quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Família Unida

clip_image002Formavam uma família tranquila, bem unida e com os filhos criados sob uma batuta tradicional e bastante conservadora.

O pai, severo, mas bem ciente do quanto amava os filhos, mantinha atitudes sempre bem pensadas e com isso conquistara o respeito de toda a família.

A mãe, dona de casa superconsciente, possuía sua parcela de autoridade mas, mãe é mãe. Era com ela que os pequenos se abriam ou procuravam um abrigo seguro quando aprontavam demais.

Moravam no subúrbio e a vida da família era tocada na mais perfeita ordem, com todos convivendo harmoniosamente inclusive com os vizinhos. Só havia um problema a ser solucionado: o namoro da filha do meio, sabido pela mãe e escondido do pai.

Todos os dias elas conversavam a respeito, pois aquele namoro escondido não poderia continuar daquela maneira. O pai precisava saber.

Tinham de falar com ele o quanto antes. Quanto mais o tempo passava, pior ia ficando.

Numa noite de verão, chovia muito lá fora e as duas, junto com a caçula, acharam que chegara a hora daquela conversa há muito adiada.

O pai chegou a casa todo molhado e lá foram elas para recebê-lo com a maior cara de solidariedade pelo estado do coitado. Mas, algo as preocupou. Havia qualquer coisa errada ali.

O semblante do pai estava taciturno, sombrio, com um ar de quem estava muito preocupado.

Elas se calaram, com certeza não seria a hora de tocarem no assunto namoro. Esperaram alguns minutos, um silêncio que parecia perdurar para sempre, até que o pai falou:

- Vamos ter de nos mudar!

- Como?! Gritaram em uníssono.

- É, os donos da casa vão demoli-la e nós temos de sair o quanto antes.

- Assim? Do nada? Inquiriu a mãe, aflita.

- Sim querida. Amanhã mesmo vou procurar um outro lugar para nós.

A tristeza tomou conta do ambiente. Ali viveram seus primeiros dias, as crianças nasceram, foram criadas e fizeram amigos.

Ali a filha do meio começara a namorar... oops, melhor deixar o namorado de lado e não tocar mais neste assunto.

Foi uma noite terrível para todos.

Logo que amanheceu, o pai saiu em busca do novo lar, tentando fixar e acreditar nas palavras que havia dito à esposa: nosso lar é onde estivermos, não importa o lugar.

Um dia todo de buscas e nada. Voltou para casa cansado e meio que desolado.

A esposa procurou incentivá-lo da melhor maneira possível. O mundo era um lugar muito ruim com o amado abatido daquele jeito.

A casa ia ser demolida e eles já deveriam estar fora de lá.

- Maldito tempo que passa rápido demais. Reclamava o pai.

Naquele dia, tomou a decisão de pegar a primeira casa que encontrasse disponível. Não poderia esperar mais.

Acabou por achar uma não muito longe de onde moravam. Positivamente não era do agrado mas, o que fazer?

Voltou para casa tentando fazer uma cara de quem estava contente e comunicou a mudança iminente. Iminente? Não, imediata.

Por respeito, avisou que não era o ideal, que teriam de superar certos problemas, mas que poderiam ser felizes mesmo naquelas condições. Foram todos juntos conhecer o novo lar.

Ao chegarem, a esposa não se conteve:

- Que nojo!

Os filhos fizeram coro:

- Que coisa nojenta!

- Nojo é pouco!

- Argh... vou vomitar!

A primeira impressão marcou pra valer, mas não tinham opção. A mudança era inexorável.

- Querido, nós mudamos, mas, agora que temos tempo, vamos procurar algo melhor. Não dá para viver ou criar nossos filhos neste antro nojento.

- Eu sei querida, nós vamos achar algo bem melhor que isso. Algo em condições habitáveis e que dê até para receber nossos amigos – aqui é impossível.

- Eu morreria de vergonha se alguma amiga minha visse isso.

- Pois é, querida. O que podemos fazer para melhorar as coisas por aqui?

- Não sei nem por onde começar. Veja esta sala, não há um mínimo grão de poeira. A cozinha com o piso brilhando de tão limpo, nada acumulado na pia... isso é insuportável.

- É querida, você tem razão. Viu a despensa? Tudo arrumado em potes, limpo até nos cantos. É demais!

