terça-feira, 30 de abril de 2013

Manifestação Espiritual

Aparição

Ilustração feita pelo Luiz Rafael da Caricômicos,

um parceiro indicado por este Blog.

Eles mantinham um Centro Espírita, um desses de mesa branca que só procuravam fazer o bem.

Viviam pelo certo e buscavam passar isso às filhas, incutindo nelas o desejo de fazer o certo não por haver leis divinas ou humanas que assim mandassem, mas simplesmente por ser o certo a fazer.

Odete, a mãe, dividia sua vida entre os afazeres domésticos e os atendimentos no Cento Espírita, local onde, com boa afluência de pessoas ávidas por um contato com entes queridos que já haviam partido, psicografava algumas cartas, bilhetes ou, às vezes, dizeres ininteligíveis.

Ela, até por esse contato com o plano espiritual sempre dizia que quando partisse faria de tudo para manifestar-se em algum momento. Assim poderia dar notícias e apaziguar a dor de suas amadas filhas e marido.

As filhas, pela criação, ainda eram virgens. Ambas, apesar dos namoros antigos, guardavam-se para o grande dia, para a primeira noite. A mais velha, já noiva, estava de casamento marcado.

Diziam todos que era uma família tradicional, ultraconservadora. Eram felizes em seu modo de ser, sempre preocupados em atender as pessoas e fazer o bem.

Eles tinham o “Dia da Família”. Toda quarta-feira, das 20 às 22 horas a televisão era desligada, e, ao som de algumas músicas suaves, acomodavam-se na sala de estar apenas para conversar entre eles.

Não era uma reunião, era apenas jogar conversa fora. Um papo entre amigos, o que os aproximava ainda mais. Às vezes o namorado e o noivo também participavam e, diga-se de passagem, curtiam muito aqueles momentos.

A vida foi passando e os dias acontecendo de forma natural até que a mãe caiu doente. Ninguém sabia o que ela tinha.

Foi uma via sacra por hospitais, médicos, ambulatórios e salas de emergência quando as crises aumentavam e ela definhando cada vez mais sem que alguém descobrisse a causa.

Uma manhã ela chamou o marido e as filhas e afirmou que estava pronta para partir.

Sentia que já havia vivido o suficiente para cumprir sua missão aqui na Terra e que todo aquele sofrimento era tão somente uma preparação para que ela, espiritualmente, compreendesse que a passagem era iminente e se aprontasse para ir.

Então, em vez de sofrerem, todos deveriam agradecer já que entendia a importância daquela preparação para evitar um desatino na hora da passagem do plano material para o espiritual.

Todos choravam à sua volta e ela, firme em seu propósito, lembrou que tudo deveria seguir seu rumo normalmente. A filha se casaria na data marcada e, tão logo reunisse condições para tal, manifestar-se-ia de alguma forma para dar notícias.

E assim foi. Em uma bonita tarde de sol ela se deitou para descansar e... descansou.

Em seu velório, feito no Centro Espírita, acorreram muito mais pessoas do que eles poderiam imaginar em seus mais promissores pensamentos.

Foi aí que notaram como ela era querida.

O pai chamou as filhas, abraçou-as dizendo:

- Hoje tenho certeza de que quando sua mãe nasceu, todos sorriam e só ela chorava e agora, todos choram e só ela sorri. Ela fez a vida valer a pena.

Em um cemitério lotado de pessoas e flores, muitas flores, o corpo dela foi guardado no túmulo da família, junto com os pais e um irmão mais velho.

Passado algum tempo, a vida se normalizara. Claro que dor e saudade faziam-se presentes no dia a dia da família, mas, lembrando das palavra da mãe, todos procuravam viver da melhor forma.

Palavras da mãe... e a manifestação prometida? Será que ela conseguiria aparecer, conversar conosco? Perguntavam-se.

- Talvez em uma de nossas quartas-feiras, disse, bem lembrando, a caçula.

Os dias passavam e nada acontecia. Toda quarta-feira era esperada com grande ansiedade e passava com um grande nó na garganta, um misto de desapontamento e dor.

Mas, como a vida seguia seu curso, o grande dia chegou. Casamento.

A cerimônia transcorreu perfeitamente, a recepção foi maravilhosa. Tudo acontecia de forma tão simples e perfeita que dava a impressão de que a mãe estava ali, tomando conta de tudo, como sempre.

Tudo acabado, a noiva, agora Sra. Oliveira, estava no banheiro do quarto do hotel arrumando-se sem parar de pensar no momento em que, finalmente, se entregaria ao noivo, que dizer, marido.

