sexta-feira, 22 de abril de 2011

A Ponte Aérea era outra

Romantismo? Saudosismo? Sei lá, mas era bem diferente.

Lá se vai um bom número de anos (décadas seria melhor) quando pela primeira vez me vi sozinho em pleno Aeroporto de Congonhas para pegar um voo da Ponte Aérea com destino ao Rio de Janeiro a fim de fazer um trabalho por lá.

Lembro-me que, às vésperas do dia D, estava conversando com meu cunhado, Jorge Kiabo, sobre como pegar o avião, aonde ir, etc e tal, visto que o distinto cavalheiro tinha uma larga experiência no assunto e eu era um completo novato. Dicas importantes para não pagar um mico naquele, então, mundo desconhecido.

Dicas apreendidas, lá fui eu, ansioso por pegar logo o avião e desfrutar de uma rápida refeição a bordo e das paisagens que, com certeza - e se as nuvens deixassem - iriam abrir-se diante daquela pequena janela. Às vezes o voo passa em brancas nuvens - clique aqui e veja um exemplo disso, com o voo que fiz Rio/São Paulo no início de março passado.

O avião, grande objeto deste texto, era nada mais nada menos que o ELECTRA, o fusca dos ares, um bichão tremendamente confiável que poderia voar sem problemas caso um dos motores falhasse.

Por sinal, certa vez estava no escritório de meu pai em São Paulo e pude testemunhar isso. Um Electra estava sobrevoando a cidade há algum tempo, com um das hélices completamente parada. Estaria ele gastando combustível para um possível pouso de emergência? Sei lá, mas como eu gostaria de estar no aeroporto para ver aquele pouso bem de perto, testemunhá-lo ao vivo e em cores.

Os Electras marcaram época na Ponte Aérea Rio-São Paulo e o que era bem legal naqueles voos era a baixa altitude em que aconteciam, possibilitando-nos apreciar os detalhes das cidades, plantações, litoral e tudo o mais que se enquadrava naquelas janelas que até eram maiores que as atuais. Até hoje, sempre que posso, ocupo um lugar junto à janela.

E daí que davam uma chacoalhadas de vez em quando? Isso não era problema.

Também não sei se eram mais confortáveis porque as balanças eram mais generosas comigo e não apresentavam um valor tão alto como os de agora, e eu ocupava menos espaço, ou se porque eram mesmo confortáveis. Mas que eram, eram.

Positivamente é marcante a diferente para os dias de hoje, quando os poderosos jatos voam bem alto, cruzam o espaço em menor tempo e não nos deixam ver detalhes de nada, a não ser na decolagem e na aproximação para a aterrissagem.

Mas é isso mesmo. O romantismo cedeu seu lugar à praticidade e à rapidez e nós, para ganharmos, acabamos perdendo um pouco.


Aos saudosistas, eis a matéria do Jornal Nacional, de 24 de dezembro de 1991, acerca do último voo do Electra:


Jornal Nacional - despedida do Electra depois de 30 anos na Ponte Aérea Rio-São Paulo


=> Se você voou em um desses, deixe aqui um comentário, gostaria de saber se compartilha ou não de minha opinião.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Amor peso pesado

Gabriel já nasceu gordinho. O peso a mais, composto por gordurinhas extras espalhadas ao longo do corpo, era um companheiro constante.

Naturalmente comilão, o menino era insaciável e vivia em constante briga com a balança, aquela coisa inexorável, horrenda e que não o perdoava.

A mãe tentava de tudo, assim como o pai, os irmãos, os tios, os primos e todo mundo, afinal sabiam que com aquela gordura imensa Gabriel sofria. O pior é que quanto mais falavam, mais ele comia.

Bullying? Também.

Na escola, com os amigos e aonde quer que fosse, ele se sentia marginalizado, alguém de quem ninguém poderia mesmo gostar.

O tempo foi passando, a adolescência também e o amor, que antes era apenas uma paixonite platônica de infância, chegou pesado, apertando o coração do rapaz.

Mas, como aquele ser paquidérmico poderia declarar-se à Lucinha, uma das meninas mais bonitas do bairro? Magrinha, delicada e com lindos olhos azuis ela estava na categoria utópica do irrealizável.

Ele precisava dar um jeito radical naquilo. Mas, o que fazer?

O insight veio em uma tarde, vendo uma reportagem na TV: cirurgia bariátrica! Sim, ele ia reduzir o estômago, emagrecer e, finalmente, declarar-se ao seu amor.

Sem falar para ninguém, apenas combinando com a família, sumiu do mapa. Ninguém soube dele por um bom tempo e apenas havia a informação de que ele voltaria, estava apenas passando uns tempos em casa de uns parentes.

Sem ele saber, Lucinha, que por toda a vida esperara em vão que o gordinho fofo do amor de sua vida se declarasse, sofria em silêncio com sua falta.

Vê-lo todos os dias já era suficiente para aquela menina tímida e agora, com ele longe, ela temia perdê-lo para sempre.

Ela precisava fazer alguma coisa para mudar isso. Algo que o fizesse declarar-se quando voltasse da viagem. E assim ela tomou uma resolução que, com certeza, modificaria aquele cenário.

Passado um tempo demasiadamente longo para corações apaixonados, Gabriel voltou.

Muito feliz e magrinho, deixou as malas em casa e foi correndo encontrar sua amada, com toda a coragem do mundo para, enfim, declarar-se.

Quando a viu não acreditou. Lá estava ela, que também havia radicalizado.

Lucinha estava ENORME, tudo para se igualar a Gabriel e encorajá-lo a declarar-se.

Ô vida.