don Juan. Marcaram o horário em que ele ia buscá-la.

Jorge não teve dúvidas, ligou para os amigos como quem tivesse ganho o premio maior na mega sena. Alardeou dizendo-se mesmo invencível e que no dia seguinte narraria tudo com todos os detalhes - mas eles iam pagar o churrasco na Gaita Velha, uma das melhores churrascarias da cidade. Seria um dia de festa.

Depois de mais de duas semanas, ele estava ansioso. Quando ela entrou no carro, beijaram-se como dois apaixonados, e, pelo caminho todo, foram trocando carícias. Jorge estava louco de desejo.

Chegaram a casa e, enquanto ela se sentava no sofá, Jorge foi pegar um 12 anos que guardava escondido no quarto.

Copo de cristal, gelo, whisky, uma boa música aquela mulher do outro mundo. Tudo perfeito.

Lançou-se sobre ela e deram “um grande amasso” no sofá. Ao se levantarem para irem ao quarto ela lhe pede um instante. Tinha de ir ao banheiro, coisa rápida.

Entrou e fechou a porta atrás de si.

Jorge, imaginando como seria a noite e como seria o sucesso que ia fazer com os amigos lá na churrascaria, não se conteve. Deu uma olhada pelo buraco da fechadura para espiar sua deusa.

Parou estático com a cena que viu, não conseguia imaginar como ia contar aos amigos que ela fazia xixi em pé!

- Filho da mãe!

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Banco de jardim


Chuva ou Sol lá está ele
Namorados vêm,
Abraçam-se
Mendigos vêm,
Adormecem


Sempre lá, às ordens
Velhas senhoras?
Tricotam
Velhos senhores?
Às moças olham


De lá não sai
Crianças correm
Trepam, pulam
Crianças?
Brincam


Estático!
Mães chegam
Descansam
Solitários?
Observam


Todos têm um por quê
Só ele não
Não é problema
Afinal não precisa
Ele é a razão

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Contos Twitteranos [8]


Contos Twitteranos
Contos que, como no Twitter, devem conter
um máximo de 140 toques.
O mais legal é fazer com que fiquem
com exatos 140 toques.

141) O ídolo (140 toques)
Os fãs queriam vê-lo. Em respeito, saiu do carro, abraçou todos, tirou fotos etc. Enquanto isso o verdadeiro saía pelos fundos. Santo sósia.

142) Preguiça (140 toques)
No domingo recusou-se a acordar cedo. Enrolou na cama o quanto pôde. Achou que já era demais e levantou. Ninguém à vista. Haviam ido dormir.

143) Férias (140 toques)
Férias! Estava chegando o dia. Sentia-se livre para não fazer nada. Iria viajar, aproveitar e gastar os tubos. Chute na bunda. Desempregado!

144) Voto secreto (140 toques)
Foi feliz visitar o Congresso. Queria saber como votava o candidato eleito. Deu azar. Corporativismo para salvar um colega, votação secreta.

145) O dia caça (140 toques)
Foi caçar passarinhos. Pegou vários, de diversas espécies. Voltou com oito gaiolas bem cheias. Flagrado pelo IBAMA, só ele ficou engaiolado.

146) Lei de Murphy (140 toques)
Tropeçou ao levantar da cama. Bateu a cabeça na porta do armário. O chuveiro estava queimado. Saiu com raiva de casa, atrasado. Pneu furado.

147) Porta trancada (140 toques)
Chegou cansado. Deixou o carro na garagem e subiu os cinco lances de escada com as malas. Chegou à porta e... a chave ficara no porta-luvas.

147) Jogo na madrugada (140 toques)
Acordou às quatro da manhã para ver o vôlei. O jogo decisivo empatara em dois sets. Acontecia o quinto set. O placar mostrava 19X18. Dormiu.

148) Vida fácil (140 toques)
Mulher de vida fácil. Dormia pouco. Noite e dia, não havia sábado, domingo ou feriados. Não podia escolher, aguentava. Mulher de vida fácil?

149) Batizado (140 toques)
Primeiro afilhado. Acordou tarde para batizá-lo. Arrumou-se, pressionou a mulher e voaram para a igreja. Não acharam ninguém. Igreja errada.

150) Banho de piscina (140 toques)
Depois de um dia estressante e muito quente, só queria ir para casa e tomar um bom banho de piscina. Não poderia. Não tinha piscina em casa.

151) Um corpo estendido no chão (140 toques)
O sol acabara de sair e ele já em pé. Descendo para a garagem coletiva deparou com um corpo estendido no chão. Como? Quem matou a lagartixa?

152) Carrão importado (140 toques)
Acelerou o carrão importado esbanjando esnobação certo de que todos o olhavam com inveja. Parou no meio do "show", sem gasolina. Riso geral.

153) Jantar em família (140 toques)
Jantava feliz ao chegarem alguns parentes. Dividiu. Chegaram outros, famintos. Ele cansou: - Chega! Uma barata só não dá para 20 lagartixas.

154) Nervoso (140 toques)
Acordou nervoso, vomitou. Não conseguia pensar em nada. Iria fazer a prova final para tentar não repetir o ano. Não era melhor ter estudado?

155) Nascituro (140 toques)
Naquele mundinho solitário era feliz. Não havia preocupações ou barulho. Um descanso. Era só alimentar-se e dormir. Ainda não havia nascido.

156) No volante (140 toques)
Rei do volante. Pegas? Vencia todos. Era abusado. Um dia, após dirigir por 12 horas, escutou a bronca: - Menino, desliga já esse vídeo-game!

157) O velório (140 toques)
Assistia ao próprio velório. Espírito persistente, não queria partir. Ouvia os choros, mas não ouvia o que queria: - Olhem! Está se mexendo!

158) Jogo perdido (140 toques)
Fugiu cedo do trabalho para ver o jogo. Pneu furado, trocou. Foi parado no comando. Atrasado, saiu apressado. Bateu o carro - perdeu o jogo.

159) Vil dinheirinho (140 toques)
Avaro, guardava todo dinheiro ganho. Só gastava sob muita pressão. Até que se tocou: de que adiantaria ser o defunto mais rico do cemitério?

160) Decisões (140 toques)
"Sei lá" era tudo o que dizia. Não se envolvia com nada. Deixava o tempo resolver. Não se formou não se casou. Não tinha opinião. Não viveu!