Dezembro chegou e, com ele, o Natal.
As voltas que a vida dá são muito interessantes.
Lembro-me de certa vez, ainda criança (pirralho mesmo) e o farmacêutico foi lá em casa aplicar-me uma injeção - naquele tempo era assim, coisas que já não existem mais - e eu, apavorado pela proximidade da agulha, aquele coisa pontiaguda e gigantesca, tranquei-me no quarto.
Meu pai teve de me arrancar à força e foi a maior briga. Segura daqui, bronca dali, apertão acolá até que, enfim, aquele ser hediondo aplicou-me a injeção.
Foi tanta coisa, que nem me lembro se doeu, mas sei que chorei assim mesmo.
E hoje? Ah... é outra coisa. Só para terem uma ideia, doo sangue várias vezes ao ano (máximo de quatro, ok?), tanto que houve uma vez que a atendente foi verificar se eu poderia doar ou se já havia extrapolado os limites.
Agulhas? Nunca mais foram tão grandes como aquela. Trauma completamente vencido.
É, são as voltas que a vida dá.
Com a figura do Papai Noel não foi diferente. Eu, assim como muitas das criancinhas por este mundão afora, tinha um tremendo pavor de me aproximar de Papai Noel, quando o bom velhinho ia lá em casa então, era o maior sufoco. Onde me esconder?
Que presente que nada, aquele ser de outro mundo me apavorava. Muito estranho aquele velho todo de vermelho, longa barba branca, gorro na cabeça e no maior calorão. Chegar perto? Nem pensar.
Era o dito cujo aparecer lá em casa e estragar a festa. Meus pais, acho, acabaram desistindo, pois nunca mais vi aquela figura grotesca que só servia para assustar.
Nas lojas, na TV era outra coisa. Via-o como o bom velhinho e tudo o mais, mas, ao vivo e em cores.... JAMAIS!
Mas, são as voltas que a vida dá.
Há alguns anos, em todo Natal eu banco o Papai Noel em um determinado dia e o que vejo? Algumas criancinhas, assim como eu lá nos antigamente, chorando, esperneando e nada de querer se aproximar do velhinho aqui. E olha que sou um Papai Noel do tamanho certo, daqueles que nem precisa de enchimento na barriga.
Quando acontecem os choros, lembro-me de meu tempo de criança e tenho ainda mais paciência para a criança ver naquele bom velhinho um ser amigável, que está ali para dar-lhe um presente de Natal.
Sabe o que é engraçado? Por mais voltas que a vida dê, a fala é praticamente a mesma: "Ele é bonzinho..."; "Ele vai lhe dar um presente de Natal...". E a criança também não mudou quase nada: continua olhando com um olhar de desespero, não escuta nada e chora a valer - chegar perto? Nem pensar.
Ao menos agora, eu não choro mais. Divirto-me muito e, empiricamente, compreendo o choro das criancinhas de agora.
Mas Papai Noel é assim mesmo. Tem de estar pronto para o que der e vier e dá-lhe paciência que o Natal está chegando.