terça-feira, 6 de março de 2012

Ascensão e queda de uma faxineira

Iriscléia
Nordestina cabra da peste, com ela não tinha tempo ruim. Iriscléia era pau pra toda obra e não tinha medo do pesado.
Chegou a São Paulo com uma penca de filhos a tiracolo e foi logo se encantando com aquela cidade mais que grande, como ela própria dizia.
Eram muitos prédios “altos demais da conta” e aquela novidade toda enchia seus olhos acostumados somente com a vegetação seca da caatinga e uns barracos aqui e ali, todos remetendo ao barroco e ao gótico (sim, porque eram de barro e, quando chovia, tinham goteiras).
Mas, a valente Iris havia chegado na capital dos sonhos para vencer e sustentar com bravura os filhos. O marido? Aquele malandro havia fugido, debandado lá para os lados do Acre com uma rapariga 20 anos mais jovem que ele.
Iris não perdeu tempo, aprendeu logo o ofício de faxineira, para o que não precisava saber ler e escrever, e lá foi ela competirndo consigo mesmo, buscar o melhor, para ser a melhor faxineira daquela cidade enorme.
Fez que fez. Esperta, aprimorou-se, reciclou-se (embora não soubesse o que isso significava) e passou a ter várias clientes.
A ascensão foi rápida e logo ela já trabalhava sem parar, conseguindo não só tirar o sustento para os filhos como também mantê-los estudando para que não fossem analfabetos como ela.
Nunca fora tão feliz na vida.
No trabalho não dava moleza sequer às menores partículas de poeira, estivessem onde estivessem, nenhuma conseguia esconder-se das flanelas, espanador ou daquela máquina incrível que conhecera recentemente - e da qual não tinha mais medo - o aspirador de pó.
Não importava o andar em que o apartamento a ser limpo fosse localizado. Pendurava-se nas janelas para deixar os vidros invisíveis de tão limpos, por dentro e por fora.
As patroas, quando viam a cena, arrepiavam-se e pediam a ela que saísse dali, pois era muito perigoso.
- Não se preocupe dona, eu sei bem o que estou fazendo e não há perigo, não. Dizia e continuava pendurando-se dada vez mais, com o corpo quase que totalmente para fora.
Aquilo era necessário. Tinha de ser a melhor, deixar tudo 100% limpo para garantir os trabalhos e cuidar dos filhos, o maior tesouro de Iriscléia.
Mas, foi em uma oportunidade dessas que Iris vacilou.
Estava tentando limpar o vidro daquele janelão enorme do 15º andar e não estava conseguindo.
Lançou mão da escada, posicionou-a junto à janela aberta, subiu, pôs o corpo para fora e passou a limpar o vidro. Teve de raspar para tirar aquela sujeira grudada e... aconteceu.
A patroa havia visto Iris pegar a escada e perguntou para que era.
- Vou alcançar a parte de cima do vidro da janela da sala. Não está dando para limpar.
- Iris, não seja louca. Não ponha a escada perto da janela.
- Ora, dona Juliana, eu sei bem o que estou fazendo.
Tocou o interfone e a patroa foi atender, desviando a atenção do assunto. Iris aproveitou-se, saiu de mansinho e subiu na escada.
De repente, um barulhão de algo caindo, um grito.
O filho mais novo de dona Juliana, que brincava na sala, entra chorando na cozinha e, aos prantos, fala para a mãe que a Iris havia caído da escada, da janela.
Décimo quinto andar, não tinha como alguém se salvar de uma queda dessas.
Juliana entrou temerosa na sala, sem saber se teria coragem de olhar pela janela e ver, lá embaixo, o corpo estatelado de Iris.
A queda, algo que sempre a preocupava já que a faxineira era mesmo atrevida, acontecera. Logo naquele dia em que acordara com um péssimo pressentimento.
Não tinha jeito, entrou na sala, viu a escada caída e, ao lado dela, Iriscléia reclamando de uma dor no braço.
Sim, Iriscléia, por sorte, caíra para o lado de dentro e não para fora do prédio.

4 comentários:

Janice Maninha disse...

Pra variar....you are the best, I loved it. Kisses my brother. Miss you a lotttttttt

Ana Karine disse...

Nossa! Graças á Deus, que o pior não aconteceu.
Que esse susto, sirva de exemplo para muitas guerreiras.
Que arriscam suas vidas, para garantir o sustento da família.

Ally Cristina disse...

Infelizmente as secretárias do lar, não tem consciência do perigo de queda ou mesmo com o próprio vidro.
Por sorte Iriscléia teve a sorte de não se ferir, e assim continuar na luta para criar seus filhos.
Gostei muito do conto...começamos a ler, e logo queremos saber o que aconteceu com ela...

Maiza disse...

Muito bom o textoo...adorei a coincidência de eu ter postado um post nu face e você ter um texto falando sobre o assunto...adorei muito bomm....mi avisa sempre qnd tiver textos novos....ja salvei o blog,pra da uma olhadinha sempre.....=]