domingo, 25 de março de 2012

Contos Twitteranos [6]

Contos Twitteranos
Contos que, como no Twitter, devem conter
um máximo de 140 toques.
O mais legal é fazer com que fiquem
com exatos 140 toques.
101) A esmola (140 toques) Achava que ajudava. Não negava esmola, pois, eram necessitados. Acreditou nisso até que viu um mendigo dirigindo um carro melhor que o dele.
102) O príncipe encantado (140 toques) Acostumado à vida no brejo, não queria ser príncipe. Maldito beijo desencantador. E a comida então? Algo nojento. Queria as moscas de volta.
103) Bela Feia (140 toques) Era linda. Arrogante, esnobava todo mundo e não estava nem aí. Afinal, a beleza bastava. Um dia queimou o rosto. Ficou feia e virou "gente".
104) Micção (140 toques) Muitas cervejas e a bexiga estourando. Foi ao banheiro e o zíper encrencou. Não agüentava mais. No desespero, rasgou a calça. Não deu tempo.
105) Davi e Golias (140 toques) O pequeno Yorkshire não se intimidou com o grande Rottweiler. Partiu para a briga sem medo. Venceu ao matar o grande cachorrão... engasgado.
106) Almoço de domingo (140 toques) Almoço na casa da sogra. De barriga cheia dormiu no sofá. Roncava alto. Só foi acordado quando enfiou a mão na bermuda para uma bela coçada.
107) Sofrendo com o peso (140 toques) Pensativo, olhava a criação da avó. Era gordo queria perder 10 kg até o Natal. Sofreu até ver o peru correndo. Sim, havia problemas maiores.
108) Bullying (140 toques) Era gordão e narigudo. Tinha tudo para sofrer com os bullyings na escola. Ao contrário, inteligente, dava cola e fazia os espertos sofrerem.
109) O mito mictou (140 toques) Jovem talento, um mito. Certa noite subiu às pressas ao palco, sem ir ao banheiro. No show não aguentou. O mito mictou nas calças. Que mico.


110) A irmã (140 toques) Extasiado, via o corpo esguio. Só pensava "naquilo", mas resistia. É minha irmã, cobrava-se. Mas tinha de se desafogar. Pegou outra Playboy.
111) Problemas (140 toques) Saiu em busca de um objetivo. Candidatou-se, pois tinha uma grande meta: resolver todos os problemas do mundo. Ganhou um mundo de problemas.
112) Cruzamento (140 toques) A égua puro-sangue no cio. O garanhão querendo. Tudo daria certo e ele já imaginava o belo potro correndo. Pena que o jumento pulou a cerca.
113) Dono da bola (140 toques) No futebol, um zero à esquerda. Não jogava nada, mas sempre era chamado e escolhido. Todos o queriam. Como era bom ser o dono da única bola.
114) A loteria (140 toques) Conferiu os números. Sorte grande! Com tanto dinheiro pensou que os problemas haviam terminado. Tremendo engano, estavam é apenas começando.
115) Torcedor sofredor (140 toques) No futebol, com técnico retranqueiro, o time dele não ganhava. Para não sofrer, tirou férias. Foi ver o vôlei. Azar, optou pelo time errado.
116) Missa das 9 (140 toques) Todo domingo, às 9h, estava na missa, assíduo. Caso perdesse a das 9, não ia em outra. Mania de carola? Não, era nessa que a bela Camila ia.
117) O mergulho (140 toques) Olhava atônita aquele mar fervilhando, cheio de cores. Sem medo, mergulhou fundo. Logo alguém gritou: - Garçom, tem uma mosca na minha sopa!
118) O mico (140 toques) Pela rua, todos o olhavam. Não entendia o por quê. Era o alvo das atenções. Só entendeu quando chegou em casa e reparou na braguilha aberta.
119) Galo chato (140 toques) Quatro da manhã e o galo cantava na janela. Com sono, virou-se de lado e cobriu a cabeça com o travesseiro. E o galo cantava. Voou a botina.
120) A entrega (140 toques) À presença da estonteante jovem, não resistiu. Entregou-se em completa luxúria. Literalmente, perdeu a cabeça. Por que nascera louva-a-deus?