- Bem, amanhã, enquanto você procura outro lugar para nós, para acalmar as crianças, vou levá-las até o lixão. Não há como uma barata, de bom gosto como eu, criar seus filhos aqui.

terça-feira, 24 de setembro de 2013

Contos Twitteranos [22]

Contos Twitteranos

Contos que, como no Twitter, devem conter
um máximo de 140 toques.
O mais legal é fazer com que fiquem
com exatos 140 toques.

421) O churrasco (140 toques)
Sonhou que estava em uma churrascada tomando umas. Acordou assustado com o cheiro de queimado. A carne? Não, era a vela queimando o barraco.

422) O Barão (140 toques)
Descobrira-se descendente de nobres. Sangue azul, com certeza, e possuía até um título de nobreza. Ele era um Barão. Um barão sem um tostão.

423) O abandono (140 toques)
Sem ela o mundo seria muito sem graça. Fora obrigado a abandoná-la sem entender o porquê. Aos 30 anos não via motivos para largar a chupeta.

424) Rotina (140 toques)
Todo dia a mesma coisa. Acordava às 6h00, tomava banho e café da manhã. Cansado da rotina maçante, radicalizou. Tomou o café antes do banho.

425) Casa da sogra (140 toques)
Morar com a sogra não era fácil, mas tinha de aguentar a velha chata e ranzinza. Não se imaginava longe dela e tendo de trabalhar pra viver.

426) Vídeo Game (140 toques)
O vídeo game sonhado não era Wii ou PS. Tinha como ideal um que o forçasse a brincar na rua. Pião, pipa, pega-pega... preferia um vida game.

427) Machão (140 toques)
Garanhão, o sonho dele era ser eunuco. Viveria no harém traçando todas as mulheres, corneando o Sultão. Sonhou até saber como era um eunuco.

428) Morte (140 toques)
Um grito de pavor, seguido de um completo silêncio. Ele corre para a sala e vê a vizinha que acabara de matar Bia, a lagartixa de estimação.

429) Cumplicidade? (140 toques)
A luz do luar dourava a areia da praia selvagem. Amor no ar. Ondas e estrelas, como testemunhas, poderiam ser cúmplices. Pena que estava só.

430) Chuva na praia (140 toques)
Um trovão foi ouvido ao longe, e ele na praia. Outro trovão, mais perto. Ele na praia. Mais um bem próximo. Ele na praia, torrado pelo raio.

431) Skinheads (140 toques)
O folgado, ao passar por um bando de skinheads, grita chamando-os de bichas. Mais 10 metros e um estouro. Era o pneu que deixara de existir.

432) Cão que ladra... (140 toques)
A bola caiu do outro lado do muro. O cão latia muito. Ignorando, ele pulou o muro para pegar a bola. Quem disse que cão que ladra não morde?

433) Felicidade (140 toques)
Não tinha nada de concreto. O abstrato o fazia feliz. Amor, amizade, sentimentos puros... Mas bem que podia ser feliz em Paris ou em Veneza.

434) Polícia? (140 toques)
Criado no morro, ele não ligava conviver com bandidos. Sabia que eram bandidos. Tinha medo era da polícia: não sabia quais eram os bandidos.

435) Rock in Rio? (140 toques)
Nordestino cabra da peste, não ligava para o Rock in Rio. Rock não era música. Montou a própria caravana de romeiros e foi ao Xaxado in Icó.

436) A primeira vez (140 toques)
Depois de meses namorando, naquela noite ela se fez mulher. A primeira vez com o amado fora mágica. Feliz e apaixonada, era uma nova pessoa.

437) Paisagem (140 toques)
Da varanda, observava a paisagem. Altas montanhas com os picos cobertos por neve. De repente, tudo mudou. O contra-regra retirara o cenário.

438) O atraso (140 toques)
800 km de volta pra casa. Rápido, chegaria a tempo do aniversário da filha. Foi carregar o caminhão no porto. Tudo parado e 6 horas de fila.

439) Falta de atenção (140 toques)
FANTASIA! Estava no convite e fixo na memória dele. Foi à festa vestido de pirata, um autêntico Jack Sparrow. Fantasia era o nome do Buffet.

440) Cangaceiro (140 toques)
Tinha fama de cangaceiro durão. Temido por ser mal, queria muito, mas nunca matara. Um dia matou, sem querer, e a polícia deu como suicídio.