domingo, 6 de outubro de 2013

Triste fim do Homem-Aranha

clip_image002Guilherme, de apenas quatro anos, havia incutido na sua cabeça que era o Homem-Aranha, personagem favorito de todos os heróis que conhecia. Incutido era pouco. Para sua mãe era algo doentio e isso a preocupava.

Para tentar tirar a mania da cabeça do Gui, a mãe sempre brincava de super-herói e ela, invariavelmente, escolhia ser o Homem-Aranha, obrigando o menino a escolher um outro herói.

Sabendo que se não fizesse isso, a brincadeira com a mãe não rolaria, ele, claro que não sem antes reclamar e muito, abria mão e escolhia um super-herói qualquer.

Na escolha não importava muito qual seria. Poderia ser o Super-Homem, o Thor, o Aquaman, o Hulk... qualquer um, pois não faria diferença. O importante era brincar com a mãe.

Wanessa, a mãe do Gui, sempre preocupada com as manias do garoto, levou-o a uma psicóloga para que ela analisasse o caso.

“Tia Ally” como ela carinhosamente apresentou-se ao Gui, logo ganhou a confiança do menino e, de cara, tornaram-se grandes amigos. Ela soubera conquistá-lo e, com isso, fazer o jovenzinho abrir-se para ela.

Diagnóstico: aquilo era apenas uma fase, algo que passaria com o tempo, com a chegada da escola na vida do menino e com as novas experiências que vivenciaria. O tempo seria determinante, o remédio ideal.

Mas a mãe queria acabar logo com aquilo, já que era um verdadeiro incômodo. Não podia vestir qualquer outra roupa para saírem – tinha de ser a do Homem-Aranha.

Com isso o guarda-roupa de Gui estava abarrotado de roupas do personagem favorito.

Festa? Fosse qual fosse, lá ia o Gui de Homem-Aranha. Para a mãe, algo chato já que as amigas comentavam que ela não tinha poder sobre o filho, que o filho mandava nela etc etc etc.

Ela sabia que eram fofocas de quem não tinha mais o que fazer, mas, mesmo assim, tomou uma resolução definitiva.

Ignorando os conselhos da psicóloga, ela começou a agir, por conta própria, para que o menino perdesse aquela mania.

Tanto fez que em uma tarde chuvosa, presos em casa, ela lançou a ideia ao garoto: - Vamos brincar de super-herói? Quem você quer ser?

Mais que depressa e sem pestanejar, veio a resposta: Homem-Aranha, hoje eu que vou ser o Homem-Aranha.

Wanessa, já esperando por aquela resposta, começou a falar maravilhas sobre o Wolverini. Tirou do armário uma fantasia que havia feito especialmente para a ocasião e mostrou-a ao menino.

- Puxa mãe, ficou muito legal a roupa do Wolverine mas... - Mãe. Desta vez. Só desta vez, posso escolher o herói que eu quiser?

- Por que filho?

- É que hoje pode ser minha despedida do Homem-Aranha.

Aquilo mudou tudo. Pensando que a mania de Homem-Aranha do filho estivesse acabando, ela permite, seria um bom teste para comprovar.

- Legal mamãe. Então eu vou ser o Homem-Aranha!

- Como, Gui? Pensei que você tivesse esquecido disso - tentou uma última vez.

- Mas, mamãe, assim você pode vencê-lo. Ele morre no final da brincadeira e eu nunca mais vou ser o Homem-Aranha.

- Ah bom. Falou uma mãe compreensiva e meio derrotada. - Se é assim, está bem.

- Até já sei como ele morre. Continuou Guilherme. - Ele, envergonhado pela derrota, se enforca e tudo acaba.

E assim transcorreu a brincadeira. A mãe, assumindo ser a Mulher-Maravilha, levou a brincadeira por quase duas horas.

Precisando ir cuidar do jantar, simularam uma briga no final, em que a super-heroína imobilizara o Homem-Aranha com seu laço invisível e o derrotou.

Acabou a brincadeira, a mãe foi à cozinha fazer o jantar e Gui dirigiu-se ao quarto dizendo que seu ex-personagem favorito ia se matar.

Alguns minutos de barulhos normais vindos lá do quarto, ouvidos da cozinha, e, de repente algo chamou a atenção.

Um barulho estranho, um grito cortado por uma tosse engasgada e... silêncio.

A mãe parou. Estática, tentou ouvir alguma coisa... Nada!

Correu para o quarto e lá se deparou com aquele pedaço de fio elétrico pendendo do trinco da janela, amarrado ao pescoço... O filho quieto, inerte.

Ela não conseguia acreditar naquela cena que os próprios olhos testemunhavam. O coração apertou e doeu pra valer.

Gui, com a fantasia de seu personagem preferido jogada ao chão, parado no meio do quarto e em completo silêncio, apenas observava o boneco do Homem-Aranha pendurado e “enforcado” com o fio do abajur ali na janela.

Era o fim do Homem-Aranha.

Um comentário:

Ally Cristina disse...

Adorei minha participação especial!!!