sábado, 16 de agosto de 2014

O manezinho e os gatos

Gatos

Manezinho, assim chamado por ter vindo de Florianópolis. Chegara àquela pequena cidade do interior paulista há alguns anos.

Vivia só, meio retraído, não era de muita conversa. Ajudava a todos, estava sempre pronto para isso, mas fazia o tipo calado.

Às vezes, no domingo, fazia um churrasco em casa, simplesmente pelo prazer de assar uma carne.

Invariavelmente eram ele e o Bob, o vira-lata que dividia a casa com ele e, acreditava-se, tomava conta do lugar. Quem conhecia o cachorro sabia que não era nada disso; um bicho simpaticão e pacato.

Nada de convidados nos churrascos.

O dia a dia dele era da casa para o pet shop - era o dono do único pet shop da cidade -, cinema seguido de pizza às quartas-feiras e, muito raramente, uma cerveja com alguns conhecidos.

Todo bichinho que aparecia abandonado em sua loja, o Manezinho recebia com todo o cuidado, tratava e saía à procura de alguém que pudesse adotá-lo.

Como ele gostava muito de gatos, estes não paravam muito na loja, os cachorros eram mais demorados pois, em casa, bastava-lhe o Bob.

Demorava, porém, cedo ou tarde, sempre aparecia alguém para levá-los. Difícil mesmo era conseguir adotar um gato - não ficavam muito tempo por lá e a razão era bem simples: a maioria ele levava para sua própria casa.

Um cara tranquilo que, depois de muito tempo e de forma bastante gradativa, passou a conviver melhor com os vizinhos.

Por ser sempre prestativo, e pela atenção que dispensava aos animais, ele conquistara o respeito dos moradores da pequena cidade, os quais acabaram por convencê-lo a terminar com aquela timidez e a derrubar o muro de Berlim que ele construíra, passando a viver a vida de uma maneira mais solta, mais alegre e participando da comunidade.

Manezinho,  considerado o super-herói dos animais, especialmente pelas crianças, foi tomando gosto pela nova vida.

Começou a ter vida social, a frequentar o clube local, ir a reuniões... já não se sentia mais tão só.

Sua vida passou a ser mais colorida e até a frequência na loja havia aumentado consideravelmente.

O pet shop passou a ser uma espécie de ponto de encontro. Quem não tinha o que fazer, aparecia por lá para jogar uma conversa fora. O que ficou vazio foi a barbearia do Seu João, ex-ponto de encontro.

Nunca mais comeu a pizza das quartas-feiras sozinho.

E a vida se desenrolava de forma diferente. Apenas sua paixão pelos gatos não mudara.

Qualquer bichano que desse entrada na loja tinha um tratamento especial . Principalmente as prenhas. Todos tinham de nascer saudáveis, grandes e gordinhos.

Este amor pelos bichos era o que mais chamava a atenção do povo.

Até o churrasco de domingo começou a receber algumas visitas

Em um desses domingos, o filho de Ernesto, o melhor amigo de Manezinho, inquiriu o anfitrião:

- Ô tio, eu achava que você tinha um monte de gatos aqui na sua casa.

- Por quê? Perguntou o Manezinho.

- Ora, o pai sempre fala que o senhor traz todos lá da loja.

- Ah sim, trago mesmo. Adoro gatos.

- Então, onde eles estão? Cadê eles?

- É o que eu lhe disse, adoro gatos. Eles são uma delícia!

terça-feira, 5 de agosto de 2014

Paz!

PazBom de briga é aquele que cai fora”.

Grandes e sábias palavras do compositor de Trem das Onze (um trem do Jaçanã que nunca saiu às 11 horas e sim por volta das 08h40min).

Adoniran Barbosa soltou essa frase já faz muito tempo, mas continua bastante atual - talvez até mais que antes.

O que vemos hoje em dia é de tamanha violência que realmente o melhor é deixar para lá, não importando o tamanho do oponente.

É muito fácil, principalmente nesse nosso trânsito louco, para qualquer um puxar uma arma, pelos motivos mais banais, e dar alguns tiros, com balas perdidas acertando até quem não tem nada a ver com o ocorrido.

Então, ser “macho” para quê? Já não bastam  todos esses assaltos acontecendo? Saidinhas de banco, sequestros relâmpago e tudo o mais?

Temos uma vida enorme pela frente e, antes de nos preocuparmos se vamos ser rotulados de covardes ou afins, vamos usar a cabeça, lembrando sempre que o raciocínio inteligente sobrepuja a violência ignorante.

Seja no trânsito, em um passeio, em um jogo... não importa, partir para a violência sempre acaba estragando a festa, interrompendo, no mínimo, a alegria e trazendo transtornos com alguns possíveis danos irrecuperáveis.

Temos de fazer valer a chamada cabeça fria em qualquer situação, crendo que se alguém está muito nervoso é porque talvez não esteja tendo um bom dia e, se nos enervarmos também, estaremos apenas alimentando um sentimento de ódio.

Assim, já que palavras acabam morrendo ao vento, vamos preferir que o “nervosinho” se extravase um pouco, ajudando a diminuir sua ira, a comprar uma briga.

Viver em paz, principalmente consigo mesmo, é bem melhor. Melhor até do que estar certo.