sexta-feira, 29 de junho de 2012

Contos Twitteranos [9]

Contos Twitteranos
Contos que, como no Twitter, devem conter
um máximo de 140 toques.
O mais legal é fazer com que fiquem
com exatos 140 toques.

161) Que festa? (140 toques)
Na festa, bebeu todas. No dia seguinte vangloriava-se de ter bebido todas. Perguntaram sobre a festa. Quê? Nem viu a festa, mas bebeu todas.

162) Que dia é hoje? (140 toques)
Vida simples no interior. Nas férias, brincava todos os dias, sem noção do tempo. Só sabia que era domingo porque tinha macarrão com frango.

163) Sou marinheiro (140 toques)
Queria ser marinheiro. Ver o horizonte infinito atrás das ondas. Os portos se aproximando. Conseguiu! Mas foi trabalhar na sala de máquinas.

164) Feijoada (140 toques)
Sábado almoçou rápido com a família. Tinha de sair para pedi-la em namoro. Saiu apressado e se esqueceu de escovar os dentes. Maldita couve.

165) Jogo 0 X 1 Visita (140 toques)
Sábado à tarde quis jogar futebol. Insistiu com a mulher que preferia visitar um casal amigo. Brigou, reclamou, bateu o pé. No fim, visitou.

166) Ledo engano (140 toques)
Acordou assustado. Eram 8h25 e estava atrasadão. A reunião no escritório era às 9h00. Saiu apavorado. Ruas vazias. Era domingo, não segunda.

167) Contos para o Twitter (140 toques)
Tentava escrever um conto com 140 toques. Estava com148. Alterou, baixou para 138. Mudou de novo, 142. É, foi difícil, mas conseguiu os 140.

168) Fuga atrapalhada (140 toques)
Madrugada, fugira da cadeia. Ia pela via escura. Viu os faróis de um carro. De arma em punho deu um pulo e o parou. Era uma viatura da Rota.

169) Saco cheio (140 toques)
Já estava com o saco cheio. Cheio, grande e vermelho. Houve quem chorasse quando o viu. Mas, na maioria, as crianças abraçaram o Papai Noel.

170) Uivando para a Lua (140 toques)
Passou a noite na mata uivando para a lua cheia. Amanheceu e veio o eterno dilema: Quede as roupas? Praga: ser lobisomem e amanhecer pelado.

171) Gato nada malandro (140 toques)
Bonachão e preguiçoso em casa. Na rua era outro, subia e andava pelos muros, corria, saltava independente. Um dia subiu na árvore. Bombeiro!

172)Fim inglório (140 toques)
Diariamente ele gritava as manchetes vendendo o jornal. Mas, vem a notícia de uma bala perdida no bairro. O menino nunca mais vendeu jornal.

173)Motoqueiro (140 toques)
Vento no rosto. Pura liberdade. Na estrada imprimia velocidade sem se lembrar dos conselhos da mãe. Caiu e caiu na real: Moto, só com juízo.

174)Quem casa quer casa (140 toques)
Ela vivia feliz e sempre sorridente. Conheceu Victor e tudo melhorou. Eram um casal feliz. Casaram-se e tudo mudou: foram morar com a sogra.

175)Mortoqueiro (140 toques)
Queria bater o recorde. Subir a Anchieta em 10 minutos. Com a moto possante costuraria o trânsito, ultrapassaria pelo corredor. Não chegou.

176) Jamais desistia (140 toques)
Era uma enorme inspiração. Jamais desistia, conseguia. Braço e perna ausentes não faziam falta. Dava um jeito. Fã do MMA, montou o PARA-MMA.

177) Não colou porque colou (140 toques)
Na faculdade só se preocupava com o social. Colava em todas as provas. Passou os anos assim. Ficou - não pôde colar o que precisava: o grau.

178) Busão cheio (140 toques)
Ônibus super cheio. A cada ponto, mais gente. Desesperou-se e quis descer. Gritou e empurrou. Desistiu ao notar que não pisava mais no chão.

179) Noras (140 toques)
Como filho da nora do avô era casado com a nora da mãe. Poderia dizer que a nora do pai era casada com o irmão dele, mas ele não tinha nora.

180) Dia da caça (140 toques)
Caçando na savana africana, mirou o leão já imaginando aquela pele em sua sala. Preocupado só com a mira não viu a leoa atrás. Virou comida.

sábado, 2 de junho de 2012

O garanhão do interior

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Jorge era um bom filho, um bom rapaz mas... mulherengo, paquerador e, se houvesse o menor vacilo que fosse, elas não escapavam da rede daquele jovem sedutor.

Morava em Araçatuba com os pais e algumas irmãs, mas sempre dava um jeito de escapar para suas aventuras noturnas, quando, como ele mesmo dizia, o lobo ia à caça dos chapeuzinhos vermelhos.

Em seus 20 anos de idade, para Jorge, a vida era a ideal e não poderia ser melhor. Tinha vários amigos, entre eles alguns que até o invejavam pelo seu poder de conquista e outros que tinham muito interesse em aprender com aquele professor senhor de si, um pouco presunçoso mas muito amigo.

Em todos os encontros, lá estava ele narrando a última conquista, sem o menor pudor, considerando a menina apenas como um objeto de suas satisfações de macho. E os amigos sempre prestando a maior atenção, querendo mais detalhes.

