Ao descer a escadaria de sua casa, Amanda parou estática no patamar, olhou para a mãe e algumas lágrimas escorreram pelos lindos olhinhos azuis.
Mas, qual a razão disso? Por que teria Amanda chorado ao ver a mãe?
Voltemos um pouco no tempo...
Amanda era uma menina como outra qualquer. Bem... quase.
Na altura de seus 14 anos, tinha um grande futuro pela frente, mas antes de todo o futuro, haveria a festa dos 15 anos, a qual estava programada para acontecer junto com as das amigas Rita, Marisa e Léa. Elas formavam um quarteto inseparável.
Todas fariam 15 anos em uma distância muito curta de tempo e comemorariam com uma grande e única festa.
A diferença entre o nascimento delas não chegava a três semanas.
Conheceram-se no primeiro dia de aula, ainda na pré-escola, e nunca mais se largaram.
Faziam tudo juntas e a cada encontro era uma conversa sem fim.
Embora sempre uma ao lado das outras, os assuntos eram intermináveis e brotavam do nada. Quem as visse, sem as conhecer, cria que há muito não se viam e tinham muita conversa para pôr em dia.
Mesmo quando estavam longe, estavam conectadas.
Valia de tudo; desde o velho Skype, passando pelo SMS, pelo Instagram, pelo Facebook, até o Whatsapp e o que mais aparecesse. A ferramenta não importava, desde que se comunicassem.
A vida naquela cidadezinha do interior paulista, às margens do Rio Paraíba, era tranquila, cujo sossego somente era quebrado por algum apronto do quarteto junto com outros amigos.
Elas dominavam os adolescentes da cidade, chamados por eles próprios de a Gangue do Bem.
Claro, como jovens, sempre aprontavam das suas, mas em compensação, sempre estavam atentos para atender às necessidades de alguém.
Precisou? Logo aparecia um para ajudar.
Todavia, Amanda começou a perder peso, sentia-se mal com dores de cabeça além de uma estranha sensação de fraqueza.
Os pais a levaram para uma consulta ao médico que, ao olhar Amanda e uma rápida análise, sugeriu alguns exames específicos.
- Nada preocupante. Vamos fazer estes exames e verificar se minhas suspeitas têm fundamento. É muito no início e tudo fica mais fácil. Disse o doutor.
Como não se preocupar com um possível diagnóstico de leucemia?
Os pais, tentando parecer fortes perante a filha, estavam arrasados.
Os exames foram feitos e o doutor, algo que só acontece nas cidadezinhas do interior, foi à casa dos pais de Amanda com os resultados.
Dona Celeste chamou a filha, que estava no quarto, no andar de cima.
Bem, voltemos ao início...
Ao descer a escadaria de sua casa, Amanda parou estática no patamar, olhou para a mãe e algumas lágrimas escorreram pelos lindos olhinhos azuis.
Ao ver o médico e a expressão da mãe, teve a certeza de que, para tristeza de todos, os resultados comprovavam as suspeitas do médico. Leucemia!
Enxugou os olhos e desceu as escadas.
Não acreditava no que lia. Tinha apenas 14 anos e nada daquilo era justo.
Com a família reunida na sala, o médico explicou tudo o que podia sobre a doença, a importância de estar no começo e respondeu todas as perguntas feitas.
Indicou um Oncologista amigo dele que poderia cuidar da Amanda da melhor forma possível.
E assim começava uma nova etapa na vida daquela jovem. Iniciava-se ali uma caminha de trajetória difícil e não sabida.
Amanda reuniu todas as suas forças e disse em voz clara e firme:
- Vamos em frente. Vamos vencer esta droga de doença.
Os dias foram passando e por causa de um dos tratamentos aos quais ela se submetia, a quimioterapia, os cabelos foram caindo.
Ela ficou horrorizada com isso.
Como não havia jeito, a mãe a levou para São José dos Campos onde havia um especialista em perucas para pessoas com câncer.
Por algumas fotos enviadas previamente, foi confeccionada uma peruca bem parecida com o cabelo de Amanda.
Ao chegar, elas aprovaram a peruca, o pessoal da loja cortou os cabelos de Amanda, utilizando uma máquina número 3 e foram-lhes passadas todas as dicas de como usar, tratar e lavar os novos cabelos.
Ficara bem demais e Amanda voltou às ruas sem qualquer vergonha, algo que estava sentindo há algumas semanas. Ainda bem que eram férias escolares e não precisava ficar tão exposta, pensava ela.
As amigas acharam linda a peruca e até se divertiram bastante com Amanda, mas de forma alguma ela a tirava da cabeça, nem para as amigas, o que era respeitado.
A calvície forçada mexera muito com a cabeça da menina.
Chegara o grande dia. O dia mais esperado do ano, mas que correu um sério risco de não acontecer.
As amigas convenceram Amanda de que a vida continuava e tinha de ser bela como antes, e não haveria um porquê de não ser.
Com muita conversa, todas concordaram que nada, absolutamente nada, poderia estragar a festa delas - ou todas participariam ou não haveria festa.
Na hora combinada para irem ao salão do clube, as três amigas foram à casa de Amanda para buscá-la.
Dona Celeste chamou a filha, que estava acabando de se arrumar no quarto. Finalizou o acerto da peruca, prendendo-a bem para não correr o risco de cair ou mesmo sair do lugar e foi ao encontro da mãe.
Ao descer a escadaria de sua casa, Amanda parou estática no patamar, olhou para a mãe e, desta vez, muitas lágrimas escorreram pelos lindos olhinhos azuis.
A mãe, assim como o pai, também estava chorando.
As três amigas e todos os 15 casais formados pelos amigos mais chegados delas, estavam ali, aos pés da escada, esperando por Amanda.
Todos, homens e mulheres, de cabeça raspada.
5 comentários:
Conheço esta história de algum lugar.... ou seria mera coincidência? Bom demais, emocionante... Adorei. Bjos da Fê
Adorei, apesar de ser triste, né? Também achei o final muito legal, porque conheci uma mocinha +ou- da mesma idade que passou pelo mesmo problema mas que infelizmente a doença venceu, e vi como mexe, como mexeu com a vaidade dela.
Entendi a mensagem que você quis passar: O verdadeiro sentido de amizade...e isso achei o máximo.
Muito bom Don Carlos! Valeu! Abraços!
Lindo e emocionante!
Maravilhoso, já participei de uma historia parecida, amei, valeu.
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