terça-feira, 6 de março de 2012

Ascensão e queda de uma faxineira

Iriscléia
Nordestina cabra da peste, com ela não tinha tempo ruim. Iriscléia era pau pra toda obra e não tinha medo do pesado.
Chegou a São Paulo com uma penca de filhos a tiracolo e foi logo se encantando com aquela cidade mais que grande, como ela própria dizia.
Eram muitos prédios “altos demais da conta” e aquela novidade toda enchia seus olhos acostumados somente com a vegetação seca da caatinga e uns barracos aqui e ali, todos remetendo ao barroco e ao gótico (sim, porque eram de barro e, quando chovia, tinham goteiras).
Mas, a valente Iris havia chegado na capital dos sonhos para vencer e sustentar com bravura os filhos. O marido? Aquele malandro havia fugido, debandado lá para os lados do Acre com uma rapariga 20 anos mais jovem que ele.
Iris não perdeu tempo, aprendeu logo o ofício de faxineira, para o que não precisava saber ler e escrever, e lá foi ela competirndo consigo mesmo, buscar o melhor, para ser a melhor faxineira daquela cidade enorme.
Fez que fez. Esperta, aprimorou-se, reciclou-se (embora não soubesse o que isso significava) e passou a ter várias clientes.
A ascensão foi rápida e logo ela já trabalhava sem parar, conseguindo não só tirar o sustento para os filhos como também mantê-los estudando para que não fossem analfabetos como ela.
Nunca fora tão feliz na vida.
No trabalho não dava moleza sequer às menores partículas de poeira, estivessem onde estivessem, nenhuma conseguia esconder-se das flanelas, espanador ou daquela máquina incrível que conhecera recentemente - e da qual não tinha mais medo - o aspirador de pó.
Não importava o andar em que o apartamento a ser limpo fosse localizado. Pendurava-se nas janelas para deixar os vidros invisíveis de tão limpos, por dentro e por fora.
As patroas, quando viam a cena, arrepiavam-se e pediam a ela que saísse dali, pois era muito perigoso.
- Não se preocupe dona, eu sei bem o que estou fazendo e não há perigo, não. Dizia e continuava pendurando-se dada vez mais, com o corpo quase que totalmente para fora.
Aquilo era necessário. Tinha de ser a melhor, deixar tudo 100% limpo para garantir os trabalhos e cuidar dos filhos, o maior tesouro de Iriscléia.
Mas, foi em uma oportunidade dessas que Iris vacilou.
Estava tentando limpar o vidro daquele janelão enorme do 15º andar e não estava conseguindo.
Lançou mão da escada, posicionou-a junto à janela aberta, subiu, pôs o corpo para fora e passou a limpar o vidro. Teve de raspar para tirar aquela sujeira grudada e... aconteceu.
A patroa havia visto Iris pegar a escada e perguntou para que era.
- Vou alcançar a parte de cima do vidro da janela da sala. Não está dando para limpar.
- Iris, não seja louca. Não ponha a escada perto da janela.
- Ora, dona Juliana, eu sei bem o que estou fazendo.
Tocou o interfone e a patroa foi atender, desviando a atenção do assunto. Iris aproveitou-se, saiu de mansinho e subiu na escada.
De repente, um barulhão de algo caindo, um grito.
O filho mais novo de dona Juliana, que brincava na sala, entra chorando na cozinha e, aos prantos, fala para a mãe que a Iris havia caído da escada, da janela.
Décimo quinto andar, não tinha como alguém se salvar de uma queda dessas.
Juliana entrou temerosa na sala, sem saber se teria coragem de olhar pela janela e ver, lá embaixo, o corpo estatelado de Iris.
A queda, algo que sempre a preocupava já que a faxineira era mesmo atrevida, acontecera. Logo naquele dia em que acordara com um péssimo pressentimento.
Não tinha jeito, entrou na sala, viu a escada caída e, ao lado dela, Iriscléia reclamando de uma dor no braço.
Sim, Iriscléia, por sorte, caíra para o lado de dentro e não para fora do prédio.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Contos Twitteranos [5]

Contos Twitteranos

Contos que, como no Twitter, devem conter
um máximo de 140 toques.
O mais legal é fazer com que fiquem
com exatos 140 toques.

