Fred nasceu em uma noite quente de primavera. Não chorou, como normalmente fazem os bebês; apenas resmungou, mamou e dormiu aninhado no colo da mãe.
E assim levava sua vidinha de nenê mimado pela mãe sempre atenta.
Era ele se mexer e lá estava ela de prontidão, abraçando-o junto ao corpo como que para protegê-lo.
Mas Fred não era um bebê qualquer. Desde cedo mostrara-se bastante observador.
Curtia a mãe, o pai, a família cheia de primos. Reconhecia cada um deles embora ainda tivesse algum problema de comunicação, afinal, era uma época de aprendizado, o que incluía a comunicação.
Como observador ávido a aprender o máximo, Fred analisava, dentro de sua cabecinha, tudo o que via e era evidente que aconteciam coisas estranhas.
O mais estranho, para ele, era também o mais intrigante: quase todos de cabeça para baixo.
Os pais nunca comentavam nada e isso atiçava ainda mais a curiosidade de Fred que acreditava ter algum problema de visão. “Sei lá, será que meus globos oculares são invertidos?” pensava o jovem com seus botões.
Como podiam viver de ponta cabeça? O sangue não invadia o cérebro deles? Não dava para se equilibrar daquele jeito. Meninos jogando bola às avessas? Como conseguiam?
Sim, havia várias perguntas e o pequeno Fred, sem respostas, era um mar de dúvidas e, ainda pequeno, não tinha como perguntar à sua mãe.
“Um dia saberei como falar com a mamãe e ela vai saber explicar tudinho” – pensava Fred.
Todos pareciam artistas saídos daquele circo maluco em que a mãe o levara certa vez.
A mãe, ensinando-lhe tudo o que podia, sempre dizia que a natureza era assim mesmo, às vezes meio esquisita, mas perfeita.
Como assim? Esquisita e perfeita?
A vida de um bebezinho curioso era mesmo sofrida. Que ânsia de aprender e haja paciência para esperar.
Fred não via a hora de ser independente e sair pelo mundão afora, ver tudo e, finalmente compreender.
As árvores cresciam para baixo e era impossível ser normal, muito menos, perfeito.
Não podia ser. Fred tinha de saber como tudo funcionava e o por quê de todos viverem de cabeça para baixo. Se a Natureza era perfeita - a mãe nunca mentia - o problema estava nele.
Angustiado, Fred tentava de toda maneira dizer à mãe o que se passava, o que via e sentia, mas não conseguia - era ainda muito pequeno.
Aquele nenê, esperto demais para a idade, sofria cada vez mais com aquela situação impossível de ser compreendida. Fred não via a hora de crescer, poder comunicar-se à vontade e, finalmente, compreender toda aquela bagunça.
Se fosse aquela questão do globo ocular virado alguém daria um jeito. Com certeza haveria algum doutor especializado no assunto e iria salvá-lo daquela situação incômoda.
Como a espera seria longa, Fred tinha de continuar vivendo e driblando as dúvidas que não conseguia, sozinho, compreender e dar-lhes um fim.
Assim, o pequeno fazia seu dia a dia transcorrer, distraindo-se ora com a mãe, ora com o pai ou com os primos ou com qualquer brinquedinho que lhe caía nas mãos.
Fred tinha apenas uma certeza: melhor mesmo viver em um mundo normal, com a família ao seu lado, tentando deixar aquele mundo exterior de cabeça para baixo não lhe esquentar os miolos.
Ah... - pensava Fred -... nada como ser morcego e viver normalmente.
Um comentário:
Nossa, o que me deixou mais intrigada na história foi comentar que ele apenas via as PESSOAS de cabeça para baixo, mas seus pais não e nem seus primos. hahaha querendo ou não, logo que pensamos em bebê, nos vem a cabeça o humano e algum raciocínio que nos explique o que é. Nunca pensaria em morcego! Muito legal!
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