terça-feira, 8 de maio de 2012

O crime compensa?

PARE

Quando a namorada o convidou para assistirem a O Assalto ao Banco Central, Dennys foi sem qualquer pretensão. Era somente mais um filme.

Todavia, aquele filme mexeu com o jovem, alimentando sua sagacidade. Não era, de forma alguma, mais um filme, era uma grande ideia e poderia ser posta em prática.

Dennys voltou outras vezes ao cinema e assistiu tanto àquele filme que sabia as falas de cor e salteado.

Todos os detalhes foram absorvidos por completo. Concomitantemente, lançou mão de jornais da época, relatos na internet, devorou o máximo possível de informações sobre o grande assalto.

Poderia ser uma ideia descabida para um rapaz simples, do povo, que jamais sequer furtara uma flor de um jardim. Mas, aquele assalto realmente mexeu-lhe com os brios e virou ideia fixa: tinha de repetir a façanha daqueles homens destemidos e tinha de se dar bem.

Pensou exageradamente em cada detalhe. Escolheu o alvo com atenção e muito cuidado.

Não queria sair bilionário. Milionário já estava de bom tamanho.

Selecionou a dedo a equipe, do menor tamanho possível. Alugou uma casa próxima àquela agência bancária que, mensalmente, pagava os trabalhadores das fábricas ao redor e sempre tinha muito, mas muito mesmo, dinheiro em caixa.

Precavido fizera as contas por baixo: cerca de dez mil trabalhadores com uma média de cinco mil reais cada um, seria algo em torno de cinquenta milhões de reais.

Sim, era o suficiente.

Analisou os prós e os contras, estudou em detalhes cada erro cometido pelo bando do assalto original e, depois de uns três anos de intensos trabalhos considerou-se pronto para pôr o plano em prática. Finalmente a teoria iria sair do papel.

Fez tudo certo, sem pressa. Absolutamente tudo dentro dos planos.

Escavar o túnel levou o tempo esperado, a desembocadura exatamente no local planejado e todo o dinheiro lá, esperando por eles.

Haviam gasto três meses para chegar no destino e estavam cansados porém, com aquela “visão monetária” à disposição, o cansaço foi embora

Pegaram as grandes sacolas e guardaram todo o dinheiro que estava no cofre - só deixaram as moedas, pois eram peso demais e pouco valor.

Voltaram pelo túnel e o desmancharam desde o final, junto ao cofre, até alguns metros depois do desvio feito para ludibriar quem por ali passasse, afastando-o da entrada naquele pequeno quarto da casa alugada.

Na casa, todo o dinheiro ficou armazenado em paredes falsas, onde ficaria por, no mínimo, três anos. Precisavam deixar tudo esfriar, a mídia esquecer o caso para, então, buscar a dinheirama.

Desta última parte do plano, somente Dennys e seu fiel escudeiro, Pedro Henrique, conheciam. Todo o resto do bando já havia dispersado.

Foram os três anos mais longos da vida de todos. Até que chegara a hora derradeira.

Dennys e Pedro Henrique rumaram para a casa que continuava ali e fora habitada normalmente por uma família que jamais desconfiara do que havia dentro daquelas paredes. O contrato do subaluguel expirara e, como combinado, o imóvel havia sido entregue.

Na calada da noite, sem despertar suspeita, estacionaram a Kombi em frente, abriram as paredes e foram depositando as sacolas, uma a uma, no centro da sala.

Tudo pronto, Pedro foi abrir a Kombi e, ao sair, surpresa!

A perua? Onde está a Kombi?

Pois é, havia sido roubada. Denys indignou-se: não havia mais gente honesta neste mundo? Como poderiam ter furtado uma Kombi velha que não chamaria a atenção de ninguém?

Perdeu a paciência e sabia que tinham de sair logo dali. Então, o sentimento dominou a razão e ele tomou a primeira decisão não previamente calculada.

Estancou-se no meio da rua com a arma em punho. Parou, no grito, um carro que vinha descendo a rua, fez descer o casal. Mas o carro, um Fiat Palio era pequeno demais para todo o volume a ser carregado.

Pedro Henrique, que estava com Dennys, viu um outro par de faróis subindo a rua e não pensou duas vezes, afinal não podiam perder a oportunidade já que não sabiam quando passaria um outro carro por aquela rua deserta.

Parou estático no meio da rua, tal qual fizera Dennys, e, quando foi dar a ordem para o carro parar, engoliu em seco.

Por que tinha de ser logo uma viatura da ROTA?

3 comentários:

Eda Alvarez da Silva disse...

Gostei...gostei...gostei!!!

Mas, ninguém merece tanta má sorte. Que cabeça a sua.
Parabéns!

Leonardo Amaral disse...

;)

Luis Antonio Braga Braga, via Facebook disse...

"Genial" amigo Carlos Freire, mais um conto formidável parabéns!!!!