81) Folgado [140 toques]
Ela lavava o banheiro. Ele, deitado no sofá, vê TV. Benzinho, traz um café? Ela para, vai à cozinha e pega o café quente. Joga na cara dele.

82) A Patricinha e o totó [140 toques]
Andava com o cãozinho. Viu os meninos sentados à mesa do barzinho. Endireitou o corpo e desfilou em frente a eles. O totó parou para o cocô.

83) O julgamento [140 toques]
Para o jovem promotor eram favas contadas. Sequer lera o processo. Falou pouco ao júri e contentou-se. O advogado, experiente, livrou o réu.

84) Vida e morte [140 toques]
Ao nascer, todos riam e só ele chorava. Viveu bem. Ao morrer, todos choravam e só ele ria. Sabia que desta vida só se leva vida que se leva.

85) Domingo na praia [140 toques]
Foi ao litoral, passou o dia na praia. Sol, caipirinha, cerveja, banho de mar. Nem usou protetor. Na segunda todo ardendo, como usar camisa?

86) Diálogo mal entendido {1} [140 toques]
Você vai? Perguntaram-lhe. Vou-me já, respondeu. Ele vai? Talvez sim, mas creio que antes vai ao banheiro. Banheiro? Sim, disse que ia mijá!

87) Engano [140 toques]
Na madrugada, 3h20, todos dormem e o telefone toca. Alô! Desculpe pela hora, mas preciso falar com o Zé. Não tem nenhum Zé. Hã? tu tu tu tu.

88) Nudismo [140 toques]
Naquela praia abundam as bundas. Com tanta abundância, as bundas variam. Tem de todo tipo e a dúvida fica: A bunda abunda ou abunda a bunda?

89) Diálogo mal entendido {2} [140 toques]
Você o viu? Perguntaram-lhe. Não ouvi nada, respondeu. Quero saber se você o viu, se ele está por aí. Já disse que não ouvi. Viu ele? Ah tá!

90) Adão Eva {cacofonia 1} [140 toques]
Era cavalheiro em tudo. A mulher sempre em primeiro lugar. Até a Bíblia ele contrariava. Não tinha essa de Adão e Eva. Para ele? Eva e Adão.

91) Língua inglesa {cacofonia 2} [140 toques]
Tinha dúvidas no inglês. Procurava saber como dizer que o dia do pagamento foi na semana passada. Ensinaram-lhe: The pay day was a week ago.

92) O almoço [140 toques]
Arroz e feijão no prato. Almoço em casa. Sem a esposa, só restara fritar o ovo. Estalado, imaginou. A aptidão só permitiu mexido e queimado.

93) Sem ideia [140 toques]
Chegou tarde. Sabia que tinha de escrever um conto twitterano. Sem ideia desistiu. Voltou a insistir. Ainda sem ideia, não escreveu. Ou sim?

94) Enfim, férias [140 toques]
Férias! Sem planos para o primeiro dia. Nada a fazer. NADA! Queria só descansar, parasitar. A esposa não pensava assim. Dia de faxina geral.

95) Piloto [140 toques]
Sonhava em ser piloto. Grandes aviões, voos internacionais. Mulheres lindas, outros países. Mas, sonho não é realidade. Tinha pavor de voar.

96) O quarto [140 toques]
Deitado, olhava a porta do quarto. Lá, ela batia, pedindo que abrisse. Bateu a noite toda. De manhã, cansado, abriu a porta e a deixou sair.

