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terça-feira, 5 de agosto de 2014

Paz!

PazBom de briga é aquele que cai fora”.

Grandes e sábias palavras do compositor de Trem das Onze (um trem do Jaçanã que nunca saiu às 11 horas e sim por volta das 08h40min).

Adoniran Barbosa soltou essa frase já faz muito tempo, mas continua bastante atual - talvez até mais que antes.

O que vemos hoje em dia é de tamanha violência que realmente o melhor é deixar para lá, não importando o tamanho do oponente.

É muito fácil, principalmente nesse nosso trânsito louco, para qualquer um puxar uma arma, pelos motivos mais banais, e dar alguns tiros, com balas perdidas acertando até quem não tem nada a ver com o ocorrido.

Então, ser “macho” para quê? Já não bastam  todos esses assaltos acontecendo? Saidinhas de banco, sequestros relâmpago e tudo o mais?

Temos uma vida enorme pela frente e, antes de nos preocuparmos se vamos ser rotulados de covardes ou afins, vamos usar a cabeça, lembrando sempre que o raciocínio inteligente sobrepuja a violência ignorante.

Seja no trânsito, em um passeio, em um jogo... não importa, partir para a violência sempre acaba estragando a festa, interrompendo, no mínimo, a alegria e trazendo transtornos com alguns possíveis danos irrecuperáveis.

Temos de fazer valer a chamada cabeça fria em qualquer situação, crendo que se alguém está muito nervoso é porque talvez não esteja tendo um bom dia e, se nos enervarmos também, estaremos apenas alimentando um sentimento de ódio.

Assim, já que palavras acabam morrendo ao vento, vamos preferir que o “nervosinho” se extravase um pouco, ajudando a diminuir sua ira, a comprar uma briga.

Viver em paz, principalmente consigo mesmo, é bem melhor. Melhor até do que estar certo.

sexta-feira, 27 de junho de 2014

O garoto que juntou dois mundos

Bilingue

O tão esperado nascimento de Ernesto foi motivo de festa na família.

O garotão chorou a plenos pulmões fazendo-se presente. Dos olhos do paizão, que acompanhara o parto, escorreram lágrimas de alegria.

Passados uns dois meses, com o bebezão crescendo firme e forte; algo estranho foi notado.

Ele dormia tranquilo no berço quando o vento fez com que a porta batesse com força. A mãe logo correu pois, com toda a certeza, aquilo iria assustar o bebê, fazendo-o acordar chorando.

O menino sequer se mexeu.

A mãe estranhou. Bateu palmas cada vez mais alto... nada.

Levaram ao médico que diagnosticou um grau de surdez do menino em mais de 90%.

Sem ouvir, o menino também não aprendeu a falar. Emitia sons ininteligíveis para a maioria das pessoas. Apenas os mais próximos, que conviviam o dia a dia com ele, o entendiam.

Passou a usar um aparelho, mas que não adiantava muita coisa. Ernesto estranhava aqueles sons misturados, os quais eram difíceis de identificar, e não o usava com frequência.

A comunicação era na base de ele tentar ler os lábios das pessoas, mas bastava um bigode um pouco mais comprido e a leitura labial era atrapalhada.

Ele desconhecia a Libras, Linguagem Brasileira de Sinais, e tinha dificuldade em comunicar-se também com outros deficientes auditivos.

Isso tudo fazia de Ernesto um menino sofrido, alguém que sentia o preconceito e vivia esforçando-se para fazer parte de um grupo.

Em silêncio, ele sofria ao ver os jovens da rua onde morava combinarem passeios ao shopping e, simplesmente, esquecerem-se de convidá-lo. Definitivamente aquilo não era bom.

Com o passar dos anos, uma novidade foi tentada: implante coclear.

Dirigiu-se a São Paulo e fez a operação, cara mas que valeria a pena - passaria a ouvir e, com isso, seria aceito normalmente no grupo de amigos.

Infelizmente Ernesto enfrentou algumas dificuldades no início e acabou deixando de lado o aparelho, fazendo com que a cirurgia não surtisse o efeito esperado.

Mais algum tempo e ele entra de cabeça na linguagem de sinais. Passa a frequentar os círculos dos deficientes auditivos, podendo comunicar-se com eles de igual para igual. Esquece o implante e vira parte do grupo.

Ao estar completamente engajado naquele meio, Ernesto percebe que algo não ia bem. Devia estar feliz pois era parte integrante de um grupo de amigos. Não entendia aquele sentimento.

Não entendeu até notar o mesmo preconceito sofrido diante das pessoas de audição perfeita, mas na ordem inversa - o grupo dos deficientes não se dava com os primeiros. Renegava-os.

