quinta-feira, 26 de abril de 2012

Contos Twitteranos [7]

Contos TwitteranosContos que, como no Twitter, devem conter
um máximo de 140 toques.
O mais legal é fazer com que fiquem
com exatos 140 toques.
121) O quebra-cabeça (140 toques) Em vão tentava montar o quebra-cabeça do tigre. Recorreu à melhor amiga que, ao chegar, disse-lhe: Antes vamos guardar os sucrilhos da mesa.
122) Futebol (140 toques) Pausa do almoço. Mesmo de terno e gravata quis jogar futebol. Uma, duas, três partidas. Parou após a quarta. Como vicia esse tal de pebolim.
123) Carnegie Hall (140 toques) Foi para Nova York dizendo que tocaria no Carnegie Hall. Na volta, confirmou alegre: sim, havia tocado lá. Só não falou que foi a campainha.
124) O campeonato (140 toques) Há 20 anos não era campeão. Bastaria um gol. Mini-fone escondido na orelha em pleno casório. Gol aos 48. Não podia ter gritado, era o noivo.
125) A sogra (140 toques) Malandro, casou-se com a filha de olho na mãe. A sogra enviuvou. Ele viu a grande chance e a convidou para morarem juntos. Viva a poliginia!
126) As pipas (140 toques) No alto, a briga era feia. Vários puxões e elas se enfrentavam bravamente. Só uma venceria e o troféu seria de quem pegasse. Ganhou o cerol.
127) Pequenos Contos (140 toques) E do nada ele se alegrou. Viu alguns frutos brotando da árvore da literatura. Uma novata que experimentou, gostou e, de escrever, não parou.
128) Bronca certa (140 toques) Chegou tarde, pisando manso. Ela desculpou a hora, a bebedeira, não brigou e o abraçou compreensiva. Mas, ao abraçar, viu a mancha de batom.
129) A loiraça (140 toques) A loira aproximou-se. Aquele corpo escultural abraçou-o, cheirou seu pescoço e lhe deu um beijo de perder o fôlego. Só podia ser sonho. Era!
130) O gago (140 toques) Era gago. Nervoso não conseguia falar nada. Aí chega um tremendo guarda-roupa de três metros de altura e pergunta: - Qu-que ho-horas sã-são?
131) O pesadelo (140 toques) Pesadelo! Ele acordou de madrugada suando frio. Havia sonhado que tivera um filho, ali, sozinho na cama. Era a prisão de ventre que acabara.
132) Sapatos novos (140 toques) A balada prometia. Foi estreando os sapatos novos. A turma dançava e ele ali, quieto sentado à mesa. Chamavam-no sem sucesso. Maldita bolha.
133) Surpresa na prova (140 toques) Gastou o final de semana todo estudando matemática. Acordou na segunda-feira sentindo-se preparado para a prova. Surpresa! Era de português.
134) Caiu, chorou, parou, levantou, brincou (140 toques) Caiu, chorou, parou, levantou, brincou. Caiu, chorou, parou, levantou, brincou. Caiu, chorou, parou, levantou, brincou. Caiu, chor... CHEGA!
135) Ficou com fome (140 toques) Meio da tarde e ainda sem almoço. Com fome, desceu as escadas e comprou uma marmitex. Na volta, no último lance, escorregou e a comida voou.
136) A separação [1] (140 toques) Depois de anos, às vésperas do casamento, a briga foi tão feia que terminaram. Não se casariam mais. Separação. Os dois queriam ser a noiva.
137) A separação [2] (140 toques) Depois de anos, às vésperas do casamento, a briga foi tão feia que terminaram. Não se casariam mais. Separação. As duas queriam ser o noivo.
140) Só tem macho (140 toques) -Na minha cidade só tem macho! O pequeno pergunta: -Só macho? - É sim, responde o machão. -Na minha não, lá tem mulher também e é muito bom.

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Passos do além

Passos do além

Felipe, surdo de nascença, aprendera desde cedo a falar por meio de sinais e comunicava-se sem problemas com seus familiares e com alguma dificuldade com os amigos, pela simples falta de prática já que nem sempre estava com eles.

