sábado, 13 de setembro de 2014

Amor platônico

Amor platônicoEmílio e os irmãos Ana Maria e Alfredo eram os amigos Super Bonder, viviam colados um no outro e, como diz o lema criado por Alexandre Dumas, era um por todos e todos por um.

Quando alguém queria achar um deles bastava saber onde estava qualquer outro. Viviam sempre juntos, para o que desse e viesse, e isso desde pirralhos.

A amizade surgiu quando ainda eram crianças, vizinhos.

Não havia, entre eles, essa diferença de homem e mulher. Eram amigos e brincavam de tudo, de cowboy a casinha; o que importava era estarem juntos, dividindo brincadeiras, lanches, peraltices, alegrias e tristezas.

Com o tempo passando e eles, óbvio, crescendo, dentro do coração de Emílio também crescia um novo sentimento.

Nunca deixaram de sentir amor, uns pelos outros, mas aquele sentimento era bem diferente de tudo aquilo que, o agora adolescente, experimentara. Não entendia bem o que acontecia, era algo mais forte, bem mais forte.

Mas, havia um problemão a ser resolvido: a forte timidez de Emílio.

Bastava querer falar, manifestar o sentimento e tudo travava. Não saía uma palavra da boca dele, não conseguia pronunciar nada senão murmúrios incompreensíveis.

Tentava em vão abrir-se com Ana Maria, mas era impossível. Precisava clamar por ajuda... nem isso conseguia.

Como fazer?

Passava o tempo e mantinha o mesmo sentimento, cada vez com mais intensidade e, junto, aumentava o temor de se pronunciar. Continuava tudo travando.

Bastava pensar no assunto e ficava perdido naquele mundo desconhecido, o mundo do amor, das juras, da cumplicidade entre dois, dividindo segredos que só eles conheceriam, um mundo diferente, feito só para os dois pombinhos.

O que ele não sabia é que Ana Maria começara a nutrir o mesmo sentimento.

Ela também era meio tímida, mas não tão retraída quanto Emílio e precisou de algum tempo apenas para criar coragem e conversar com ele.

Contou-lhe minuciosamente como tudo havia acontecido, como aquele sentimento maravilhoso de um amor intenso começara e como tudo aquilo mudara radicalmente a forma como ela o via.

Ela teve a coragem que faltou ao jovem rapaz. Como ela conseguiu? Perguntava-se, sem saber a resposta.

Sabia que ele também poderia ter se manifestado e só não o fizera pelo medo da recusa. Aquela maldita incerteza de ser ou não correspondido tolheu tudo. Medo bobo mas... invencível; uma barreira inquebrantável para ele.

Mas, Ana Maria deu o primeiro passo e tudo passou a ser diferente.

Começaram a namorar e, com certeza, algo naquela amizade de anos e anos mudou.

Doravante novos passos seriam dados, embora continuassem amigos, não era mais os três sempre juntos. Alfredo colocara-se em sua posição de cunhado e se recusava a ficar segurando vela para os dois.

E o tempo foi passando e, mesmo assim, Emílio continuava o mesmo tímido de sempre. Ana Maria até reclamava alguns beijos e, embora sempre atendida, ele ainda tinha dificuldades nesse campo.

E assim os foram levando a vida e ela, por puro amor, sempre com a maior paciência e entendendo a extrema e exacerbada timidez do, agora, noivo.

Casaram-se!

Para a viagem de lua-de-mel marcaram um cruzeiro que, partindo de Santos, percorreria alguns portos do Nordeste. Cabina espaçosa com tudo o que um jovem casal recém-casado precisava, além de outros itens que eles não precisariam, mas poderiam querer.

No dia do embarque, Alfredo os levou para Santos, ajudou-os com a bagagem e correu para a ponta da praia - queria ver o navio passando e dar um último aceno de boa viagem aos pombinhos.

Tudo havia sido combinado. O lugar em que Ana Maria e Emílio estariam e onde Emílio ficaria - não havia como Alfredo perder os dois de vista no meio daquela multidão de passageiros e eles também poderiam localizá-lo sem problemas.

Quando o navio chegou perto, Alfredo os viu de imediato e acenou.

Ana Maria foi a primeira a vê-lo e acenou com veemência apontando-o para Emílio.

Emílio, ao ver o cunhado sentiu um aperto no coração.

Em sua imaginação ele via os três de uma outra forma.

