segunda-feira, 29 de julho de 2013

O Mulherengo

O Mulherengo JUL2013

Ilustração feita pelo Luiz Rafael da Caricômicos,

um parceiro indicado por este Blog.

Clóvis era um mulherengo, desses sem noção, mas de muito bom gosto.

Se visse um “rabo de saia dando sopa”, como costumava falar, analisava a presa atribuindo-lhe uma nota de 0 a 10, somando os atributos e tirando uma média.

Com média acima de sete não havia escapatória. Era o suficiente para ele mostrar as garras mais que afiadas e ir para o ataque.

A partir daí, a moça não tinha mais sossego. Era comprometida? E daí? Clóvis não era ciumento.

Solteirão convicto, volta e meia saía com o pessoal do escritório par as caçadas noturnas e a turma, mesmo os casados, topava.

Bem, nem todos. Havia o Zezão.

Zezão não, José Barbosa das Quintas, um cara jovem e bastante sério. Sério demais.

Levava uma vida diferente dos demais daquele escritório. Adepto dos esportes marciais, preferia ir para a academia a sair com o pessoal.

Até porque o Zezão era noivo da Carol, uma tímida garota que frequentava a igreja com os pais. Os sogros formavam um casal tradicional, bem conservador, com o valor família muito arraigado, algo que para o Zezão era um sonho de felicidade.

Criaram a filha com tais valores. Era impossível trair a Carol.

Como fazer isso com aquele pedaço de céu? Se ela se guardava para ele, ele tinha mais que obrigação de se guardar para ela. O casamento não estava longe.

E este era um campo terminantemente proibido para brincadeiras, do qual os amigos mantinham distância. Quem iria arrumar confusão com aquele gigante lutador de Jiu-Jitsu e outras?

Zezão era uma moça no trato com todos, mas, em se tratando da Carol... sai de baixo.

Claro que, entre eles, mesmo sem conhecer a Carol pessoalmente, faziam numerosas brincadeiras sobre os dois “brigando” na cama, sempre acabando com um “coitada da menina”.

Toda vez que marcavam uma saída para um “safári”, o divertido era insistir com o Zezão. Cada um por sua vez.

O coitado ia dando explicações com paciência do por quê recusava o convite, até que não agüentava mais e estourava. Perdia a paciência.

Objetivo alcançado, a turma parava de atormentar o grandão, deixando-o com um sentimento de culpa. Como podia ele brigar se os amigos só queriam vê-lo divertindo-se?

Mal sabia ele que a intenção era essa mesma.

Cientes de que ele não iria, provocavam-no e o sentimento de culpa tornava o Zezão uma moça no dia seguinte. Ajudava todo mundo e ainda cobria os que, por ventura (e pela noitada) chegavam tarde.

Certa vez contrataram uma moça para ir até o escritório brincar com o Zezão. Era aniversário dele e levariam um bolo para comemorar. Bolo e presente.

No final da tarde, Clóvis desce para pegar um documento na portaria do prédio e, na volta, pega o elevador com uma bonita morena de olhos verdes e corpo mais que escultural.

- Vai para qual andar, jovem? Perguntou, já jogando um olhar diferente.

- Décimo, por favor.

- Eu também vou para esse andar. Trabalho na JR.

- Ora, é para lá que estou indo. Eu...

Quando ela ia terminar a frase, um Black out. Elevador parado e só uma tênue luzinha de emergência tentando iluminar o lugar.

Deviam estar lá pelo 5º ou 6º andar, mas Clóvis nem pensava nisso.

Seus olhos, atenção, libido, senso de garanhão caçador... tudo estava voltado para aquela obra magnífica à sua frente e sem lugar para fugir.

--- Caramba, pensou, o Maurício caprichou quando contratou a menina para azucrinar o Zezão. Mas, lamento pelo pessoal pois, aqui sozinho, preso com ela... já era!

Aí começou com a conversinha para boi dormir e, sem que ele esperasse, ela pulou em cima dele.

- Adoro esta sensação de perigo. Saber que a luz pode voltar a qualquer momento mexe muito comigo e não resisto à tentação de me soltar.

O que se seguiu a partir dali foram algumas lições de primeira. Clóvis sentia-se no jardim de infância.

E ela lá, fazendo coisas que eram novidades até para aquele garanhão que achava saber de tudo e mais um pouco. Boquiaberto, ia concordando e aceitando tudo.

Uma loucura geral, inenarrável. Dentro daquele elevador era ele quem não tinha para onde fugir e só pedia para que a luz não voltasse nunca mais.

Mas, voltou. Foram cerca de 20 minutos de uma completa aplicação do Kama Sutra – para Clóvis não havia outra explicação ou algo que melhor definisse o que ocorrera dentro daquele elevador.

- Menina, precisamos nos encontrar mais vezes. Disse um ofegante Clóvis enquanto se arrumava.

- Gostou? Eu também gostei muito.

- O Maurício, quando a contratou, sabia bem o que estava fazendo.

- Hã? Que Maurício? Ninguém me contratou.

- Não? Ué, eu pensei que... bem deixa pra lá. Eu sou o Clóvis. Qual o seu nome?

- Carol!

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