97) A ressaca [140 toques]
Acordou péssimo. Enjoado, o mundo rodava à sua volta. O jantar de comemoração havia sido magnífico. Comera e bebera muito. Maldita azeitona.

98) Almoço [140 toques]
Meio-dia, o sinal tocou. Ele se levantou e foi. Almoçou muito, estava bom demais. Churrascaria e muito vinho. Não trabalhou. Dormiu na mesa.

99) Encontro às escuras [140 toques]
Marcaram por um chat. No alto de seus 18 anos estava afoito. Entrou no quarto do motel e esperou. Ela bateu à porta. Ele abre e... TIA BETH?

100) A peça teatral [140 toques]
Cidadezinha do interior. Atores famosos para encenar a peça chamada A Espera. Casa lotada, todos queriam ver. Golpe! A Espera dura até hoje.

domingo, 12 de fevereiro de 2012

O homem que perdeu o pinto

DúvidaAntes das 5 horas da manhã ele acorda desesperado. Pega o telefone e disca sem pensar em hora ou outra coisa qualquer - a preocupação é uma só.

- Alô? Diz uma voz sonolenta do outro lado da linha.

- Doutor! Meu pinto sumiu! O que eu faço?

- Hã? Como assim? Ele estava aí ontem à noite, quando saí. Respondeu ainda com voz de sono e sem entender muita coisa.

- Não sei Doutor, só sei que o dito cujo sumiu. O que eu vou falar pra minha mulher?

Desligou o telefone e voltou a procurar. Beliscou-se, afinal poderia ser um sonho, pois, não poderia, de forma alguma, estar acontecendo.

Olhou embaixo da cama, no banheiro, na sala, nos outros cômodos da casa... nada. Saiu para o quintal e logo deparou-se com o cachorro com cara de quem havia acabado de comer algo e estava satisfeito.

Não, não podia ser. Esse não seria um final feliz para quem prometia ainda dar muitas alegrias.
Deixou aquela impressão pra lá e continuou a busca.

Passou a manhã inteira e nada de encontrar. O pior é que a esposa chegaria no meio da tarde e, claro, o pinto tinha de estar no lugar dele.

Que vida maluca era aquela? Que dia mais doido estava tendo. Por que não acordava e acabava com aquele pesadelo?

A mulher viajara para o enterro da Joaquina, que lhe era muito querida, e havia deixado a casa e tudo por lá para que ele tomasse conta e estivesse tudo certinho para quando ela voltasse.

Tudo estava certo, menos... menos... ai meu Deus!

Ligou de novo para o Doutor:

- Doutor, nada ainda. O que eu faço?

- Calma, eu estou indo aí para ajudá-lo.

Chega o Doutor e encontra o pobre coitado, já completamente desanimado, sentado na cadeira de balanço na varanda da casa.

- Olá Jonas, diga-me com calma o que houve.

- Como calma Doutor? Não dá para ter calma nesta hora. Eu estou muito preocupado. E até com medo.

- Ora meu amigo, um pinto não pode sumir assim. Deve estar em algum lugar por aí.

- Já olhei em tudo, Doutor. Nada de achar.

- Se não o acharmos, o que sua mulher vai dizer?

- Dizer Doutor? No mínimo não vai querer mais nada comigo e ainda me expulsar de casa.

- É, você está mesmo em uma enrascada danada de ruim. Ainda mais com a morte da Joaquina.

- Nem me lembre Doutor. Ela seria a salvação da lavoura.

- Bom, disse o doutor, vamos pensar juntos e tentar dar um jeito na situação. Duas cabeças pensam melhor que uma e amigo é para isso também.

- Mercado! Vamos lá comprar outro! Gritaram quase juntos.

E lá foram os dois amigos, correndo ao mercado para comprar um pinto novo e substituir o sumido.

