Arthur vivia uma vida rústica. Tão rústica que para comer ele precisava caçar.
Mas era esta a vida que ele levava e curtia. Não queria saber de outra.
Não tinha contas a pagar, não devia satisfações a ninguém e era feliz.
Os dias passavam sendo vividos um a um. O negócio de Arthur era ser livre e feliz - o resto era resto.
Uma moradia super simples com o tamanho suficiente para acomodar alguns poucos primos ou o irmão que, às vezes, o visitavam.
As visitas aconteciam, invariavelmente, do jeito que Arthur mais gostava: duravam dois dias, no máximo. Desta forma o dia a dia do jovem com anseios de liberdade total não era prejudicado.
Dois dias bastavam para matar a saudade e pôr a conversa em dia. Passado este período já virava rotina e aí era invasão de privacidade e liberdade tolhida.
Dono de um viver simples e descompromissado, o jovem saía de casa logo cedo, andava a esmo pelos arredores e se visse uma caça, tratava de tentar abatê-la para garantir o almoço, ou a janta.
Tão livre era que, por vezes e até por preguiça, não voltava para casa. Dava um jeito de passar a noite onde estivesse.
Isso era liberdade total. Algo almejado por muitos e ele tinha. E como!
- Sou livre! Esta é a vida que eu sempre quis ter! Assim falava, consigo mesmo, um todo alegre Arthur.
Para ele, um vidão.
Se rolasse um sexo, legal. Se não, paciência - a vida continuava.
Mas..., pois é, sempre tem um mas, para temperar qualquer história... bem, voltemos ao texto.
Mas, um dia Arthur conheceu aquela que seria sua cara metade. Amélia era uma coisa de louco.
Linda, simpática, charmosa, atributos certos nos lugares certos. Ela mexeu com aquele solteirão convicto.
E ele cedeu notando que, sem haver percebido, faltava algo para ser completamente feliz: uma esposa, uma cúmplice com a qual poderia rir, chorar, dividir a vida.
De repente começou a sonhar com filhos, família, um modo de vida nada a ver com aquele que levava, mas que chegara a hora de conquistar. Mesmo porque a idade vinha chegando.
Depois de um curtíssimo período de paquera, de ambos os lados, passaram a namorar e ela aderiu totalmente àquele estilo rústico de vida do namorado.
O relacionamento foi ficando cada vez mais sério e acabou tomando um destino tradicional: iriam casar-se.
Como os pais de Amélia eram ultraconservadores, optaram por seguir fielmente a tradição e não pular qualquer degrau. Namoravam, ia pedir a mão dela, ficariam noivos e só depois casariam.
Assim, marcaram o dia para uma cerimônia íntima, só com os pais de Amélia, o irmão e um primo de Arthur, cerimônia na qual ficariam noivos. Era o segundo passo.
Com os preparativos prontos, faltava garantir a comida para os convivas.
Para isso, Arthur saiu cedo para caçar, conforme as regras que adotara em sua vida.
Foi difícil. O tempo passava e... nada. Aquilo temido pelo jovem caçador ia acontecendo, afinal a caça andava escassa por aquelas bandas.
Depois de algum tempo, Arthur conseguiu abater uma primeira presa, mas uma só não seria suficiente.
Algum tempo depois, a segunda e, aos “49 do segundo tempo”, uma terceira
Pronto, finalmente podia retornar à casa, onde Amélia e os convidados já deviam estar esperando. E com fome.
Quando chegou, Arthur foi tomado por uma grande surpresa, levando um tremendo susto.
Além dos quatro convidados, também compareceram três irmãos e dois primos de Amélia e mais cinco primos de Arthur, todos com ares de quem estava de estômago vazio reclamando por comida.
De um estático Arthur saíram, com muito esforço, as palavras:
- Poxa pessoal, só três baratas não vão alimentar 16 lagartixas!
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