segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Contato com os mortos

RIP

Marcelo levava uma vida normal.

Do alto de seus 18 anos, tudo era festa. Gostava de viver a vida como ela se apresentasse, não importando se era o lado bom ou o ruim - lados que se alternavam e ambos curtidos.

Não tinha experiência, mas aprendera cedo que tudo na vida tinha um sentido e era bom sempre estar agradecido.

Chorar pra quê? Isto só faria chorar mais.

A única coisa que atormentava um pouco era um primo meio distante que se dizia médium.

Este primo, diziam, tinha contato com o mundo dos espíritos. Que via, sentia e conversava com pessoas mortas.

Marcelo não sabia o por quê, mas não gostava do assunto. Algo naquilo o incomodava.

Distanciava-se disso procurando esquecer e, assim, vivia a vida com tranquilidade.

Até que, a partir de um certo dia, Marcelo começou a ver gente morta.

Interessante é que aquilo não o incomodava, pelo contrário, agia normalmente.

Via todo tipo de pessoas, de manhã ou à tarde, não havia hora. Só à noite é que via muito de vez em quando.

O primo, ao saber, quis todos os detalhes. Como acontecera? Como acontecia? Ele os chamava? Vinham a esmo?

A curiosidade excessiva do primo chamou a atenção de Marcelo que, desconfiado, começou a interrogá-lo e descobriu que o primo era uma farsa.

Não via nada, não fazia contato algum. Era tudo invenção para impressionar.

Com Marcelo era diferente. Ele realmente via. Não havia qualquer farsa naquilo.

Contra as invencionices do primo, que sempre o incomodaram, achou por bem não comentar nada. Deixou a primo a ver navios em vez de mortos. Doravante, o primo que se incomodasse.

O primo pediu-lhe, pediu não, implorou segredo. Que não fosse denunciado. Marcelo consentiu, mas não abriria o jogo.

- Talvez um dia, quem sabe? Disse-lhe Marcelo.

A partir daí, visualizando a possibilidade de saber como tudo acontecia, o primo não lhe deu mais sossego.

- Viu hoje? Perguntava ansioso. – Quantos? Como foi?

- Hoje vi uns três e foi como sempre, normal. Respondia Marcelo, sem dar mais detalhes.

O primo não cabia em si. Tinha que saber como era, assim poderia dar mais veracidade às suas falas, às suas criações fantasiosas acerca do contato com o mundo dos mortos.

Marcelo deixava o primo contorcendo-se em curiosidade, algo que o aprazia.

Passado um tempo, Marcelo começou a ficar com pena do primo e o chamou para uma conversa.

- Sabe, César, eu realmente vejo pessoas mortas, praticamente todos os dias, e isso começou exatamente no dia 2 de junho de 2012, depois que tomei uma decisão, mesmo sabendo que isso ia acontecer. Começou Marcelo.

- Então você vê todas essas pessoas mortas por que quer? Como conseguiu isso? Preciso mesmo saber. Adiantou-se César, o primo curioso.

- Não foi nada demais. Como lhe disse, passei a ver pessoas mortas a partir do dia 2 de junho.

- Mas, como assim? Este dia específico tem algo a ver?

- Tem tudo a ver. Foi quando comecei a trabalhar no IML.

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

“TerraKai - Os Haikais da Terra”

Haikai

Os Haikais abaixo formam uma poesia sobre o nosso
planeta, com a qual participei de um concurso da
Academia Vicentina de Letras, Artes e Ofícios.

Claro que o iniciante aqui, bem cara de pau, não
ganhou nada, nem poderia – quem mandou competir
com quem
tem bagagem de verdade?

Mas, como lembrava o criador das olimpíadas modernas, o Barão de Coubertin, o importante é competir. rrsss

Chora a Terra
Vem chorar pelo Homem
Que a enterra

O Homem não pensa
Beleza? Natureza?
O lucro compensa

Mata a mata
Destrói o que se constrói
Alma ingrata

Árvores ao chão
Animal foge do mal
Pássaros se vão

Há de perceber
Cuidar e a vida ganhar
Para não morrer

Façamos a guerra
Do pior para o melhor
Salvemos a Terra

Flores nascerão
Ar puro a respirar
Bons tempos virão

Chora a Terra
Sem dor, mas com o amor
Que a encerra

Paraíso já
Humano não insano
Canta o sabiá

Vencida a dor
Festeja a natureza
Um mundo em flor