Seus devaneios pararam quando notou um frio que lhe fez arrepiar todos os pelos do corpo. Seria ansiedade pelo grande momento de, pela primeira vez, fazer amor em sua plenitute, algo há muito esperado?

Mas, sentindo uma presenta atrás de si, voltou-se, viu e não se conteve:

- Mamãe! Você conseguiu manifestar-se, posso vê-la perfeitamente!

- É mesmo filha?

- Sim mamãe, mas, poxa, tinha de ser justo agora, em minha noite de núpcias. Bem hora do enfim sós?

sábado, 27 de abril de 2013

Contos Twitteranos [17]

Contos Twitteranos

Contos que, como no Twitter, devem conter
um máximo de 140 toques.
O mais legal é fazer com que fiquem
com exatos 140 toques.

321) Vida após... (140 toques)
Na barriga da mamãe não tinha certeza se haveria vida após o parto. Nascido, a incerteza era a vida após a morte. Morreu. Agora só ele sabe.

322) Violência (140 toques)
Perseguição e tiros entre amigos de infância. Embora quase irmãos não havia trégua e a batalha era violenta. Só parou ao acabar o paintball.

323) Compras de Natal (140 toques)
Dizendo-se autossuficiente, foi comprar os presentes de Natal sozinho. Após três horas, de mãos vazias, liga para casa: - Benzinho? Socorro!

324) Amor sincero (140 toques)
Não importava como ele chegava a casa. Bêbado; sóbrio; cedo ou tarde, era sempre recebido pelo abanar da cauda do cãozinho. Amizade sincera.

325) Telemarketing (140 toques)
Era telemarketing ligando do dia todo pedindo algo. Quando um advogado ligou, nem quis saber, desligou na cara. Pena, era sobre uma herança.

326) Gratidão (140 toques)
Era grato por tudo o que ocorria, bom ou não. O mundo era colorido em volta dele. Não era sofredor, apenas sabia que ser feliz era o melhor.

327) No deserto (140 toques)
Perdido há três dias naquele deserto, achou várias pepitas de ouro com cerca de 200 gramas cada. Trocaria todas por um simples copo de água.

328) Jogos de azar (140 toques)
Entrou num cassino sentindo-se o Donald Trump. Jogou tudo crendo que ia ganhar. Saiu de bolsos vazios sentindo-se o mais idiota dos idiotas.

329) Mãe Dinah (140 toques)
Todos os dias ele brincava dizendo que ia falecer naquele dia. Certa manhã sentiram sua falta no emprego. Havia acertado a própria profecia.

330) Balada errada (140 toques)
Saiu da balada com aquele garotão que a conquistara. Foram ao motel. Lá ele colocou um DVD da Ana Carolina e fez xixi sentada. Queria sumir!

331) Caipirês (140 toques)
O sotaque dos primos do interior era motivo de zoação. Ele adorava perturbá-los. Até que foi para o interior e a zoação virou-se contra ele.

332) O valente (140 toques)
Subiu na montanha russa mais radical, gabando-se para as meninas que estavam com medo. No final não conseguia sair: havia borrado as calças.

333) Mega QI (140 toques)
Dono de um super QI, tinha problemas para conversar com as pessoas. Como era exigente, o contato era difícil. Acabou louco, falando sozinho.

334) O brigão (140 toques)
Não tinha paciência. Brigava com todos e bem fácil saía no braço. Argumento para ele era no tapa. Até que apanhou feio de um cara bem menor.

335) Paciência de Jó (140 toques)
Era muito calmo. Sobrava paciência por todos os lados. Vivia tranquilo, sem se exaltar com nada. Ao menos até ter de cuidar dos 2 sobrinhos.

336) Como reatar (140 toques)
Eles queriam reatar. Marcaram um encontro para conversar, mas os olhos dele não se desgrudavam da morena sentada à mesa ao lado. Impossível.

337) Paixonite (140 toques)
Embora criança ainda, todo ano era paixão por uma mulher diferente e sem poder declarar-se. Até quando iria aquela paixão pelas professoras?

338) Um contra 50 (140 toques)
Sozinho contra 50. Não tinha opção a não ser enfrentar e passar por aquilo. Procurou manter a calma e começou a responder as provas do ENEM.

339) Reinado (140 toques)
Passou um final de semana de Rei. O corpo até tomou os contornos do trono. Domingo à noite, com dor e cansado, pediu: -Mãe! Cadê o hipoglós?

340) Sisudez (140 toques)
Durante o dia era um advogado dos mais sérios. À noite lecionava Direito Penal. Mas, nas baladas dos sábados era Clero, a famosa Drag Queen.