domingo, 9 de agosto de 2015

Sou pai e tenho orgulho disso.

Sou pai 2Um momento feliz na Vila  Belmiro,
vendo Palmeiras meter um 3X1 no Santos

Posso dizer que sou pai, no sentido em que a palavra é entendida, desde nove meses antes do dia 11 de maio de 1988, quando li, naquele exame, a palavra “reagente”. Sim, estávamos grávidos novamente e, desta vez, haveria de dar certo.

Perdêramos o primeiro, a quem demos o nome de Juraci, um nome tupiniquim pois foi espontaneamente abortado aos três meses de gravidez; impossível saber se era menino ou menina - Juraci servia para os dois e assim é cultuado para receber Luz no Plano Espiritual.

Aquele aborto foi uma barra pesadíssima.

Por mais que o Dr. Natal (Natal Marques da Silva, obstetra) tenha parado todas as consultas e gasto um tempo enorme naquela sala no andar térreo da clínica explicando-nos o que acontecera e o porquê daquilo, foi um momento de muita dor.

Já tínhamos mais de oito anos de casados e era hora de aumentarmos a família. A ansiedade era grande e aquilo deitou por terra nossos sonhos.

A barra aumentou, pois todos pensavam na minha mulher, na Rita e pelo que ela passara e mandavam que eu segurasse a barra dela etc e tal, o que era natural. Mas... e eu?

Sofri tanto quanto ela e com um agravante: as pessoas não se aperceberam disso e eu fui guardando, minando aquele sentimento, remoendo-o dentro de mim.

O tempo passou, as marcas cicatrizaram e novamente defronto-me com a mesma palavra: reagente. A notícia da segunda gravidez veio exatamente no dia 30 de setembro de 1987, meu aniversário.

O tempo foi passando e havia um grande bloqueio entre mim e aquele serzinho dentro de uma barriga cada vez maior.

Na primeira vez, eu brincava, conversava, trocava confidências com nosso bebezinho ainda em formação, sem o menor problema ou constrangimento. Curtia cada momento.

Contudo, como diz o velho ditado, gato escaldado tem medo de água fria e agora existia o receio de repetição do fato.

Só aos cinco meses de gravidez, numa noite de janeiro, conversei a este respeito com a Rita e me abri.

Expliquei-lhe o que havia acontecido quando do aborto e o bloqueio advindo com aquela tristeza toda e só a partir daí comecei a me soltar, a confiar que tudo daria certo.

E deu!

Lá estávamos nós, na sala de cirurgia, para o parto. Sim, nós, afinal não haveria quem me fizesse ficar em uma sala de espera exatamente quando nossa família estava efetivamente formando-se. Ela na cama e eu a postos com a máquina fotográfica na mão.

Cinco minutos antes das nove da noite veio à luz aquele serzinho. Na hora nem identifiquei se era menino ou menina.

- É uma linda menina! Disse-nos o Dr. Natal.

Não ser um menino foi um pensamento que passou mais veloz que um raio pela minha mente. Ali mesmo comecei a curtir aquela bonequinha de 51 cm e 3,660 kg que Deus nos dera para amar e cuidar.

Um ano e nove meses depois do nascimento da Camila, nossa família era completada com outro presente de Deus.

Sempre disse a todos que gostaria de ter um casal. Primeiro um menino e depois uma menina, algo mudado com a experiência de ser pai de uma menina.

Alguns dias antes daquele 15 de fevereiro, eu havia comentado com a Rita:

- Bem poderia ser outra menininha, né? Muito legal!

Bingo! Uma e quinze da manhã - tinha de ser na madrugada... rrssss - e quase nascida durante o banho no quarto da maternidade, vinha a Natália com seus 49 cm e 3,420 kg

Foi tudo tão rápido que coloquei a roupa para entrar na sala de parto muito às pressas e o único chinelo que havia era um tamanho 33. Fui com ele mesmo no meu “pezinho” 43.

Agora era ser pai em sua plenitude.

De setembro de 1979 a maio de 1988 éramos só eu e a Rita, curtimos tudo o que havia para curtir. Agora era a hora e a vez das meninas.

A vida mudou totalmente.

Para mim, filho não é um troféu a ser exibido nas horas fáceis (só não dei peito por não ter leite, mas fraldas e tudo o mais era comigo mesmo).

Filho é para ter pai e mãe. É para ser educado, criado com amor para que se torne um ser humano de primeira linha.

Tenho orgulho, e creio nisso, de ter sido um pai amigo e educador.

Ciente de que aqueles primeiros anos seriam bastante importantes para a formação delas, aproveitei ao máximo todo o tempo. Sem bater, sem gritar, mas educando com respeito e sem dó - quem tem dó, não educa.

Se fosse preciso ser rígido, era. Mas sempre consciente, sem perder a razão para saber exatamente como agir. Medo de mim nunca tiveram ou precisaram ter.

Eu não as levava para passear, ir à praia ou sei lá onde. Eram elas que me levavam. Os passeios eram delas e sabiam que ali estava um pai pronto para topar qualquer brincadeira e jamais as deixaria na mão.

Pequenos detalhes me dão orgulho até hoje.

Pré-adolescentes, certa vez uma das amigas disse-lhes algo do tipo:

- Vocês são as únicas do grupo que quando começarem a namorar vão falar primeiro para o pai e não para a mãe.

A Camila, então, deu-me um presente inusitado - o melhor que ganhei em todos os tempos: convidou-me a fazer faculdade com ela. Fomos colegas de classe no curso de Jornalismo.

Eu sabia que um dia elas cresceriam, como cresceram - a mais velha já está casada com um homem que ama e a ama -, e parariam de me ouvir como ouviam antes, não por não me acreditarem, mas sim por terem suas opiniões formadas e serem donas de suas ideias e ideais.

Por isso, repito, aproveitei ao máximo toda aquela época em que me ouviam. Ensinei-lhes o máximo que pude e tenho orgulho de, por exemplo, poder sentar-me à mesa com elas, em qualquer restaurante, sem passar vergonha ao vê-las no simples uso dos talheres. Sabem se portar em qualquer ambiente.

Seguras de si, são educadas e respeitosas e, cá entre nós, é fácil gostar delas - sem corujice. rrsss

Continuo sendo um pai orgulhoso e continuo a fazer coisas por elas que elas sequer imaginam que faço e elas podem ter a certeza de sempre contar com este pai que as ama muito.

Se cometi erros? Claro. Não sou perfeito e nem o melhor pai do mundo, mas fiz o que sabia com a melhor das intenções e acredito que consegui incutir nelas o melhor, ajudando na formação do caráter de ambas para serem dignas como o são hoje.

Obrigado filhas por terem me ensinado muito, assim como sua mãe o faz.

Vale a pena ser pai de vocês, a quem amo vocês incondicionalmente e sempre amarei.