domingo, 24 de fevereiro de 2013

Contos Twitteranos [16]

Contos Twitteranos

Contos que, como no Twitter, devem conter
um máximo de 140 toques.
O mais legal é fazer com que fiquem
com exatos 140 toques.

301) Interagindo (140 toques)
Os dois se beijavam. De repente param. Encaram a pessoa que, muda, os observa: - E aí meu? Não tem mais o que fazer não? Vá ler outro conto!

302) Calamidade (140 toques)
Comprou fogos para o Ano Novo. Guardou-os na área de serviço. À noite chegou a casa e sentiu cheiro de gás. Acendeu a luz: show pirotécnico.

303) Bichinhos (140 toques)
Adorava goiaba, devorava-as. Um dia viu a metade de um bichinho contorcendo-se na fruta, bem no local da mordida. Onde estaria o resto dele?

304) Internet (140 toques)
Relacionavam-se pela internet. Um dia marcaram um encontro para, finalmente, se conhecerem. Reações idênticas: Argh! Vou vomitar e já volto.

305) Pulada de cerca (140 toques)
Ele, caucasiano e olhos azuis. Ela, morena jambo e grávida. Nasce a criança. Pergunta ele: - Doutor, por que o bebê tem os olhinhos puxados?

306) Felicidade simples (140 toques)
Vivia sorrindo e feliz. Quem via não entendia, pois morava na rua e não tinha nada. A mágica dele? Simples: com amor, fazer feliz o próximo.

307) Cinema de luxo (140 toques)
Escolheu a dedo o filme para ir ao caro cinema 4D. Economizara para tal. Acomodou-se e dormiu sem ver o filme. Maldita poltrona confortável.

308) Aulas práticas (140 toques)
Dia de aula prática de picada para abelhas jovens. Tinham de prestar bastante atenção, pois era igual aula para homem bomba: só haveria uma.

309) A dúvida (140 toques)
Com ele era 8 ou 80. No restaurante, perguntou intrigado, o nome do garçom. Ele, com uma voz toda masculina disse: - Sheila. A dúvida ficou.

309) Dormidinha (140 toques)
Marcou o futebol para a tarde. Dormiria um pouco mais. Pediu para não o chamarem. Dormiu até a esposa acordá-lo: - o jantar já está na mesa!

310) Dar duas (140 toques)
-Vou dar duas! -Não vai! -Você vai ver! -Não vou ver nada! Lá foi ele, deu a primeira e viu que não daria segunda. Abelhas só têm um ferrão.

311) Cruzeiro (140 toques)
A viagem de navio era um sonho a ser realizado. Batalhou, economizou o que pôde e comprou a melhor das cabines. Ia ser uma semana glamorosa. Tempestade em alto mar, ninguém merece!

312) Mania de mulher (140 toques)
No restaurante, ela, o namorado e um amigo dele. Passou todo o jantar super apertada, sem ir ao banheiro. Não havia uma amiga para ir junto.

313) Surpresa boa (140 toques)
Na rua, sem ter o que fazer, começou a tocar o violão. Só notou a caixa jogada ao seu lado quando já estava cheia de dinheiro. Boa surpresa.

314) Visita ao alambique (140 toques)
Foi visitar um alambique e começou a experimentar as pingas antes de comprar. Finalmente comprou uma garrafa. Qual? Não tinha a menor ideia.

315) Aulas (140 toques)
Todo dia acordava cedo pra ir à escola. Num dia de muita chuva foi no sacrifício e viu a escola ainda fechada. Era o primeiro dia de férias.

316) Medo de dentista (140 toques)
Tinha pavor de dentista, mas o dente doía muito. Foi. A anestesia não pegou, a broca quebrou e lascou o dente errado. Ele nunca mais voltou.

317) Piloto (140 toques)
Sonhava em ser piloto de corridas. Na primeira prova bateu na primeira curva. Na segunda, também. Na terceira, de novo. Na quarta, desistiu.

318) Rock X Funk (140 toques)
Ele gostava de ouvir Rock. Curtia esse tipo de som até ouvir um Funk. Daí em diante mudou. Passou a não gostar de ouvir Rock. Passou a amar!

