Beto e Helena eram bem casados, encabeçavam uma família linda que englobava duas filhas e o filhão que, apesar de ser o caçula, tomava conta das meninas.
A vida, como casal, havia iniciado em maio de 1985 quando começaram algumas ficadas, um namorico e tudo se ajeitou no dia 15 de junho quando efetivamente começaram a namorar de forma séria.
Ambos jovens, tinham uma vida inteira pela frente e, desde cedo, iam contabilizando planos para a vida em conjunto.
Sabiam que teriam de abrir mão disso ou daquilo em prol do outro. Tinham certeza de que tudo estaria muito bem harmonizado e que a vida seria uma maravilha, mesmo com os revéses que haveriam de acontecer.
Revéses? Ora, seriam os temperos para quebrar a rotina e provocar uma boa reconciliação do casal... nada como uma boa reconciliação.
E a vida foi passando. Três anos de namoro, veio o noivado no aniversário de Helena. Ela contava 19 anos de idade e ele, 21.
Alianças trocadas e tudo ficou ainda mais sério.
Outros planos começaram a surgir, em especial um que animava ambos: casamento.
Depois de 18 meses de noivado, casados.
Cartório, igreja, recepção e a Lua de Mel em Campos do Jordão.
Queriam ter filhos como qualquer casal, mas somente uns dois anos depois de casados. Iriam curtir a vida a dois primeiro.
Os planos foram concretizados. A primeira filha, Beatriz, nascida aos 18 de julho de 1992 viera mudar o panomara. Agora eram uma família de fato.
Mais dois anos e a família aumentou, nasceu Gabriela.
Tudo eram flores na vida daquela família, mas as duas pediam mais um filho, filho sim, queriam um irmãozinho.
Orlando nasceu quatro anos depois de Gabi. Família completa.
Os anos foram passando, os filhos cresceram, casaram-se. Viviam em suas próprias casas.
O casal mantinha sua vidinha, mas, agora, nem tudo eram flores.
A aparência era mantida, mas entre as quatro paredes daquele velho apartamento algo acontecia.
Beto tentava de tudo, mas Helena mostrava-se cansada daquela vida de esposa fiel. Muito secretamente nutria um sentimento que lhe causava certa ânsia por uma aventura.
Frequentemente recebia flores do marido, mas não eram mais vistas como antes.
-- Ele ainda está apaixonado por mim - pensava uma desiludida Helena - tenho pena dele, mas quero cuidar da minha vida.
Ela nutria uma vontade adquirida pelas más companhias que arranjara na academia. Suas amigas invariavelmente eram mulheres decepcionadas com o casamento e que traíam seus maridos abertamente.
Não, ela não seria assim. Embora não amasse mais o Beto, devia-lhe respeito.
Contudo, aconteceu.
Em um final de tarde, saindo da academia, ela deu carona a Rodolfo, o professor de pilates. Homem feito, uns 40 anos e corpo muito bem definido.
Conversa vai, conversa vem, pararam em uma lanchonete de produtos naturais para um suco e uma tijela de açaí.
Dali para um motel foi um pulo.
Ela chegou em casa ainda ofegante, preocupada se Beto já havia chegado. Não, Beto não estava.
Tomou um banho, recuperou as forças e preparou um bom jantar para o marido.
Beto chegou com um belo buquê de rosas champanhe - as preferidas dela.
Ela as recebeu. Cheirou-as imaginando que haviam sido enviadas pelo Rodolfo.
Naquela noite ela praticamente não dormiu. Apenas ficara devaneando sobre a tarde nos braços viris daquele modelo de homem.
No dia seguinte repetiram a dose e assim foi durante algum tempo.
Rodolfo, apaixonado, insistia para que ela deixasse o marido. Ele não tinha grandes posses, mas havia o suficiente para os dois viverem tranquilos e amando-se cada vez mais.
A questão “grandes posses” não era problema, afinal a vida com Beto eram bem assim mesmo. Não tinham quase nada e, volta e meia, faziam contas no final do mês.
Talvez fossem exatamente essas contas no final do mês que estavam minando seu casamento. Ela não queria aquilo. Queria mais e Rodolfo proporcionaria esse algo mais.
Definitivamente estava cansada de Beto.
Dois meses se passaram com aquela angústia apertando-lhe o peito. Precisava dar um basta naquela situação.
Conversou com Rodolfo e, então, tomaram a decisão de morarem juntos.
Com Rodolfo havia o fator predominante do adeus às continhas no final do mês.
Naquele final de tarde, Beto, sem suspeitar de coisa alguma, entra em casa esbaforido. Aos gritos sequer nota a presença de Rodolfo e que ela, de mãos dadas com o namorado, o esperava com as malas prontas:
- Querida, ganhei na mega-sena! SOZINHO!
3 comentários:
Azar no amor, sorte no jogo.
Eu li o seu conto muito bom!!!
A vida tem dessas coisas, nunca estamos satisfeitos com as bençãos de Deus.
Esquecendo que tudo é fruto do nosso merecimento.
Apressado come cru se ferrou.... agora ela ficou com o Rodolfo e o Beto milionário kkkk.
Beto, Helena e Rodolfo. A vida tem destas coisas. Conto que relata o dia a dia de muitos cidadãos homens e mulheres insatisfeito com a rotina e esquecem que o verdadeiro Amor vem da Alma.
Primeiro a paixão e no decorrer dos dias e com o passar do tempo o verdadeiro amor.
Felizes são os casais que juntos somam suas continhas no final do mês, parabéns Carlos Freire, pelo conto maravilhoso e digno de uma coletânea de contos!!
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