quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Felicidade não tem preço

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Felicidade para ele era ter de tudo. Desistiu da vida para trabalhar, enriquecer e poder comprar tudo o que precisasse ou, melhor ainda, quisesse.

Automóveis, só os de luxo, e do ano. Apartamento? Cobertura à beira da praia e no melhor bairro da cidade.

Amigos? Bastava estalar os dedos que choviam de todos os lados. Nunca estava sozinho. Assim também não lhe faltavam belas mulheres.

Então, sofreu um acidente tarde da noite. Bateu o carro em um poste e não conseguia ligá-lo para sair daquele bairro suspeito. Bairro pobre, longe do centro, longe de tudo.

Queria era sair logo dali. Ligou para vários amigos, mas, por motivos diversos, nenhum deles poderia ir ajudá-lo. Também, quem iria até aquele fim de mundo? Pensou com seus botões.

Viu-se só... e com uma ponta de medo.

Passou um ônibus e notou que alguém gritou para o motorista para que parasse. Um pouco longe, viu um vulto descendo e indo em direção a ele. Preocupou-se.

Pronto, o cara viu minha situação e agora, tenho certeza, “dancei”. Pensou preocupadíssimo. A ponta de medo agora era medo mesmo.

Quando o indivíduo chegou perto, notou que era o Pedrinho, um rapaz lá do escritório que sempre ouvia as brincadeiras dele. Ele sempre curtia, menosprezando o Pedrinho, dizendo que pegar ônibus era coisa para pobre etc e tal.

E agora? O que ia acontecer? Continuava pensando com seus botões.

- Olá, seu Márcio. Quando o vi aqui nesta situação, desci e vim ver se precisa de ajuda. Posso fazer algo pelo senhor?

Aquilo foi um tremendo balde de água gelada. Gelada? Congelada!

Por razões que o próprio destino desconhece, o socorro demoraria a chegar até aquele lugar longe de tudo e perdido neste mundão de Deus.

O Pedrinho então o convida para irem à sua casa. Lá poderiam jantar e esperar o socorro pois, de fato, ali não era um bom lugar para permanecerem.

E assim foram.

Apesar da hora e da surpresa de um convidado para o jantar, Júlia o recebeu com um sorriso nos lábios.

- Entre seu Márcio, a casa é de pobre, mas é aconchegante.

Ela pôs a mesa usando seu melhor jogo de jantar, chamou os filhos mandando-os lavarem as mãos e indicou o assento ao lado do marido para que Márcio o usasse.

Fizeram uma oração antes de iniciar o jantar na qual agradeceram a presença de Márcio pedindo que Deus o protegesse e o iluminasse e, para espanto dele, agradeceram também pelo acidente. Um acidente que ele tanto maldizia.

Agradeceu a oração, mas ficou sem entender. Como agradecer por uma desgraça?

Aquela família, unida em torno da mesa, dividiu o que tinha com ele. Naquela noite, isso ele percebera, todos comeram menos que o normal. Havia um convidado à mesa, uma inesperada boca a mais, mas muito bem-vinda.

Quantas vezes ele havia criticado amigos por aparecerem na hora da refeição? Essa conta ele perdera havia muito tempo. Fora tantas outras reclamações que fazia no dia a dia. Era só não estar do agrado dele e lá vinha a chiadeira.

Aquele era um outro mundo, um mundo cuja existência era sabida, mas desconhecido.

Só quando estava sozinho em casa e sentindo, pela primeira vez, uma solidão esquisita é que entendeu o por quê daquele agradecimento. Deu um belo sorriso ao notar que aprendera que o mal acontece para nos recolocarmos - o mal era um bem necessário.

Entendendo isso, também agradeceu pelo acidente que possibilitou aprender uma das maiores lições de sua vida. Devia ao Pedrinho muito mais do que ele e sua família imaginavam.

Quando precisou, a ajuda veio de quem menos esperava. E os “amigos”? Onde estavam?

É, tinha mesmo de rever seus conceitos. Agora ele seria feliz de verdade.

2 comentários:

Marcus Lisboa disse...

Pessoas interessadas no que temos a oferecer aparecem em nossas vidas diariamente, seja em busca de status, dinheiro, promoção o por qualquer motivo que a faça tirar alguma vantagem. Infelizmente o ser humano é assim, todos nós temos a infeliz ideia de que temos de levar vantagem em tudo, logo, somente com um olhar cuidadoso e com o coração e mente abertos poderemos enxergar quem realmente está a nossa volta pelo que realmente somos, pela nossa essência e não pelo que temos a oferecer. Bela lição e ótimo conto!

Dirce disse...

Parabéns Carlos, essa história deveria ser lida por muita gente que pensa como ele, quem sabe mudaria de atitude.