Azar! Não havia nenhum pintinho carijó à venda, a galinha de estimação, a Joaquina, havia morrido e não botaria mais ovos. Acabava ali uma descendência que estava com a família havia mais de 15 anos.

E a culpa era dele, que não tomou conta do pinto direito.

É... ferrou!

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Contos Twitteranos [4]

Contos Twitteranos

Contos que, como no Twitter, devem conter

um máximo de 140 toques.

O mais legal é fazer com que fiquem

com exatos 140 toques.

61)Mediunidade? [140 toques]
Passou a ver pessoas mortas. De manhã ou à tarde, não importava, ali estavam. Contato no plano espiritual? Mediunidade? Não, emprego no IML.

62) Diálogo do cão [140 toques]
-Bonito cão. Qual é o nome? -DOCÃO. -Sim, do cão. Qual o nome? -DOCÃO CACETE! - Pô! Claro que é do cão, o seu não me interessa. -EU DESISTO!

63) Texto apagado [140 toques]
Depois de muito pensar, pegou um lápis e escreveu um longo texto ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... a borracha apagou tudo.

64) Briguento [140 toques]
Garoto machão. Briguento, não desculpava ninguém. Saía na mão com qualquer um. Até para a menina não deu moleza. Pior pra ele, apanhou dela.

65) Domingão [140 toques]
Muitos planos para o esperado domingão. Mil coisas para fazer, passear, ver. Acordou cedão, pronto para fugir da rotina. Choveu. Foi ver TV.

66) Príncipe encantado [140 toques]
O sapo encantado esperava pela amada. A princesa chegou, olhou nos olhos dele e, sabendo que o amava, beijou-lhe. ZÁS! E ela virou uma sapa!

67) O namorado pródigo [140 toques]
Pródigo? Nunca seria. Na carteira, que nunca abria, só teias de aranha havia. Ei-lo apaixonado e tudo mudado. Gasta sim, mas só com a amada.

68) Apertado [140 toques]
A barriga roncou. Acelerou o passo. Estava chegando. Correu. Intestino tem instinto? Sabia que se aproximava? Apertou de vez. Não deu tempo.

69) Velho Tebas [140 toques]
Andava com quatro, passou a andar com duas e com toda a experiência, agora anda com três. Não fugiu ao destino. Envelheceu. Maldita Esfinge.

70) Atleta amador, um herói [140 toques]
Sofreu. Patrocínio parco e ele insistindo. Quis ser atleta, conquistar medalhas, o país, o mundo. Competiu, perdeu, venceu. Medalhas suadas.

71) As moedas [140 toques]
As moedas saltavam à sua frente. Ele corria, pegando-as. Abaixava-se para pegar algumas, pulava para outras. Só faltava a grande. Game over.

72) O esnobe [140 toques]
Ele se achava sabido. No barco, pescando, esnobava o caipira que remava. Humilhava o coitado. O barco virou. Era o caipira quem sabia nadar.

72) Perdeu a cabeça [140 toques]
Ela era linda. Ele apaixonado. Esqueceu-se da timidez e declarou-se. Ela consentiu. Fizeram sexo. Ele perdeu a cabeça. Nascera louva-a-deus.

73) Crer ou não crer [140 toques]
Ela cria que ele criava pássaros. Ele cria, disse-lhe um amigo. Não creia; ele não cria, disse-lhe outro. Na dúvida, ela não creu mais nele.

74) Chovia [140 toques]
Amanheceu chovendo. Viu pela janela, desestimulou-se. Mais 15 minutos de sono. Levantou e ainda chovia. Cama. Dormiu de fato, perdeu a hora.

75) O homem ideal [140 toques]
O tempo passava. Ela esperava pelo homem ideal. Vieram João, Pedro, Luiz... Nenhum servia. Tinha esperança. Esperou demais. Ficou pra titia.

76) Engordar ou emagrecer? [140 toques]
Ele, gordo, operou o estômago porque a amava. Ela, magra, engordou porque o amava. Ele magro, ela gorda. Uma triste sina. Desencontraram-se.

