terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Contos Twitteranos [4]

Contos Twitteranos

Contos que, como no Twitter, devem conter

um máximo de 140 toques.

O mais legal é fazer com que fiquem

com exatos 140 toques.

61)Mediunidade? [140 toques]
Passou a ver pessoas mortas. De manhã ou à tarde, não importava, ali estavam. Contato no plano espiritual? Mediunidade? Não, emprego no IML.

62) Diálogo do cão [140 toques]
-Bonito cão. Qual é o nome? -DOCÃO. -Sim, do cão. Qual o nome? -DOCÃO CACETE! - Pô! Claro que é do cão, o seu não me interessa. -EU DESISTO!

63) Texto apagado [140 toques]
Depois de muito pensar, pegou um lápis e escreveu um longo texto ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... a borracha apagou tudo.

64) Briguento [140 toques]
Garoto machão. Briguento, não desculpava ninguém. Saía na mão com qualquer um. Até para a menina não deu moleza. Pior pra ele, apanhou dela.

65) Domingão [140 toques]
Muitos planos para o esperado domingão. Mil coisas para fazer, passear, ver. Acordou cedão, pronto para fugir da rotina. Choveu. Foi ver TV.

66) Príncipe encantado [140 toques]
O sapo encantado esperava pela amada. A princesa chegou, olhou nos olhos dele e, sabendo que o amava, beijou-lhe. ZÁS! E ela virou uma sapa!

67) O namorado pródigo [140 toques]
Pródigo? Nunca seria. Na carteira, que nunca abria, só teias de aranha havia. Ei-lo apaixonado e tudo mudado. Gasta sim, mas só com a amada.

68) Apertado [140 toques]
A barriga roncou. Acelerou o passo. Estava chegando. Correu. Intestino tem instinto? Sabia que se aproximava? Apertou de vez. Não deu tempo.

69) Velho Tebas [140 toques]
Andava com quatro, passou a andar com duas e com toda a experiência, agora anda com três. Não fugiu ao destino. Envelheceu. Maldita Esfinge.

70) Atleta amador, um herói [140 toques]
Sofreu. Patrocínio parco e ele insistindo. Quis ser atleta, conquistar medalhas, o país, o mundo. Competiu, perdeu, venceu. Medalhas suadas.

71) As moedas [140 toques]
As moedas saltavam à sua frente. Ele corria, pegando-as. Abaixava-se para pegar algumas, pulava para outras. Só faltava a grande. Game over.

72) O esnobe [140 toques]
Ele se achava sabido. No barco, pescando, esnobava o caipira que remava. Humilhava o coitado. O barco virou. Era o caipira quem sabia nadar.

72) Perdeu a cabeça [140 toques]
Ela era linda. Ele apaixonado. Esqueceu-se da timidez e declarou-se. Ela consentiu. Fizeram sexo. Ele perdeu a cabeça. Nascera louva-a-deus.

73) Crer ou não crer [140 toques]
Ela cria que ele criava pássaros. Ele cria, disse-lhe um amigo. Não creia; ele não cria, disse-lhe outro. Na dúvida, ela não creu mais nele.

74) Chovia [140 toques]
Amanheceu chovendo. Viu pela janela, desestimulou-se. Mais 15 minutos de sono. Levantou e ainda chovia. Cama. Dormiu de fato, perdeu a hora.

75) O homem ideal [140 toques]
O tempo passava. Ela esperava pelo homem ideal. Vieram João, Pedro, Luiz... Nenhum servia. Tinha esperança. Esperou demais. Ficou pra titia.

76) Engordar ou emagrecer? [140 toques]
Ele, gordo, operou o estômago porque a amava. Ela, magra, engordou porque o amava. Ele magro, ela gorda. Uma triste sina. Desencontraram-se.

77) O voto [140 toques]
Queria votar em um candidato honesto. Analisou os políticos e não achou nenhum. Escolheu quem mais se parecia com honesto. Votou no Ernesto.

78) O barco [140 toques]
A lancha dava voltas cegas nas águas geladas. Um navio passa perto demais dela. Reclamação na margem: - Droga de controle, acabou a bateria.

79) O incompetente [140 toques]
Incompetente para tudo, estava de saco cheio da vida. Resolveu matar-se. Apontou a pistola para a cabeça e disparou. Esquecera-se das balas.

80) Fora da prisão [140 toques]
Esforçou-se para abrir caminho pelas paredes da cela que havia criado. Enfim, saiu da prisão. O mundo à sua frente. Então, a borboleta voou.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Fim e começo

Fim e começoO pequeno mundo de Tiago era tranquilo. Tocava o dia a dia numa calma só.

Tudo o que precisava fazer era saborear a natureza à sua volta, curtir os amigos, brincar e aproveitar ao máximo.

Todavia, como diz o velho ditado, tudo o que é bom dura pouco e, para ele, o grande momento estava chegando.

Ele sentia isso e sabia que não poderia fugir ao destino. Ah... esse inexorável destino.

Tinha medo. Medo? Era pouco, tinha é um verdadeiro pavor daquilo que poderia acontecer.

Não havia conhecido ninguém que tivesse ido e voltado para contar. Somente histórias no ar.

Histórias! Essas sim, ouvira diversas mas não conseguia acreditar. Nesse ponto ele era absolutamente incrédulo e não abria mão disso.

Essas histórias, contos de um outro mundo, eram um verdadeiro horror. Não queria nem imaginar como alguém pudesse viver em um mundo tão sombrio, esquisito e sabe-se lá mais o quê.O que mais o aterrorizava era estar cada dia mais ciente e que o fim estava próximo.

Não havia como fugir. Ia deixar os amigos, a família e tudo o mais. Não participaria mais daquele mundinho perfeito que construíra para si.

Para o jovem Tiago esse mundinho não era bom, era ótimo. Como férias permanentes em que não havia escola ou trabalho; só diversão.

Não queria que acabasse. Que continuasse para sempre - fosse eterno! Afinal nunca acreditara que houvesse vida após a morte.

Questionava-se do por quê da partida. Perguntava a Deus por que sua missão estaria chegando ao fim tão depressa.

Não poderiam dar-lhe uma outra? Um tempinho a mais? Uma prorrogação tal qual nos jogos de futebol com a turma?

Nada! Naquele silêncio total que se fazia, sequer uma meia resposta vinha para aliviar-lhe o sofrimento.

Sentia que era o fim de tudo. Nada mais a fazer, pois tudo acabaria.

Enfim a derradeira hora chegou e a voz de Tiago, como a conheciam, calou-se.

Tiago partiu, deixando um vazio para trás, uma lacuna difícil de ser preenchida. Tinha de ser assim, não havia outra maneira.

Mas, dentre tantos choros pela passagem de Tiago, o chorinho diferente de um bebê fazia-se cada vez mais presente, apesar de longínquo. Parecia estar em outra dimensão...

- BUÁÁÁAÁÁÁÁÁÁ BUÁÁÁAÁÁÁÁÁÁ

- NASCEU! NASCEU! É UM MENINO!

Pois é Tiago, quando chega a hora, todos reencarnamos.