Antes que vocês leiam minha primeira crônica, um esclarecimento: Ela foi escrita no segundo ano do curso de jornalismo, na disciplina de Língua Portuguesa e, se querem saber, gostei de escrever crônicas. Aí vai:
Naquela noite de quarta-feira a professora de língua portuguesa do curso de jornalismo, após algumas explicações, deixou-nos com uma incumbência: teríamos de escrever uma crônica, objeto daquela aula.
No momento não me preocupei muito, afinal era somente mais um texto. Todavia, analisando as palavras ditas para a classe naquela noite, vi que havia, sim, algo diferente e não era um simples texto.
Aproveitei o domingo seguinte àquela quarta-feira, bem de manhãzinha com todos em casa ainda dormindo, até a Hanna, nossa cadelinha shi-tzu, estava em um sono só, e lá fui eu dar tratos à bola para escrever minha primeira crônica. Comecei então a lembrar das palavras da professora e determinei para mim mesmo que minha crônica teria um personagem de fora, não seria eu a protagonizá-la.
Bastou isso para que meus olhos e ouvidos começassem a ver e ouvir o que acontecia ao meu redor naquela manhã. Sentado na cadeira de praia, aproveitando o sol que batia na área de serviço do apartamento, notei um bem-te-vi na antena do prédio ao lado, soltando piados altos, talvez chamando uma namorada... sei lá.
De repente, não havia mais aquele silêncio de há pouco e instaurara-se uma barulheira danada. Eram algumas pombinhas arrulhando aqui e ali, um papagaio que latia, imitando os cachorros da vizinhança, o cachorrinho de outro vizinho que uivava, vizinhas conversando de suas janelas e um rádio que insistia em tocar músicas bregas. Parecia que todos haviam ouvido aquela conversa que eu tivera comigo mesmo e queriam protagonizar minha primeira crônica.
Barulho na cozinha... alguém acordou e deu bom dia. Compenetrado vi que eram minha mulher, as duas filhas e a Hanna. Respondi ao bom dia, expliquei meu problema e voltei aos meus devaneios sobre o que escrever. Era a primeira crônica e tinha de ser especial.
Novamente barulho na cozinha, agora de panelas. Já está perto da hora do almoço? Nossa, preciso correr... Quede a inspiração? E o protagonista? Minha filha caçula chama para o almoço. Caramba! Passei a manhã inteira aqui e não consegui escrever minha primeira crônica. Ou consegui?
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