77) O voto [140 toques]
Queria votar em um candidato honesto. Analisou os políticos e não achou nenhum. Escolheu quem mais se parecia com honesto. Votou no Ernesto.

78) O barco [140 toques]
A lancha dava voltas cegas nas águas geladas. Um navio passa perto demais dela. Reclamação na margem: - Droga de controle, acabou a bateria.

79) O incompetente [140 toques]
Incompetente para tudo, estava de saco cheio da vida. Resolveu matar-se. Apontou a pistola para a cabeça e disparou. Esquecera-se das balas.

80) Fora da prisão [140 toques]
Esforçou-se para abrir caminho pelas paredes da cela que havia criado. Enfim, saiu da prisão. O mundo à sua frente. Então, a borboleta voou.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Fim e começo

Fim e começoO pequeno mundo de Tiago era tranquilo. Tocava o dia a dia numa calma só.

Tudo o que precisava fazer era saborear a natureza à sua volta, curtir os amigos, brincar e aproveitar ao máximo.

Todavia, como diz o velho ditado, tudo o que é bom dura pouco e, para ele, o grande momento estava chegando.

Ele sentia isso e sabia que não poderia fugir ao destino. Ah... esse inexorável destino.

Tinha medo. Medo? Era pouco, tinha é um verdadeiro pavor daquilo que poderia acontecer.

Não havia conhecido ninguém que tivesse ido e voltado para contar. Somente histórias no ar.

Histórias! Essas sim, ouvira diversas mas não conseguia acreditar. Nesse ponto ele era absolutamente incrédulo e não abria mão disso.

Essas histórias, contos de um outro mundo, eram um verdadeiro horror. Não queria nem imaginar como alguém pudesse viver em um mundo tão sombrio, esquisito e sabe-se lá mais o quê.O que mais o aterrorizava era estar cada dia mais ciente e que o fim estava próximo.

Não havia como fugir. Ia deixar os amigos, a família e tudo o mais. Não participaria mais daquele mundinho perfeito que construíra para si.

Para o jovem Tiago esse mundinho não era bom, era ótimo. Como férias permanentes em que não havia escola ou trabalho; só diversão.

Não queria que acabasse. Que continuasse para sempre - fosse eterno! Afinal nunca acreditara que houvesse vida após a morte.

Questionava-se do por quê da partida. Perguntava a Deus por que sua missão estaria chegando ao fim tão depressa.

Não poderiam dar-lhe uma outra? Um tempinho a mais? Uma prorrogação tal qual nos jogos de futebol com a turma?

Nada! Naquele silêncio total que se fazia, sequer uma meia resposta vinha para aliviar-lhe o sofrimento.

Sentia que era o fim de tudo. Nada mais a fazer, pois tudo acabaria.

Enfim a derradeira hora chegou e a voz de Tiago, como a conheciam, calou-se.

Tiago partiu, deixando um vazio para trás, uma lacuna difícil de ser preenchida. Tinha de ser assim, não havia outra maneira.

Mas, dentre tantos choros pela passagem de Tiago, o chorinho diferente de um bebê fazia-se cada vez mais presente, apesar de longínquo. Parecia estar em outra dimensão...

- BUÁÁÁAÁÁÁÁÁÁ BUÁÁÁAÁÁÁÁÁÁ

- NASCEU! NASCEU! É UM MENINO!

Pois é Tiago, quando chega a hora, todos reencarnamos.

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Contos Twitteranos [3]

 

Contos que, como no Twitter, devem conter

um máximo de 140 toques.

O mais legal é fazer com que fiquem

com exatos 140 toques.

    41) Jiboia [140 toques]
    Um presidente sem estudo. Assinou uma lei e mudou algumas regras. Pobre daquele aluno que aprendeu com dificuldade e agora não entende nada.

