Fausto sempre alimentou o sonho do carro próprio.
Claro, não poderia ser qualquer carro. Teria de ser “o carro”. Carro não, automóvel!
Imaginava-se sentado ao volante do bólido, naturalmente um de apenas duas portas. Quatro? Nem pensar.
Passara a vida juntando todo o dinheiro que pôde para, finalmente, sair em campo atrás da máquina dos sonhos.
Sequer se lembrava de quantas vezes deixara de sair. Quantos nãos foram falados aos amigos, à namorada; tudo para guardar e conseguir comprar o possante antes dos 21 anos.
Havia uma meta a ser alcançada desde aquele ido ano de 2001 quando foi ao cinema assistir à estréia de Velozes e Furiosos. Saiu encantado com as máquinas que apareceram no filme.
Dominic Toretto (Vin Diesel) e Brian O’Conner (Paul Walker) imediatamente foram postos no topo da galeria de heróis.
Passados poucos anos e o pai o leva a Interlagos para assistir a uma prova de Gran Turismo.
Ferraris, Lamborghinis, Porsches, Vipers e outras máquinas, passando a toda velocidade em frente àqueles olhos sonhadores, ao vivo e em cores, marcaram o objetivo de consumo como uma ideia fixa na cabeça do menino.
Era o objetivo. Um automóvel forte, veloz, de presença. Um que chamasse a atenção aonde quer que fosse.
Via-se passeando pelo litoral, andando devagar pela orla das praias, exibindo o carrão. Depois, pegando as estradas e dando uma abusada para sentir melhor o motorzão do bólido. A vida dos sonhos.
Finalmente, aos 21 anos, viu que não podia mais esperar. Chegara a hora.
Foi a São Paulo escolher, dentre as cinco marcas preferidas, aquele que seria a concretização do sonho antigo.
Viagem de pesquisa traçada, a primeira foi a Ferrari, na qual marcou um test drive para o dia seguinte.
A segunda visita foi na concessionária da Maserati. Ali teve o prazer, a honra, o privilégio, de já fazer o test drive com uma Gran Turismo V8.
Inenarrável a sensação de, pela primeira vez, andar num carrão desses. Ouvir o ronco do motor, sentir a direção. Pena que não podia acelerar. Uma voltinha no quarteirão que valeu a pena e aguçou ainda mais a vontade de ter seu próprio carro.
Por último, no primeiro dia, acabou a série de visitas em uma revenda da Porsche.
Não havia carro disponível para um test drive, mas sentar num Boxster, com a capota abaixada, fê-lo sentir-se meio dono do mundo.
À noite, deitado na cama, sonhava de olhos bem abertos, ouvindo cada ronco, sentindo cada cheiro, revendo as cores, os bancos de couro, os painéis... tudo era lindo.
Segundo dia e lá foi ele de volta a Sampa.
Primeira parada, volta à Ferrari. Resultado do test drive com um modelo California: NOOOSSSSAAAA!!!!!! Sem palavras.
Teste feito, foi para a Aston Martin.
Ali entrou a bordo de um conversível, modelo DB9 Volante. Que carro! Não pôde dirigi-lo, mas ligou o motor e ouviu o ronco bravo do bichão. Um ronco sedutor aos ouvidos de um fanático e encantado Fausto.
Terminou o dia testando uma Lamborghini Gallardo Spyder branca. Capota abaixada, vento no rosto e completa sensação de liberdade. O que mais poderia querer?
Voltou para casa, extasiado com toda a movimentação dos dois dias de verdadeiras aventuras com os carrões.
Sentou-se à mesa com todos os papéis que recolhera nas concessionárias.
Valores, formas de pagamentos, IPVA, seguros, licenciamento - foi lançando tudo na planilha Excel feita pelo seu irmão Flávio, verdadeiro “Rei da Planilhas”.
Pela planilha fez todas as comparações possíveis, examinando custos e benefícios de cada carrão.
Fez todos os cálculos, não se esquecendo de incluir os gastos com manutenção, e chegou a uma conclusão. O dia seguinte seria o grande dia.
Sabia bem o que tinha a fazer e, com o pé bem fincado no chão, faria. Doesse a quem doesse.
Entrou confiante na loja. Juntara dinheiro suficiente e pagaria à vista. Nada de dívidas. Carro quitado!
Sentou-se com o vendedor e fecharam o negócio e Fausto saiu dali dirigindo o eleito.
Ele sabia bem que sonho é sonho e realidade é outra coisa. Por isso a decisão com os pés no chão - nada de querer o mais caro ou o mais luxuoso. A dicotomia custo e benefício haveria de imperar.
E lá foi ele, todo satisfeito, pilotando aquele que se saiu melhor, e dentro de seu orçamento.
Ele e o pré-batizado Zezão, nome dado ao Celta branco comprado. Um modelo 2010, mas com direção hidráulica e ar condicionado.
2 comentários:
Texto legal, mas previsível.
Ao menos ele andou nos carrões né?
Mais um para a coleção de contos nota 1000.
Janice Freire
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