1) Edward A. Murphy
2) “Lady Murphy” - imagem cedida por Bruno Omena
Reza a Lei de Murphy que quando não é para dar certo, não dá mesmo, não importa o que se faça ou o quanto se prepare.
Bem, o azarado do Laerte é um legítimo representante dessa afamada lei. Com o coitado, nada dava certo e isso desde quando nasceu.
Começou sendo gerado meio sem querer, depois de uma festa e uma tremenda bebedeira.
Nasceu de qualquer jeito, auxiliado por uma parteira que não sabia se segurava o charuto ou a criança que estava chegando.
Aos trancos e barrancos o tempo foi passando e Laerte foi crescendo, virou criança, pré-aborrecente, digo, adolescente e entrou na fase adulta.
Tinha planos de estudar, queria ser alguém na vida e, com 18 anos... partiu vestibular.
Doce esperança que se esvaiu rapidinho. Na real, partiu mesmo foi para o exército.
Embora quisesse muito ser dispensado para poder dedicar-se aos estudos, a Lei de Murphy falou mais alto. Foi convocado e, para piorar, transferido para servir na Amazônia.
Amazônia, calor de mais de 45 graus, mata densa, larvas de bichos no almoço, chuva, malária e tudo o mais que somente um azarado como ele poderia ter.
Laerte não tinha sossego.
Além de tudo o que tinha de passar, ainda era zoado pelos colegas de farda.
Quando montava guarda, o pessoal fazia fila para perturbá-lo com piadas de mau gosto, sustos, bichos e outras mazelas. Tudo para ele não ter paz.
Por ter sido preso algumas vezes, normal já que nada dava certo mesmo, passaram uns dois anos até dar baixa.
Voltou para casa todo satisfeito. Iria encontrar a Rosinha e, enfim, reatar o namoro, já imaginando-se casado com aquela doce menina, namoradinha de outrora para quem tantas cartas escrevera.
Entrou em seu quarto, jogou-se na cama para matar saudade da velha amiga. A amiga não aguentou: quebrou o estrado. Tudo bem, ficou por ali mesmo - estava em casa!
Antes que a preguiça falasse mais alto, levantou-se de um salto, pegou a toalha, trancou-se no banheiro para tomar um belo banho. Iria todo perfumado ver a razão de seus sonhos, a futura mãe de seus filhos.
Animado, despiu-se, entrou no box, abriu o chuveiro e.... água fria. Resistência queimada.
- Mãe! Gritou ele. – O chuveiro queimou. Há outra resistência por aqui?
- Hiii filho... não tem não e hoje é domingo e o “seu” Humberto já fechou. Só vamos poder comprar outra amanhã.
Não teve jeito. Banho gelado. A Rosinha merecia.
Tomou banho o mais rápido que pôde. O resto compensaria com desodorante e perfume.
Enxugou-se pegou o desodorante e deu uma boa esborrifada na axila direita. Depois o mesmo para a esquerda... só que não. Acabou o desodorante.
Pegou um outro, da mãe, com perfume nada a ver e usou na esquerda. Ficou meio esquisita aquela mistura de cheiros mas... tudo bem.
Vestiu-se e foi ter com a Rosinha.
Quando a viu, o coração bateu rápido. Rápido? Nada disso, super rápido.
Ela caminhava pela praça na companhia de um rapaz, decerto algum primo, pensou ele.
Quando chegou perto, Rosinha abriu um sorrisão de quem tinha alegria de ver alguém do passado, sorriso tipo matando a saudade.
Ele estampou um sorriso maior ainda e quando foi beijá-la, ela rapidamente apresentou o “primo”.
- Oi Laerte, quanto tempo! Este é Rogério, meu marido.
E o mundo desabou.
Não era possível. Aquilo jamais poderia acontecer.
O casamento de Rosinha fez passar pela cabeça do pobre coitado todas as mazelas que vivera em sua vida.
Bombas na escola, aniversário frustrados, calças rasgadas em más horas e outras tantas.
Aquilo não era vida, chegara a hora de dar um basta. Não aguentava mais.
Sem muita coragem, mas superando qualquer sentimento contrário à decisão tomada de pôr um fim naquilo, tomou uma boa dose de conhaque abriu a janela da sala de seu apartamento e, sem ver mais nada, foi em frente com aquela decisão que Lei de Murphy alguma jamais poderia atrapalhar.
Era a hora do basta: iria vencer a maldita lei que sempre o impedira de fazer o que queria, de ser feliz.
Não considerava o suicídio uma covardia. Era, antes, fuga de uma vida perturbada por planos nunca concretizados, sonhos irrealizados e amores platônicos.
- CHEGA! Gritou a plenos pulmões enquanto se atirava através da janela para estatelar-se no chão.
Ouviu-se um barulho seco e, na sequência, um grito misto de dor e lamento, seguido de brados de reclamações.
Laerte, com dor no braço, amaldiçoava o fato de morar no andar térreo.
Um comentário:
Excelente narrativa. Gostei muito. Parabéns! E haja Lei de Murphy para quem mora em andar térreo!
Ludmila
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