Quem ouvia não era bem quisto naquele grupo e só o fato de ele um dia comentar que iria voltar a investir no implante coclear, para passar a ouvir e aprender a falar corretamente, foi motivo de desconfiança de alguns do grupo.

Ernesto não viu aquilo como um problema, mas sim como um mal que precisava ser mudado, e vencido, de ambos os lados.

Sem ligar para os comentários, voltou a usar o aparelho, frequentou fonoaudiólogos, aprendeu a distinguir os sons - acabou descobrindo que não era tão difícil quanto imaginara - e algum tempo depois já era dono de uma fala que todos entendiam sem maiores problemas.

Ele também aprendera a ouvir e passou a comunicar-se de forma fácil. Deu-se conta de que, antes de ser um deficiente auditivo, era bilíngue!

Em uma tarde de sábado, o shopping foi palco de um encontro marcado por Ernesto com os amigos, usando a desculpa de que iriam tomar um sorvete.

Lá estavam, sem que soubessem dos planos de Ernesto, os dois lados da moeda.

Primeiramente olhares desconfiados foram trocados, mas o valente menino soube se impor e mostrou a todos o valor de cada um e, principalmente, da possibilidade de uma convivência pacífica.

Claro que alguns problemas teriam de ser eliminados, mas o intuito daquela reunião era esse mesmo.

Ernesto, falando e gesticulando, explicou que todos poderiam conversar, era só eliminar as barreiras abstratas que cada um havia construído e tolhiam o bom relacionamento.

Claro, nem todos os surdos (assim identificados pelos “ouvintes”) poderiam passar a ouvir, mas todos aqueles que não eram deficientes auditivos (os ouvintes, como eram chamados pelos “surdos”) poderiam aprender Libras.

Aquele encontro foi um divisor de águas.

Com paciência, Ernesto foi dando dicas aos ouvintes, os quais logo se matricularam em cursos de Libras e em pouco tempo conversavam até entre si para praticar a nova língua.

Pelo lado dos surdos, aqueles com chance de passar a ouvir investiram e aprenderam, melhorando também a fala.

Algum tempo depois não existiam mais ouvintes ou surdos, apenas jovens formando um grande grupo de amigos.

O preconceito caíra por terra e todos concordavam:

Eram muito mais felizes assim.

terça-feira, 30 de abril de 2013

Manifestação Espiritual

Aparição

Ilustração feita pelo Luiz Rafael da Caricômicos,

um parceiro indicado por este Blog.

Eles mantinham um Centro Espírita, um desses de mesa branca que só procuravam fazer o bem.

Viviam pelo certo e buscavam passar isso às filhas, incutindo nelas o desejo de fazer o certo não por haver leis divinas ou humanas que assim mandassem, mas simplesmente por ser o certo a fazer.

Odete, a mãe, dividia sua vida entre os afazeres domésticos e os atendimentos no Cento Espírita, local onde, com boa afluência de pessoas ávidas por um contato com entes queridos que já haviam partido, psicografava algumas cartas, bilhetes ou, às vezes, dizeres ininteligíveis.

Ela, até por esse contato com o plano espiritual sempre dizia que quando partisse faria de tudo para manifestar-se em algum momento. Assim poderia dar notícias e apaziguar a dor de suas amadas filhas e marido.

As filhas, pela criação, ainda eram virgens. Ambas, apesar dos namoros antigos, guardavam-se para o grande dia, para a primeira noite. A mais velha, já noiva, estava de casamento marcado.

Diziam todos que era uma família tradicional, ultraconservadora. Eram felizes em seu modo de ser, sempre preocupados em atender as pessoas e fazer o bem.

Eles tinham o “Dia da Família”. Toda quarta-feira, das 20 às 22 horas a televisão era desligada, e, ao som de algumas músicas suaves, acomodavam-se na sala de estar apenas para conversar entre eles.

Não era uma reunião, era apenas jogar conversa fora. Um papo entre amigos, o que os aproximava ainda mais. Às vezes o namorado e o noivo também participavam e, diga-se de passagem, curtiam muito aqueles momentos.

A vida foi passando e os dias acontecendo de forma natural até que a mãe caiu doente. Ninguém sabia o que ela tinha.

Foi uma via sacra por hospitais, médicos, ambulatórios e salas de emergência quando as crises aumentavam e ela definhando cada vez mais sem que alguém descobrisse a causa.

Uma manhã ela chamou o marido e as filhas e afirmou que estava pronta para partir.

Sentia que já havia vivido o suficiente para cumprir sua missão aqui na Terra e que todo aquele sofrimento era tão somente uma preparação para que ela, espiritualmente, compreendesse que a passagem era iminente e se aprontasse para ir.

