Antes das 5 horas da manhã ele acorda desesperado. Pega o telefone e disca sem pensar em hora ou outra coisa qualquer - a preocupação é uma só.
- Alô? Diz uma voz sonolenta do outro lado da linha.
- Doutor! Meu pinto sumiu! O que eu faço?
- Hã? Como assim? Ele estava aí ontem à noite, quando saí. Respondeu ainda com voz de sono e sem entender muita coisa.
- Não sei Doutor, só sei que o dito cujo sumiu. O que eu vou falar pra minha mulher?
Desligou o telefone e voltou a procurar. Beliscou-se, afinal poderia ser um sonho, pois, não poderia, de forma alguma, estar acontecendo.
Olhou embaixo da cama, no banheiro, na sala, nos outros cômodos da casa... nada. Saiu para o quintal e logo deparou-se com o cachorro com cara de quem havia acabado de comer algo e estava satisfeito.
Não, não podia ser. Esse não seria um final feliz para quem prometia ainda dar muitas alegrias.
Deixou aquela impressão pra lá e continuou a busca.
Passou a manhã inteira e nada de encontrar. O pior é que a esposa chegaria no meio da tarde e, claro, o pinto tinha de estar no lugar dele.
Que vida maluca era aquela? Que dia mais doido estava tendo. Por que não acordava e acabava com aquele pesadelo?
A mulher viajara para o enterro da Joaquina, que lhe era muito querida, e havia deixado a casa e tudo por lá para que ele tomasse conta e estivesse tudo certinho para quando ela voltasse.
Tudo estava certo, menos... menos... ai meu Deus!
Ligou de novo para o Doutor:
- Doutor, nada ainda. O que eu faço?
- Calma, eu estou indo aí para ajudá-lo.
Chega o Doutor e encontra o pobre coitado, já completamente desanimado, sentado na cadeira de balanço na varanda da casa.
- Olá Jonas, diga-me com calma o que houve.
- Como calma Doutor? Não dá para ter calma nesta hora. Eu estou muito preocupado. E até com medo.
- Ora meu amigo, um pinto não pode sumir assim. Deve estar em algum lugar por aí.
- Já olhei em tudo, Doutor. Nada de achar.
- Se não o acharmos, o que sua mulher vai dizer?
- Dizer Doutor? No mínimo não vai querer mais nada comigo e ainda me expulsar de casa.
- É, você está mesmo em uma enrascada danada de ruim. Ainda mais com a morte da Joaquina.
- Nem me lembre Doutor. Ela seria a salvação da lavoura.
- Bom, disse o doutor, vamos pensar juntos e tentar dar um jeito na situação. Duas cabeças pensam melhor que uma e amigo é para isso também.
- Mercado! Vamos lá comprar outro! Gritaram quase juntos.
E lá foram os dois amigos, correndo ao mercado para comprar um pinto novo e substituir o sumido.
Azar! Não havia nenhum pintinho carijó à venda, a galinha de estimação, a Joaquina, havia morrido e não botaria mais ovos. Acabava ali uma descendência que estava com a família havia mais de 15 anos.
E a culpa era dele, que não tomou conta do pinto direito.
É... ferrou!
Nenhum comentário:
Postar um comentário