Se aparecia uma jovem vinda de outra cidade era considerada, de imediato, carne nova no pedaço e tinha de ser conquistada.

Os homens saíam em uma corrida maluca para ver quem primeiro ficaria com a moça e, invariavelmente, Jorge ganhava. Não tinha como competir com aquele sujeito que de caipira matuto não tinha nada.

Até que um dia aparece Paula, uma morena de corpo escultural, vinda de Santos para passar um tempo em Araçatuba.

Ela fazia veterinária e passaria algumas semanas visitando as fazendas de búfalo da região.

Nem é preciso dizer que Jorge e os amigos ficaram alvoroçados com aquela presença feminina: alta, corpo esguio, cabelos lisos quase chegando à cintura, olhos verdes, pele morena queimada do sol e gestos delicados. Um sonho.

O primeiro passo foi irem à Pensão Icaraí na qual ela estava hospedada. Tinham de conhecer o roteiro da moça, aonde iria, aonde almoçaria, o que faria à noite, sobre o jantar, a que horas ela dormia. Tudo era interessante para traçar o melhor plano para que aquela joia fosse conquistada.

E o cerco teve início.

Lugar comum - Jorge saiu na frente. Por “pura coincidência” ele foi almoçar justamente no restaurante em que ela estava almoçando. E na mesma hora!

Jorge passou distraído pela mesa dela e, neste exato momento, torceu o pé e desabou no chão. Ela, com os instintos de cura e preocupação com a saúde, inerentes ao curso que frequentava - mesmo que fosse um animal racional e não um irracional - levantou-se rápido para socorrê-lo.

Pronto. A isca estava lançada.

O “coitado” do Jorge, sem poder andar direito por causa da torção no pé, foi “obrigado” a sentar-se na cadeira mais próxima e que ficava, “por mera coincidência”, junto à mesa em que aquela deusa de outro mundo estava ocupando.

Com a lábia de profissional que tinha, o resto foi fácil e em poucos minutos estavam almoçando juntos e conversando como velhos amigos. Conclusão: combinaram de se ver à noite para encontrarem-se com a turma e ela conhecer a noite araçatubense.

Na hora marcada, Jorge foi buscá-la na pensão e chegaram no barzinho em que a turma estava esperando. Jorge, com o ego inflado apresenta-a ao pessoal, aparentemente como a Paula mas, no íntimo, como um troféu conquistado.

A noite foi gostosa, com muita conversa jogada fora, cervejas e beliscos. Ao final, claro, Jorge a levou de volta.

Lá foram os dois, sempre vigiados pelos olhos atentos e pelas mentes imaginosas dos amigos. Cada um tentando adivinhar como seria o resto da noite e loucos para encontrarem Jorge no dia seguinte. Tinham de saber os detalhes

No dia seguinte, a decepção. Não acontecera absolutamente nada.

- Ela é muito recatada, meio tímida. De família mesmo. Pelo que vi, não vai ser fácil. Disse um Jorge lamentoso. - Mas, não desisti!

Os dias foram passando, um almoço aqui, um encontro ali e... nada. A moça continuava irredutível em suas convicções.

Na véspera de ela ir embora, Jorge lançou sua última cartada.

Os pais e as irmãs tinham ido a Lins, em casa de uns tios, e Jorge tinha toda a casa à sua disposição.

Lançou o convite com a maior cara de inocente e, para surpresa, ela disse:

- Tem certeza de que não vai haver ninguém lá? Só nós dois?

A isca fora mordida e a presa estava à mercê do Don Juan. Marcaram o horário em que ele ia buscá-la.

Jorge não teve dúvidas, ligou para os amigos como quem tivesse ganho o premio maior na mega sena. Alardeou dizendo-se mesmo invencível e que no dia seguinte narraria tudo com todos os detalhes - mas eles iam pagar o churrasco na Gaita Velha, uma das melhores churrascarias da cidade. Seria um dia de festa.

Depois de mais de duas semanas, ele estava ansioso. Quando ela entrou no carro, beijaram-se como dois apaixonados, e, pelo caminho todo, foram trocando carícias. Jorge estava louco de desejo.

Chegaram a casa e, enquanto ela se sentava no sofá, Jorge foi pegar um 12 anos que guardava escondido no quarto.

Copo de cristal, gelo, whisky, uma boa música aquela mulher do outro mundo. Tudo perfeito.

Lançou-se sobre ela e deram “um grande amasso” no sofá. Ao se levantarem para irem ao quarto ela lhe pede um instante. Tinha de ir ao banheiro, coisa rápida.

Entrou e fechou a porta atrás de si.

Jorge, imaginando como seria a noite e como seria o sucesso que ia fazer com os amigos lá na churrascaria, não se conteve. Deu uma olhada pelo buraco da fechadura para espiar sua deusa.

Parou estático com a cena que viu, não conseguia imaginar como ia contar aos amigos que ela fazia xixi em pé!

- Filho da mãe!

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Banco de jardim


Chuva ou Sol lá está ele
Namorados vêm,
Abraçam-se
Mendigos vêm,
Adormecem


Sempre lá, às ordens
Velhas senhoras?
Tricotam
Velhos senhores?
Às moças olham


De lá não sai
Crianças correm
Trepam, pulam
Crianças?
Brincam


Estático!
Mães chegam
Descansam
Solitários?
Observam


Todos têm um por quê
Só ele não
Não é problema
Afinal não precisa
Ele é a razão