sexta-feira, 18 de abril de 2014

Almas roubadas

A TrevaLauro teve uma vida tranquila até que completou seus 19 anos de idade.

A partir daí, coisas estranhas, muito estranhas começaram a fazer parte de seu dia a dia.

Tudo começou em um final de tarde de uma noite quente de verão.

Sozinho em casa e assistindo a um programa qualquer no televisor, sem dar-lhe importância, o rapaz sentiu um calafrio que gelou sua espinha.

Apesar de estranhar o ocorrido, Lauro não ligou para aquilo. Algo passageiro, imaginou.

Mas, a sensação permaneceu e o frio na espinha continuava.

Levantou-se, desligou o aparelho e foi tomar um banho, aprontar-se pois a noite prometia.

Ao entrar no banheiro, sentiu um frio imenso sem saber de onde poderia estar vindo, afinal era verão, não soprava uma brisa sequer e estava mesmo quente.

Ao tomar banho, ouviu algo que lhe pareceu sussurros dentro do banheiro.

Desligou o chuveiro, procurou auscultar com toda a atenção... nada. Silêncio total.

- O que foi isso? Parecia um choro, alguém cochichando algo com outro alguém... deve ter sido na vizinhança, imaginação minha, pensou consigo mesmo tentando tranquilizar-se.

Terminou o banho e, ao abrir a porta do box, pareceu-lhe ter visto um vulto escuro desaparecendo rapidamente. Aquilo fez o frio que sentia aumentar e o coração disparar com o susto.

Imaginação, com certeza. Vai ver era fruto do xampu que havia entrado em seus olhos deixando-os meio turvos, ardendo.

Enxugou-se e foi para o quarto.

Sentindo-se meio estranho e sonolento, deitou para um cochilo. Péssima ideia.

Foi tomado por pesadelos terríveis.

Seres para lá de estranhos começaram a formar-se à sua frente. Seres desfigurados de aparência tenebrosa que lhe esticavam as mãos como a pedir algo. Um cheiro muito estranho pairava no ar, um misto de flores velhas, velas e algo podre.

Acordou de sobressalto tentando entender tudo aquilo.

O resto dos dias foram iguais. As mesmas sensações o acompanhavam. Preferia ficar acordado a dormir, mas, não tinha jeito. Dormir era imprescindível e, aí, lá estavam eles novamente.

Com um sentimento de presença cada vez mais marcante, uma noite Lauro os viu em seu quarto e o pânico tomou conta de todo seu ser.

Desta vez ele não estava dormindo; muito bem acordado percebera que aquilo deixava de ser pesadelo para tornar-se realidade.

Sentia aquelas criaturas tocando seu corpo. Vozes ininteligíveis em tom de súplica.

Se era a sanidade dele que queriam, conseguiram.

O coitado acabou internado, mas sempre em companhia daqueles seres horrendos que às vezes apareciam em um silêncio sepulcral pelo qual enviavam uma mensagem de arrepiar o mais frio ou cético dos homens.

Onde quer que fosse, não podia ficar sozinho.

Era estar só que os arrepios e calafrios tomavam lugar. O pior é que o medo aumentava toda aquela sensação.

Estaria ele ficando louco?

Um homem feito, que passou a ter medo de ficar sozinho. Aquilo era demais para qualquer um.

Era começar a sentir um cheiro característico e ter a certeza do que iria se desenrolar dali em diante. O terror tomava conta.

Igrejas, orações, centros de mesa branca, terreiros... Tratamentos alternativos, orientais ou indígenas... tentara de tudo e tudo em vão.

Algum tempo depois, alguém chamou a polícia. Do apartamento de Lauro exalava um odor fétido e ele, há dias, não era visto por ninguém.

A polícia, ao entrar no apartamento, descobriu o corpo de Lauro estirado no chão do quarto. Em sua face, com os olhos ainda arregalados, uma fortíssima expressão de horror.

O que teria acontecido?

Todos imaginavam que alguém teria entrado lá para roubar, mas Lauro sabia o que houvera.

Do alto, junto com os mesmos seres que o atormentaram, Lauro, que agora fazia parte daquela agonia sobrenatural, via tudo o que se desenrolava dentro de seu antigo apartamento.

A remoção de seu corpo inerte, as especulações sobre o ocorrido, o choro dos entes queridos...

A preocupação agora era outra.

Dentro de seu sofrimento, fazia de tudo para que nenhum daqueles de quem gostava fosse o escolhido para um novo contato. Aquelas pobres almas, obrigadas a alimentar o mal com almas do bem, não tinham escolha.

Tomara que você não seja o próximo...

Um comentário:

Luis Antonio Braga Braga, via Facebook disse...

Parabéns, meu amigo Carlos Freire.
Conto de terror para ser lido com tranquilidade.
Vamos analisar o seguinte: quantas pessoas que conhecemos e já partiram de forma estranha?. Teriam essas pessoas sua "Alma Roubada?"