Então, em vez de sofrerem, todos deveriam agradecer já que entendia a importância daquela preparação para evitar um desatino na hora da passagem do plano material para o espiritual.

Todos choravam à sua volta e ela, firme em seu propósito, lembrou que tudo deveria seguir seu rumo normalmente. A filha se casaria na data marcada e, tão logo reunisse condições para tal, manifestar-se-ia de alguma forma para dar notícias.

E assim foi. Em uma bonita tarde de sol ela se deitou para descansar e... descansou.

Em seu velório, feito no Centro Espírita, acorreram muito mais pessoas do que eles poderiam imaginar em seus mais promissores pensamentos.

Foi aí que notaram como ela era querida.

O pai chamou as filhas, abraçou-as dizendo:

- Hoje tenho certeza de que quando sua mãe nasceu, todos sorriam e só ela chorava e agora, todos choram e só ela sorri. Ela fez a vida valer a pena.

Em um cemitério lotado de pessoas e flores, muitas flores, o corpo dela foi guardado no túmulo da família, junto com os pais e um irmão mais velho.

Passado algum tempo, a vida se normalizara. Claro que dor e saudade faziam-se presentes no dia a dia da família, mas, lembrando das palavra da mãe, todos procuravam viver da melhor forma.

Palavras da mãe... e a manifestação prometida? Será que ela conseguiria aparecer, conversar conosco? Perguntavam-se.

- Talvez em uma de nossas quartas-feiras, disse, bem lembrando, a caçula.

Os dias passavam e nada acontecia. Toda quarta-feira era esperada com grande ansiedade e passava com um grande nó na garganta, um misto de desapontamento e dor.

Mas, como a vida seguia seu curso, o grande dia chegou. Casamento.

A cerimônia transcorreu perfeitamente, a recepção foi maravilhosa. Tudo acontecia de forma tão simples e perfeita que dava a impressão de que a mãe estava ali, tomando conta de tudo, como sempre.

Tudo acabado, a noiva, agora Sra. Oliveira, estava no banheiro do quarto do hotel arrumando-se sem parar de pensar no momento em que, finalmente, se entregaria ao noivo, que dizer, marido.

Seus devaneios pararam quando notou um frio que lhe fez arrepiar todos os pelos do corpo. Seria ansiedade pelo grande momento de, pela primeira vez, fazer amor em sua plenitute, algo há muito esperado?

Mas, sentindo uma presenta atrás de si, voltou-se, viu e não se conteve:

- Mamãe! Você conseguiu manifestar-se, posso vê-la perfeitamente!

- É mesmo filha?

- Sim mamãe, mas, poxa, tinha de ser justo agora, em minha noite de núpcias. Bem hora do enfim sós?

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Vale a pena?

Na maioria das vezes, quando vamos viajar, levamos muito mais do que precisaremos. Imagine-se partindo para uma caminhada longa, você pega a mochila e põe dentro tudo aquilo que supõe ser necessário. Enche-a, sente o peso e pensa consigo... “tudo certo, está leve e eu aguento”.

Realmente, no começo dá para aguentar mas, com o passar do tempo, aquele peso inicial vai se transformando, dando a impressão de estar aumentando. O fardo acaba ficando pesado demais.

Diante da necessidade, se formos espertos, começamos a nos livrar dos acessórios fúteis, daqueles que só fazem peso e ficamos somente com aquilo que realmente vai nos ser útil.

Em nosso viver, também fazemos o mesmo. Guardamos dentro de nós tudo quanto é sentimento e justamente aqueles que mais pesam são os negativos. Raiva, rancor, mágoa entre outros - para que guardá-los?

Eles acabam deixando nossa “mochila” muito pesada e ocupam o espaço daqueles que seriam mesmo muito preciosos. Daqueles que deixariam nosso fardo muito mais leve.

Quando pequenas, minhas filhas ouviam de mim que se caíssem, não perdessem tempo chorando e nem dessem “Ibope” a um possível machucadinho, pois aí estariam perdendo tempo para continuar a brincar e o machucado doeria mais.

É a mesma coisa, damos atenção àquilo que nos atrapalha, o lado ruim atua mais veementemente, e deixamos de viver de forma mais intensa. Deixamos de sorrir para dar esta ou aquela bronca, para reclamar disso ou daquilo. Ora, sorrir é bem melhor até para exercitarmos os músculos da face.

Jogue fora os rancores, os ódios, os sentimentos negativos, esvazie seu fardo dos pesos pesados nem que seja para somente um experimento. Com certeza o dia a dia será vivido mais prazerosamente.

Invista tempo e sentimento com o que vale a pena e não os desperdice com o que não vale.