terça-feira, 17 de agosto de 2010

O segredo de Dagoberto



Dagoberto não era um urubu como outro qualquer. Ele era reverenciado e respeitado por todos os outros urubus como sendo o mais corajoso deles.


Por quê? Simplesmente pelo fato de sempre estar voando a baixa altura, entre os carros, muros, casas e, principalmente, entre os terríveis humanos que - assim pensavam os urubus - estavam sempre prontos a tentar abater qualquer ave que passasse voando por perto, pelo simples prazer de vencê-la, matando ou não.


Mas, com Dagoberto tudo era diferente. Humanos por perto ou não, lá estava ele andando pelo chão, voando baixo, tirando finas deste ou daquele veículo, causando inveja aos demais. E ele, mostrando-se orgulhoso, gabava-se muito disso.


De onde tirava tanta coragem? Como podia arriscar-se de tal maneira? Indagavam os amigos que só se aproximavam do solo para comer uma ou outra carcaça e, mesmo assim, quando não havia nenhum sinal de perigo à vista e a fome os obrigava.


Todos sabiam que o corajoso urubu guardava um segredo a sete chaves - justamente o segredo de sua coragem extremada que fazia não se importar com a presença do terrificante homem.


Contudo, absolutamente ninguém conseguia extrair o tal do segredo, nem a namorada, a fogosa Amélia ou Ambrósio, o amigo mais chegado e confidente.


Dias vinham e dias iam e lá estava o destemido Dagoberto, demonstrando a coragem que lhe era peculiar. Se morasse no Rio de Janeiro, com certeza seria sucesso no Maracanã em dia de jogo do Flamengo.


Mas, Dagoberto morava em Santos e apreciava a tranquilidade de poder comer um peixinho à beira d'água, como sempre, sem temer ninguém. Na região, considerava-se o maioral, alardeava isso com soberba, afinal era destemeroso a ponto de mesmo o urubu-rei esperá-lo para começar a comer.


Será mesmo que ele não tinha medo de nada e de ninguém? Puro engano.


Mister M, quando passou pelas bandas da Baixada Santista, desvendou o mistério de Dagoberto e, claro espalhou para todo mundo:


- Quando ainda era branco e tinha apenas algumas peDagobertinhonugens ele caíra do ninho e assim, o grande corajoso que não temia os humanos e era o orgulho da raça, simplesmente voava baixo porque tinha mais medo de alturas que do bicho homem.


Coragem? Que nada, puro pavor.


Dagoberto? Nunca mais foi visto por aqui...

3 comentários:

Mi disse...

Às vezes nos vemos fazendo atos corajosos resultantes do puro medo mesmo. Somos assim, em vez de superar a maioria dos medos, nós simplesmente colocamos alguma qualidade extra que faz com que os outros não percebam o quanto somos medrosos.

Beijos

Marii disse...

De onde surgiu essa inspiracao urubulesca?? hahahaha Otimo texto!

Gustavo Delacorte disse...

Fala Carlão, agora tenho minha garagem. Visite-a.

Abs!