Via-se ali mesmo, naquela varanda da cabine, partindo para uma linda viagem de lua-de-mel com a pessoa amada e, lá embaixo na calçada, estaria Ana Maria acenando para eles.

Droga de timidez! Droga de medo!

Coração partido

domingo, 7 de setembro de 2014

Paulo Bregaro, o Feidípedes brasileiro

independencia2Imagem extraída do blog Semióticas

No alto, "Independência ou Morte" (1888), mais conhecido como “O Grito do Ipiranga”, óleo sobre tela de Pedro Américo (1843-1905). Acima, a identificação dos personagens principais em cena: 1. Sargento-mor Antonio Ramos Cordeiro; 2. Paulo Bregaro; 3. Francisco Gomes da Silva, o Chalaça; 4. Antônio Leite Pereira da Gama Lobo; 5. Brigadeiro Manuel Rodrigues Jordão; 6. Luís Saldanha da Gama; 7. Dom Pedro I; 8. Capitão-mor Manoel Marcondes Mello; 9. Pedro Américo (autorretrato); 10. Casa do Grito; 11. Córrego do Ipiranga; 12. Trabalhador anônimo

       Assim como o soldado grego Feidípedes que percorreu os 42km que separavam o campo de batalha de Maratona e Atenas, de forma praticamente ininterrupta, para avisar o exército ateniense acerca da vitória em Maratona e uma possível revanche dos persas, o que deu tempo para que Atenas se preparasse e rechaçasse os persas, temos no Brasil o Paulo Emílio Bregaro, ou simplesmente Paulo Bregaro como é conhecido; ele agiu de forma semelhante.

       Claro, há diferenças marcantes: Bregaro não caiu, morrendo de exaustão após cumprir suas ordens, foi a cavalo e não a pé e percorreu uma distância bem maior, entre as cidades do Rio de Janeiro e São Paulo, o que dá muito mais que 42,195km.

       Bonita introdução mas, qual o porquê de falarmos sobre Paulo Bregaro neste 7 de setembro, Dia da Independência do Brasil?

       Isso é bastante simples - ele foi um importante colaborador para que Dom Pedro (que ainda não era I) desse o famoso grito “independência ou morte!”

Vamos às explicações.

       Em 1822 já existia o Correio-Mor no Brasil Colônia, contudo a entrega de correspondências era precária além da conta, o que seguiu até meados do século XIX e, devido a isso, as pessoas evitavam usá-lo, principalmente tendo de pagar pelos serviços.

       Dessa forma, davam preferência a usar a mão de obra gratuita dos tropeiros, bandeirantes ou até mesmo dos escravos.

       Contudo, um carteiro sobressaiu-se na história postal brasileira, apesar da total precariedade, ao levar uma carta de Dom João VI, com instruções da corte portuguesa e cartas de José Bonifácio, de Dona Leopoldina e de Chamberlain - agente secreto do príncipe. Sim, foi Paulo Bregaro o carteiro que viajou em companhia do Sargento-mor Antonio Ramos Cordeiro.

       José Bonifácio foi enfático na recomendação a Paulo Bregaro - há algumas versões, mas o sentido é o mesmo. Duas delas:

       “Arrebente e estafe quantos cavalos necessários, mas entregue a carta com toda a urgência".

       "Se não arrebentar uma dúzia de cavalos, no caminho, nunca mais será correio; veja o que faz!"

       E lá foi o mensageiro, viajando de forma praticamente ininterrupta, como fizera o grego há alguns séculos. Dá para imaginar o que foi esta viagem?

       Dizem as más línguas que, de fato, o interesse de José Bonifácio era que o mensageiro encontrasse Dom Pedro ainda em Santos para que a independência do Brasil ocorresse nas terras de origem dos irmãos Andrada.

Por mais cavalos que Bregaro e o Sargento-mor “arrebentassem”, o grito de independência, como sabemos, acabou acontecendo já em São Paulo, às margens do Riacho Ipiranga.

       Por esta entrega incomum, Paulo Bregaro dá seu nome a algumas ruas em cidades deste nosso Brasilzão e é Patrono dos Correios do Brasil.

       E por tudo isso, além de ser personagem esquecido de nossa história, é que este Blog presta esta homenagem, resgatando um dos heróis de nossa independência.

       Agora que já leu, brinque um pouco e teste seus conhecimentos sobre a história do Brasil. Clique no link abaixo:

Laurentino Gomes