319) Preso no teatro (140 toques)
Furtou e fugiu para aquele teatro onde ia encenar uma peça. E lá, quando atuava em um auto de sua autoria, o autor foi autuado em flagrante.

320) Ópera na praia (140 toques)
Foi à praia assistir ao concerto. Queria ouvir a orquestra, mas havia uns cantores de ópera junto, o que não o agradou. Considerou gritaria.

domingo, 10 de fevereiro de 2013

Futebol com os amigos

clip_image002Carlinhos vivia em uma comunidade bastante unida, mas, apesar disso, cada um tocava a sua vida muito que individualmente.

Ele não entendia aquilo, era meio paradoxal, embora não soubesse o significado dessa palavra.

Jogava bola com os amigos, iam à escola às vezes juntos, outras não. Conheciam-se, mas Carlinhos tinha dúvidas se eram ou não amigos.

Sempre se lembrava das palavras do avô: “no meu tempo, lá no interior, amizade possuía um peso diferente. Amigo era amigo em todas as horas, fosse para o que fosse”.

Mas, e ali na comunidade? Eram amigos ou apenas conhecidos?

Carlinhos guardava isso consigo e, apesar da dúvida quanto aos outros, ele tinha certeza de que procurava ser amigo de todos, fossem ou não seus amigos.

Numa das agruras da vida, Carlinhos sofreu um grave acidente e ficou hospitalizado durante alguns meses.

Quando finalmente saiu, a família havia se mudado para um apartamento afastado da comunidade, mais perto do hospital e também bem próximo ao local onde Carlinhos faria as várias fisioterapias necessárias para recuperar-se.

O tempo foi passando e os amigos da comunidade, o campinho dos jogos de futebol - também palco de algumas brigas - e o bairro em si foram sendo instalados em um canto da cabeça do rapaz. Armazenados na região em que eram guardadas as boas lembranças.

O menino, para a recuperação, tinha praticamente o dia todo tomado. Não havia muito tempo para escola, amigos, diversões e afins.

A força de vontade aliada ao apoio do avô, dos pais e dos irmãos era bem forte e sobrepujava quaisquer resquícios de desistência, de fraqueza.

A existência passou a ter regras rígidas. Ele acordava às seis horas e já fazia alguns exercícios por conta própria.

Logo após o café da manhã entrava o avô que o ajudava em outros exercícios. Aí, um pouco de descanso, banho e almoço.

À tarde o pai o levava à fisioterapia, onde Carlinhos passava umas boas quatro horas.

À noite eram os irmãos que entravam em cena, ajudando-o.

Família fabulosa! Fantástica! Frisava feliz fazendo folia.

Os dias foram passando e o menino recuperando-se. Cada vez mais forte.

Certa tarde de sábado, sentindo-se bem, Carlinhos pediu ao pai que o levasse ao antigo bairro. Queria rever os amigos, o campinho, o local onde fora criado. Além disso, poderia acabar com a dúvida que guardava e o angustiava.

E lá foram eles.

O pai estacionou ao lado do campinho e Carlinhos, vendo os amigos correndo atrás da bola, gritou:

- E AÍ CAMBADA DE PERNAS DE PAU?!?!?!

Os amigos não acreditavam no que viam. Carlinhos, o amigão, estava ali em carne e osso.

Jogo suspenso. Todos correram para o carro enchendo o menino com perguntas.

Jogaram uns 20 minutos de conversa fora quanto veio a ordem dada por Paulo, o melhor amigo:

- Desce logo desse carro e vamos jogar bola! Você está no meu time!

Carlinhos emudeceu e o pai, antes de ele piscar os olhos, disse que o ajudaria.

Aí seguiu-se uma cena que deixou todos sem fala, estáticos.

O pai abriu o porta-malas, pegou uma cadeira de rodas e a deixou ao lado da porta do passageiro. Abriu a porta, pegou o filho no colo e o ajeitou na cadeira.

Ninguém sabia daquilo. Ninguém podia esperar por aquilo.

Carlinhos ficou quieto, esperando as reações.

E foi Paulo, de novo, quem deu a nova ordem:

- Estão esperando o quê? Cada um corra para sua casa e traga uma cadeira.

Foi o melhor jogo, de futebol sentado, da história!