    42) Decepção {(140 toques]
    Ela era gamada. Depois da aula ele a levava para casa e acabava batendo longos papos com o irmão dela. É, o interesse era o irmão e não ela.

    43) Virgem [140 toques]
    Guardou-se para a noite de núpcias. Resistira. Agora, enfim sós. De camisola transparente, deita-se na cama com o amado e, cansados, dormem.

    44) Steve Jobs Offline [140 toques]
    Soltou-se a genialidade e a maçã cresceu. Afastou-se e ela quase apodreceu. Voltou e a fruta reviveu. Futuro sombrio com ele offline de vez.

    45) Dois corpos [140 toques]
    Garagem coletiva do prédio. No chão jazem dois corpos inertes. Eram duas vidas. Foram ceifadas na calada da noite. Quem matou as baratinhas?

    46) Felicidade [140 toques]
    homem bradava que pra isso não era preciso dinheiro. Todos poderiam tê-la sem ter nada. Mas do que ele falava? Ora, era da tal felicidade.

    47) Ir ou não ir [140 toques]
    O casamento era às 18h. Eram 17h e ele ainda sem saber se ia ou não. A dúvida persistia, afinal, como explicaria à noiva que não se casaria?

    48) A Pescaria [140 toques]
    Acordou cedo, pegou a tralha e se mandou. Barco na água e anzol lançado. O tempo passa e nada. Esnobara dizendo-se ótimo pescador. PEIXARIA!

    49) O Furão [140 toques]
    Caio, o furão, era o seu xodó. Um dia viajou e, confiante, deixou Caio com o melhor amigo. Na viagem recebe o e-mail: Caio subiu no telhado.

    50) Novo rico [140 toques]
    Ganhou na loteria e sumiu. Ninguém sabia dele. Agora vive como rei, pensavam. Um ano depois volta desiludido. R$ 70 mil não era tanto assim.

    51) Sexo manual >só para maiores< {140 toques]
    Alvoroço geral lá dentro. Começara a função. Os mais afoitos logo se posicionaram à frente. Vai e vem, vai e vem e foram. - O quê? RALO NÃO!

    52) Minha bolinha [140 toques]
    O garoto chora. Perdera a bolinha. Todos a procuraram e não a encontraram. Um dramalhão! Enfim, consolado, enfiou o dedo no nariz fez outra.

    53) Hora da novela [140 toques]
    Ela dorme, roncando, em frente à TV. Ele se aproveita e muda o canal, sem barulho. Não tem saída, ouve incontinênti: - Estou vendo a novela!

    54) Não me separo mais [140 toques]
    Ela o esperava de malas prontas. Não aguentava mais aquela vida. Já não o suportava. Ele entra aos berros: - Querida, ganhamos na mega-sena!

    55) Droga na escola >só para anti-corinthianos< [140 toques]
    Ele usava droga em frente à escola. As crianças viam. As mães quietas. Um senhor notou e gritou revoltado: -Tira essa camisa do Corinthians

    56) No rio [140 toques]
    A tarde entrando e ele nadando no rio. As pessoas julgavam-no um peixe pois há muito estava na água. Ele não sairia. Não até achar o calção.

    57) Platônico [140 toques]
    Amor intenso. Ele, lindão, nem aí pra ela. Ele passava, ela estancava com o coração aos saltos. O elefante nem olhava. Pobre da formiguinha.

    58) Quase tragédia [140 toques]
    O noivo não apareceu. A noiva à porta da igreja chorava e todos o xingavam. Por que fugiu? Não fugiu. Um acidente a caminho o hospitalizara.

    59) Piquenique [140 toques]
    O dia amanheceu lindo. Acordou cedo, teve a ideia e chamou todos para um piquenique. Uma batalha para acordar e convencer a família. Choveu.

    60) A prova [140 toques]
    Prova amanhã. Tinha de estudar. Trancou-se no quarto o dia inteiro. A mãe, tranquila, tinha certeza de que ele iria bem. Maldito vídeo-game.