Manezinho, assim chamado por ter vindo de Florianópolis. Chegara àquela pequena cidade do interior paulista há alguns anos.
Vivia só, meio retraído, não era de muita conversa. Ajudava a todos, estava sempre pronto para isso, mas fazia o tipo calado.
Às vezes, no domingo, fazia um churrasco em casa, simplesmente pelo prazer de assar uma carne.
Invariavelmente eram ele e o Bob, o vira-lata que dividia a casa com ele e, acreditava-se, tomava conta do lugar. Quem conhecia o cachorro sabia que não era nada disso; um bicho simpaticão e pacato.
Nada de convidados nos churrascos.
O dia a dia dele era da casa para o pet shop - era o dono do único pet shop da cidade -, cinema seguido de pizza às quartas-feiras e, muito raramente, uma cerveja com alguns conhecidos.
Todo bichinho que aparecia abandonado em sua loja, o Manezinho recebia com todo o cuidado, tratava e saía à procura de alguém que pudesse adotá-lo.
Como ele gostava muito de gatos, estes não paravam muito na loja, os cachorros eram mais demorados pois, em casa, bastava-lhe o Bob.
Demorava, porém, cedo ou tarde, sempre aparecia alguém para levá-los. Difícil mesmo era conseguir adotar um gato - não ficavam muito tempo por lá e a razão era bem simples: a maioria ele levava para sua própria casa.
Um cara tranquilo que, depois de muito tempo e de forma bastante gradativa, passou a conviver melhor com os vizinhos.
Por ser sempre prestativo, e pela atenção que dispensava aos animais, ele conquistara o respeito dos moradores da pequena cidade, os quais acabaram por convencê-lo a terminar com aquela timidez e a derrubar o muro de Berlim que ele construíra, passando a viver a vida de uma maneira mais solta, mais alegre e participando da comunidade.
Manezinho, considerado o super-herói dos animais, especialmente pelas crianças, foi tomando gosto pela nova vida.
Começou a ter vida social, a frequentar o clube local, ir a reuniões... já não se sentia mais tão só.
Sua vida passou a ser mais colorida e até a frequência na loja havia aumentado consideravelmente.
O pet shop passou a ser uma espécie de ponto de encontro. Quem não tinha o que fazer, aparecia por lá para jogar uma conversa fora. O que ficou vazio foi a barbearia do Seu João, ex-ponto de encontro.
Nunca mais comeu a pizza das quartas-feiras sozinho.
E a vida se desenrolava de forma diferente. Apenas sua paixão pelos gatos não mudara.
Qualquer bichano que desse entrada na loja tinha um tratamento especial . Principalmente as prenhas. Todos tinham de nascer saudáveis, grandes e gordinhos.
Este amor pelos bichos era o que mais chamava a atenção do povo.
Até o churrasco de domingo começou a receber algumas visitas
Em um desses domingos, o filho de Ernesto, o melhor amigo de Manezinho, inquiriu o anfitrião:
- Ô tio, eu achava que você tinha um monte de gatos aqui na sua casa.
- Por quê? Perguntou o Manezinho.
- Ora, o pai sempre fala que o senhor traz todos lá da loja.
- Ah sim, trago mesmo. Adoro gatos.
- Então, onde eles estão? Cadê eles?
- É o que eu lhe disse, adoro gatos. Eles são uma delícia!
5 comentários:
Ô dó !
1) O senhor é mto mau! Depois... eu que sou a bruxa... "cruis credu"!
2)Tio Carloooos! Que maldadeeee! Bruxo! Cruzes!
Mas que final!
Dizem que carne de gato parece com carne de coelho. Eu não sei... sou vegetariana! :)
Acho que vc foi a inspiração para este conto...kkk...
Sacanagem.... Tudo bem, já que o assunto é gastronomia... qualquer dia eu te convido para comer virado kkkk!
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