quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Utopialândia

UtopialândiaAlexandre adorava o país em que vivia. Não o trocava por nenhum outro, fosse qual fosse.

O ensino era de primeiro mundo, com alunos respeitando professores e querendo aprender cada vez mais; todos com fome de ensino e aprendizagem.

Os livros das bibliotecas não tinham tempo de pegar poeira, pois não paravam quietos. Sempre havia alguém retirando este ou aquele livro e devorando suas páginas como um chocólatra devora um ovo de Páscoa.

Às aulas, todos compareciam e prestavam a maior atenção a qualquer vírgula. Tudo era considerado importante.

Em casa, as famílias sempre faziam as refeições com seus componentes sentados à mesa e mantendo conversas agradáveis para não atrapalhar o momento.

Os amigos eram Amigos e não simples conhecidos.

Que dizer dos políticos?

Os poderes executivos do país, nas três esferas, eram governados por homens ou mulheres cientes de suas responsabilidades para com a pátria.

Qualquer cargo nas empresas públicas, principalmente os de gerência para cima, eram dados a pessoas capacitadas e não a esta ou àquela pessoa ligada a determinado partido, como se fosse uma moeda de troca.

Os que haviam sido eleitos para os cargos no legislativo compareciam em massa, sempre lotando as assembleias e discutiam leis que, de fato, faziam sentido e sempre em prol do país.

Sim, havia os a favor e os contra o governo, afinal oposição era considerada altamente saudável.

O diferencial naquele país era que, se o governo apresentasse um projeto bom, a oposição votava a favor sem pedir nada em troca. Não era preciso nomear um diretor de uma estatal para que determinado partido votasse a favor - não se negociava cargos; tudo era pensando no país e no bem estar da população.

Óbvio que nem tudo eram flores. Havia aqueles que viviam à margem da sociedade e praticavam furtos, roubos e toda espécie de crime.

Contudo, a polícia era eficiente e a justiça séria e dura.

Idade de 15 anos apenas e roubou algo de alguém? Se tinha idade para roubar, tinha idade para responder pelo crime. Era julgado e, se condenado, preso normalmente e não apreendido para ser solto dali a pouquíssimo tempo

Ninguém estava acima da Lei. Até os policiais usavam cintos de segurança nos carros e os de moto usavam o capacete com a viseira abaixada - todos sabiam de suas responsabilidades e de que tinham de dar o exemplo.

As cadeias eram como hotéis e cada “hóspede” pagava por sua estada. Os presos tinham que trabalhar para seu sustento, cujas despesas não saíam dos cofres públicos.

Auxílio reclusão? Não! De forma alguma.

O auxílio que existia naquele país era o Auxílio Vítima.

Se por acaso alguém viesse a matar um arrimo de família, a família do criminoso passava a pagar uma pensão vitalícia à família da vítima para ajudar em seu sustento.

Com tal sistema, era preciso pensar muito se realmente o crime compensava. As cadeias eram cheias sim, mas de celas vazias.

Alexandre vivia feliz. Estava noivo de Mônica e iam casar-se dali a poucos dias.

Apartamento comprado por um sistema de financiamento que não sufocava os compradores, sem valor residual ao final do contrato e taxa excelente, fruto de um programa do Governo Federal que dava chances a qualquer um ter sua casa própria onde quisesse e não pseudo-casas, ditas populares, em bairros afastados como ele próprio já vira.

A estabilidade do país em termos econômicos permitia que se fizessem planos a perder de vista, haja vista que a inflação era praticamente zero e não havia risco de uma deflação.

Possuir um automóvel novo também não era problema. Com impostos baixos e excelentes vias, era fácil.

Abastecer o veiculo também era tranquilo, visto que o país era autossuficiente em petróleo e o preço da gasolina era baixo - só perdendo para o preço do álcool; as plantações de cana e usinas espalhavam-se e o preço do etanol era mais que justo, já que não vinha inflacionado pela ganância, fosse dos produtores ou do governo.

Vida excelente.

Ruas limpas, lixos recicláveis sendo separados pela própria população e levados pelas prefeituras para usinas de tratamento. Lixos orgânicos transformados em combustíveis que alimentavam os prédios públicos. Os famigerados lixões não existiam.

Todos os prédios contavam com sistema de coleta de água das chuvas, a qual era devidamente utilizada nas lavagens de áreas comuns, calçadas ou descargas dos banheiros. Tudo era aproveitado.

E o grande dia chega. Casório!

Alexandre acorda depois de uma linda, tranquila e revigorante noite de sono. Sai da cama todo feliz e, como sempre, põe o pó de café e a água na cafeteira, liga o aparelho e se senta à mesa para esperar pelo café fresquinho.

Enquanto espera, abre o jornal e...

Não acredita no que vê.

A manchete do jornal tira toda sua tranquilidade.

Ele cai na real! Adeus Mônica, adeus casamento!

E, grita desapontado:

- Era tudo sonho! Por que fui acordar?

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