domingo, 20 de fevereiro de 2011

E a banda passou

Não, nada tem a ver com a música do velho Chico - também não falo aqui do Rio São Francisco, mas de outro Chico, hoje, também “velho”... Chico Buarque. E nem eu estava à toa na vida.

A banda que passou, ou melhor, as bandas que passaram deixaram uma grata saudade adormecida em algum ponto deste emaranhado que é meu encéfalo. Às vezes, sonambulando, ela passa pela memória viva e minha mente acorda para curti-la mais um pouco, evitando que se esvaia de vez.

Lembro-me perfeitamente dos ensaios noturnos pelas ruas de Jacareí, naquele tempo ainda a Terra dos Biscoutos (isso mesmo, biscoutos) por causa dos salgados e doces biscoitos feitos na outrora grande e famosa Fábrica de Biscoutos de Jacareí que tinha suas latinhas azuis e jacaré desenhado vendidas até na beira da Rodovia Dutra. Hoje, uma padaria de tamanho médio, mas isso é outra história.

O Gordo, nosso instrutor gritando aqui e ali com este ou aquele, andando, suando, falando, gesticulando e se esforçando para que tudo desse certo.

E eu lá com meu surdo - bumbo para os leigos - com baquetas feitas no torno da fábrica de caixões de defunto que havia perto da minha casa.

Parece que foi ontem em que fui a um dos ensaios com uma luva industrial - uma daquelas de couro que os soldadores usam. Meu par de luvas havia sumido e girar as baquetas sem luvas era machucado na certa (até hoje guardo, no vão dos dedos, algumas marcas daquela época.

E lá veio o Gordo... “Pô meu, no dia do desfile você não vai usar isso. Não é?”

Há muitas histórias de desfiles nos 7 de setembro, aniversários da cidade, concursos e tudo o mais.

Ah sim, esta fanfarra era do CENE, colégio estadual que tinha um nome bem curtinho: Colégio e Escola Normal Estadual Doutor Francisco Gomes da Silva Prado. Certa feita, em um concurso em Guarulhos, pegamos o segundo lugar como Banda Marcial (tivemos nossa patente promovida por um engano na inscrição e quase levamos. Seria o mesmo que um peso leve ganhar de um peso pesado no boxe. Boxe? Ah não, agora é UFC).

Depois, mudamo-nos para Campinas e fui estudar no CEPAF (Colégio Estadual Professor Anibal de Freitas) e, claro, tocar na fanfarra de lá.

Não tocava mais surdo. Agora era fuzileiro (a foto que ilustra este texto é dessa época).

Meu melhor amigo lá era o Tôntoli - não Luiz Antonio como a maioria. Ele tinha de ser diferente, então, era Antonio Luiz - era não, é, afinal ele ainda vive entre nós. Cara amigo de verdade, de coração tão grande quanto seu tamanhão (nem ia falar, mas hoje ele está magrinho e eu, gordinho).

Não é que certa vez quiseram tirá-lo da fanfarra por ser muito gordo e “não ficava bem tocando fuzileiro”? Acho que ele nem ficou sabendo, mas a oposição foi imediata. Uma pessoa como ele era imprescindível para nosso bem viver e companheirismo. Amigo é amigo e ponto.

Era uma época bem legal. Quando trocamos nosso ridículo uniforme composto por calças vermelhas e camisetas azuis por uma farda digna de nossa banda foi como um feriadão. Uma grande festa.

As fotos que ilustram este texto trazem o novo uniforme. O cavalheiro de bigode na foto central, a meu lado, era o instrutor dessa banda - um dentista do qual, infelizmente, não me recordo o nome.

Acabou que, em Campinas, a banda do CEPAF era tida como uma das melhores dos colégios da região.

Era muito divertido tocar várias músicas - e era, às vezes, o “bonitão” aqui que, com um apito, comandava as trocas. Até no 7 de setembro, quando o colégio desfilava seguindo a banda era legal - podíamos apenas marcar o passo para o pessoal desfilar, uma música só e contínua, mas, mesmo assim era gostoso (adivinhem se já não levei uma bronca por mudar a música em pleno desfile, fazendo a galera se perder? Desculpei-me, era empolgação de quem gostava daquilo).

É, esta banda passou e, lamentavelmente, muitas outras bandas passaram também. Aonde foi parar o campeonato da Record em São Paulo? E o daqui de Santos, ali no final da Conselheiro Nébias, com o show da Banda do Ateneu?

Triste ver, no 7 de setembro, as escolas arrastando-se, tentando marchar ao som de um vazio silencioso em vez daquela passada viva antes ritmada pela cadência das fanfarras escolares.

Triste fim.

Se você tocou em uma fanfarra, gostava ou se identificou com o texto, deixe um comentário por aqui.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Cauby - um oitentão

Sequer passo perto de Nelson Motta e não tenho pretensão alguma de ser um crítico musical, mas hoje vou dar uma de.

Neste 10 de fevereiro, Cauby Peixoto - queiram ou não, um ícone da música brasileira, completa 80 anos e, por conseguinte, a TV está falando muito deste cantor, dono de uma grande voz.

Sabem o que acho realmente? O Cauby do passado tinha mesmo uma voz que me agradava ouvir, mas com o passar do tempo ela foi mudando e hoje não tem mais a mesma voz. E não é pela idade, há algum tempo noto isso.

Não sei se ele se perdeu no tempo ou no meio do sucesso, mas, para mim - e desde que o vi cantando Conceição há alguns anos - ele passou a fazer o tipo canastrão.

Fã de carteirinha nunca fui, mesmo porque prefiro ouvir só as músicas, sem a cantoria, sendo que a melhor de todas é Moonlight Serenate de Glen Miller. Este tipo de música me faz bem aos ouvidos.

Mas, vamos voltar ao aniversariante.

Ele que me desculpe, mas a melhor maneira de se ouvir - hoje - um Peixoto é trocando o nome Cauby por Araken, irmão menos famoso mas que, ao meu ver, bem melhor de ser ouvido.

Se perceberam que não curto muito a cantoria, já devem imaginar que o Araken não cantava. Exato: ele tocava piston... e como. No passado pois ele faleceu em 19 de fevereiro de 2009.

Quem o apresentou a mim foi a saudosa Dona Ofélia - sim, aquela mesmo da "Cozinha Maravilhosa". Ela era sogra de meu cunhado e algo que ela sabia fazer quase tão bem quanto cozinhar era dar-me presentes de aniversário os quais sempre vinham no formato de LPs - os antigos bolachões.

Foi em um deles que, ao desembrulhar o LP, deparei-me com um tal de Araken Peixoto. Claro que - nosso relacionamento assim o permitia - a pergunta foi imediata: Quem é esse, dona Ofélia?

Ela então esclareceu que era irmão do Cauby Peixoto e, antes que eu fizesse alguma careta ou algo parecido, arrematou: “não tem nada a ver com ele. Este toca piston”.

Ao colocar o disco na vitrola (lembram-se que antigamente existiam vitrolas?) vi que ela acertara mais uma vez.

Então é isso. No aniversário de 80 anos de Cauby Peixoto, fiquem com o Araken e um clássico - As Times Goes By:

Araken Peixoto (1930 / 2009): As Times Goes By.

Se preferir ver o vídeo no próprio YouTube, clique aqui.