domingo, 26 de maio de 2013

A grande jornada

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Ilustração feita pelo Luiz Rafael da Caricômicos,

um parceiro indicado por este Blog.

Henrique tinha apenas 13 anos de idade, mas um espírito aventureiro comparável aos dos grandes navegadores e exploradores da história, como os portugueses Bartolomeu Dias que primeiro dobrou o Cabo da Boa Esperança ou o conhecido Vasco da Gama que muito navegou da Europa para a Índia no início dos anos 1500.

Era fã também do italiano Marco Polo e suas expedições à China entre o final de 1200 e início de 1300, uma época em que viajar não era nada fácil. Robert Peary e Frederick Cook que brigam entre si pela primazia de primeiro ter chego ao Polo Norte, também estavam no seu rol de ídolos.

Mas havia um em especial. Um que ele tivera a oportunidade de conhecer e ter os livros autografados: Amyr Klink. Sim ele possuía todos os livros deste aventureiro brasileiro – e autografados com direito à dedicatória.

Um tesouro do qual não abria mão.

Fica fácil imaginar o sonho desse adolescente: velejar mundo afora, conhecer lugares.

Via-se aportando na Cidade do Cabo, ponto de encontro de navegadores de todo o mundo.

Via-se cruzando com os grandes navios na imensidão dos mares. Algo que, com certeza, teria de ter bastante cuidado, pois ser atropelado por um deles era algo inimaginável.

Ouvira histórias de navios chegando aos portos com pedaços rasgados de velas presos à âncora. O que teria acontecido não se sabia, mas era certo de que alguém havia sofrido um sério acidente por não estar atento.

Os livros de Klink foram consumidos ao extremo. Sabia-os de cor e salteado. E foi além.

Adquirira mapas de navegação, livros sobre marés, ondas, correntes marítimas, clima, nuvens e tudo o mais que precisaria conhecer para arriscar-se em sua primeira grande aventura.

Jovem, tinha tempo de sobra e durante as férias não fazia outra coisa a não ser estudar rotas, o povo de cada lugar em que pudesse ter o veleiro atracado, leis e costumes locais.

Preparava-se com afinco. Quando chegasse a hora, ninguém o deteria.

Play Station, Wii e afins, por mais difícil que se possa imaginar, não passavam nem perto do sentido de diversão para aquele garoto de 13 anos. Bem diferente de toda a turma.

No Ipad que levava sempre consigo não havia jogos. Havia e-books sobre expedições e navegações, mapas e rotas. Ele vivia conectado como qualquer garoto de sua idade, só que com um outro mundo.

Chegou um momento, nas férias do final do ano que ele creu estar preparado. Tinha na cabeça todo o trajeto da primeira aventura, tempo de navegação, o que levar, horário para descansos – nenhum detalhe havia lhe escapado.

Ia sozinho, como o Amyr Klink quando atravessou o Oceano Atlântico a bordo do IAT, um barco a remo ou na invernagem com o Paratii , sempre sozinho.

Tinha para si as palavras do ídolo: “Para não viver em portos, e navegar. Para fazer passar por suas janelas o mundo, e, um dia, voltar". Este era o maior dos sonhos.

Mas, Henrique tinha um grande problema: sendo menor de idade tinha de pedir tudo à mãe, Dona Eliza, e ela não gostava dessa história de ver o filho na água, sozinho.

Como quem tem espírito aventureiro sabe que o sangue está contaminado de forma crônica e esse espírito sempre fala mais alto, Henrique deu um jeito.

O grande galpão do avô foi o lugar perfeito para que tudo fosse preparado.

Não tinha os recursos e nem a chance de obter patrocínios como Amyr, mas tinha a mesma garra.

Sozinho, às vezes tendo a ajuda do avô, seu cúmplice na façanha, ia aprontando tudo. Aos poucos o barco foi recebendo alguma comida, água potável, GPS, bússola e todo tipo de equipamento, inclusive para reparos de emergência.

Finalmente chegou o grande dia. Henrique saiu escondido da mãe e com a ajuda de seu único cúmplice, o avô, lançou-se às águas, em direção à aventura.

Com o veleiro desatracado do píer, levantou vela e partiu. Poucos metros de navegação, por um descuido, a mochila com o GPS, a bússola e outros equipamentos de orientação, caiu na água. Perdidos!

Voltar? Desistir? Nem pensar.

Se voltasse no primeiro revés, jamais sairia de novo.

E lá foi ele. Coragem tinha de sobra. Apenas estava corroborando, mas só um pouco, com a fala de alguns amigos: faltava-lhe um pouco de bom senso.

O espírito aventureiro falou mesmo mais alto e ele sabia que, uma vez lançado às águas, velejaria ao sabor do vento, rumo ao desconhecido. Talvez uma aventura que nem mesmo o mestre Klink ousaria viver.

Navegando, afastava-se cada vez mais da terra. Pena que não iria muito longe naquele pequeno lago na chácara do avô.

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