Levava a vida sem problemas, mas tinha um grande empecilho - sendo surdo, não aprendera a falar, algo pelo qual ansiava.

Era de uma família sem recursos, mas certo dia o tão desejado aparelho chegou às mãos de Felipe por um padrinho, como presente de aniversário.

Começou então uma grande via crúcis com idas a médicos, fonoaudiólogos, grupos de tratamento para aprendizado em conjunto, tudo para aprender a ouvir com o aparelhinho instalado dentro do ouvido e, por conseguinte, começar a falar de uma maneira que todos o entendessem.

Que maravilha.

Felipe também gostava de livros e filmes de terror. Gostava de sentir, em segurança, aquela sensação de medo, preocupação, temor. Curtia especialmente quando tratavam do além.

Sabia que estava em segurança e aquilo era só filme. À noite dormia tranquilo; às vezes lembrava-se de alguma cena mais forte, mas nada que lhe tirasse o sono.

Assim transcorria até certa noite que, cansado, deitara-se com o aparelho de surdez. Noite adentro acordou com um barulho de passos dentro de seu quarto.

Abriu os olhos pensando em ver o pai ou a mãe, mas... nada!

Aquele silêncio que imperava somente era quebrado pelo som dos passos a esmo pelo quarto, mesmo não havendo mais ninguém por ali, eram ouvidos.

Bastou para Felipe. Agora era medo de verdade, de algo que não entendia. Quem poderia estar andando por ali? De onde teria vindo? Quais as intenções? Dúvidas, dúvidas e mais dúvidas e nenhuma pergunta respondida.

Tirou o aparelho. Silêncio. Os passos pararam.

Felipe entendia que não haviam parado. Era porque sem o aparelho não podia escutá-los. Virou-se para o canto, cerrou os olhos, rezou todas as orações que conhecia e acabou dormindo.

O dia transcorreu normal, sem sobressaltos, afinal, com todos os barulhos sendo ouvidos de uma vez só, sequer identificava se os tais passos o acompanhavam ou não.

À noite, hora de ir para a cama, o pobre coitado começou a preocupar-se. Havia recusado o convite de um amigo para irem assistir à Atividade Paranormal 2 no cinema, algo que normalmente iria, mas com os acontecimentos da noite passada, nem pensar.

Deitou-se e começou a imaginar se os passos continuariam ou não. Será que quem esteve ali teria voltado para assombrá-lo mais uma vez? Afinal, o que poderia querer com ele?

Dormiu. Acordou no meio da madrugada, perscrutou o quarto todo e não viu nada. Corajosamente, colocou o aparelho no ouvido e ficou estático, aguardando.

Não demorou nada e... plac plac plac... os passos voltaram.

O menino pensou em chorar. Se ouvir era isso, não queria mais saber, preferia permanecer surdo a sentir essa sensação de pânico perante o desconhecido.

Estava aprendendo a ouvir, já distinguia alguns sons, mas passos em mais uma madrugada era demais.

Felipe quase corre para o quarto dos pais. O que seria isso? Brincara demais com o mundo espiritual e agora havia alguém invertendo a brincadeira?

Lembrou-se do filme Sexto Sentido. Seria alguém precisando de ajuda? Mas ele não via nada, só ouvia os passos.

Depois de uma semana nesse sofrimento, indo à igreja como nunca, rezando como um beato, Felipe resolveu que era hora de buscar ajuda materna. Não suportava mais.

Dia seguinte contou à mãe. Ela o levou a um centro espírita de mesa branca para tentarem decifrar o ocorrido.

Na conversa não chegaram a acordo algum. Poderia ser isso ou aquilo, mas nada de uma conclusão a respeito.

Voltaram para casa. Felipe, cabisbaixo, pensava em mais uma noite na companhia de sabe-se lá quem.

Quase se esqueceram da consulta no otorrino para medirem a audição e uma verificação no aparelho.

Chegaram em cima da hora, já sendo chamados para a consulta.

O médico examinou daqui e dali e achou por bem mandar fazer uma verificação técnica no aparelho, o qual apresentava uns estalidos que não eram normais.

Felipe quase caiu da cadeira. Passos? Que nada.

- Maldito aparelhinho com defeito!