domingo, 25 de março de 2012

Contos Twitteranos [6]

Contos Twitteranos
Contos que, como no Twitter, devem conter
um máximo de 140 toques.
O mais legal é fazer com que fiquem
com exatos 140 toques.
101) A esmola (140 toques) Achava que ajudava. Não negava esmola, pois, eram necessitados. Acreditou nisso até que viu um mendigo dirigindo um carro melhor que o dele.
102) O príncipe encantado (140 toques) Acostumado à vida no brejo, não queria ser príncipe. Maldito beijo desencantador. E a comida então? Algo nojento. Queria as moscas de volta.
103) Bela Feia (140 toques) Era linda. Arrogante, esnobava todo mundo e não estava nem aí. Afinal, a beleza bastava. Um dia queimou o rosto. Ficou feia e virou "gente".
104) Micção (140 toques) Muitas cervejas e a bexiga estourando. Foi ao banheiro e o zíper encrencou. Não agüentava mais. No desespero, rasgou a calça. Não deu tempo.
105) Davi e Golias (140 toques) O pequeno Yorkshire não se intimidou com o grande Rottweiler. Partiu para a briga sem medo. Venceu ao matar o grande cachorrão... engasgado.
106) Almoço de domingo (140 toques) Almoço na casa da sogra. De barriga cheia dormiu no sofá. Roncava alto. Só foi acordado quando enfiou a mão na bermuda para uma bela coçada.
107) Sofrendo com o peso (140 toques) Pensativo, olhava a criação da avó. Era gordo queria perder 10 kg até o Natal. Sofreu até ver o peru correndo. Sim, havia problemas maiores.
108) Bullying (140 toques) Era gordão e narigudo. Tinha tudo para sofrer com os bullyings na escola. Ao contrário, inteligente, dava cola e fazia os espertos sofrerem.
109) O mito mictou (140 toques) Jovem talento, um mito. Certa noite subiu às pressas ao palco, sem ir ao banheiro. No show não aguentou. O mito mictou nas calças. Que mico.


110) A irmã (140 toques) Extasiado, via o corpo esguio. Só pensava "naquilo", mas resistia. É minha irmã, cobrava-se. Mas tinha de se desafogar. Pegou outra Playboy.
111) Problemas (140 toques) Saiu em busca de um objetivo. Candidatou-se, pois tinha uma grande meta: resolver todos os problemas do mundo. Ganhou um mundo de problemas.
112) Cruzamento (140 toques) A égua puro-sangue no cio. O garanhão querendo. Tudo daria certo e ele já imaginava o belo potro correndo. Pena que o jumento pulou a cerca.
113) Dono da bola (140 toques) No futebol, um zero à esquerda. Não jogava nada, mas sempre era chamado e escolhido. Todos o queriam. Como era bom ser o dono da única bola.
114) A loteria (140 toques) Conferiu os números. Sorte grande! Com tanto dinheiro pensou que os problemas haviam terminado. Tremendo engano, estavam é apenas começando.
115) Torcedor sofredor (140 toques) No futebol, com técnico retranqueiro, o time dele não ganhava. Para não sofrer, tirou férias. Foi ver o vôlei. Azar, optou pelo time errado.
116) Missa das 9 (140 toques) Todo domingo, às 9h, estava na missa, assíduo. Caso perdesse a das 9, não ia em outra. Mania de carola? Não, era nessa que a bela Camila ia.
117) O mergulho (140 toques) Olhava atônita aquele mar fervilhando, cheio de cores. Sem medo, mergulhou fundo. Logo alguém gritou: - Garçom, tem uma mosca na minha sopa!
118) O mico (140 toques) Pela rua, todos o olhavam. Não entendia o por quê. Era o alvo das atenções. Só entendeu quando chegou em casa e reparou na braguilha aberta.
119) Galo chato (140 toques) Quatro da manhã e o galo cantava na janela. Com sono, virou-se de lado e cobriu a cabeça com o travesseiro. E o galo cantava. Voou a botina.
120) A entrega (140 toques) À presença da estonteante jovem, não resistiu. Entregou-se em completa luxúria. Literalmente, perdeu a cabeça. Por que nascera louva-a-deus?

terça-feira, 6 de março de 2012

Ascensão e queda de uma faxineira

Iriscléia
Nordestina cabra da peste, com ela não tinha tempo ruim. Iriscléia era pau pra toda obra e não tinha medo do pesado.
Chegou a São Paulo com uma penca de filhos a tiracolo e foi logo se encantando com aquela cidade mais que grande, como ela própria dizia.
Eram muitos prédios “altos demais da conta” e aquela novidade toda enchia seus olhos acostumados somente com a vegetação seca da caatinga e uns barracos aqui e ali, todos remetendo ao barroco e ao gótico (sim, porque eram de barro e, quando chovia, tinham goteiras).
Mas, a valente Iris havia chegado na capital dos sonhos para vencer e sustentar com bravura os filhos. O marido? Aquele malandro havia fugido, debandado lá para os lados do Acre com uma rapariga 20 anos mais jovem que ele.
Iris não perdeu tempo, aprendeu logo o ofício de faxineira, para o que não precisava saber ler e escrever, e lá foi ela competirndo consigo mesmo, buscar o melhor, para ser a melhor faxineira daquela cidade enorme.
Fez que fez. Esperta, aprimorou-se, reciclou-se (embora não soubesse o que isso significava) e passou a ter várias clientes.
A ascensão foi rápida e logo ela já trabalhava sem parar, conseguindo não só tirar o sustento para os filhos como também mantê-los estudando para que não fossem analfabetos como ela.
Nunca fora tão feliz na vida.
No trabalho não dava moleza sequer às menores partículas de poeira, estivessem onde estivessem, nenhuma conseguia esconder-se das flanelas, espanador ou daquela máquina incrível que conhecera recentemente - e da qual não tinha mais medo - o aspirador de pó.
Não importava o andar em que o apartamento a ser limpo fosse localizado. Pendurava-se nas janelas para deixar os vidros invisíveis de tão limpos, por dentro e por fora.
As patroas, quando viam a cena, arrepiavam-se e pediam a ela que saísse dali, pois era muito perigoso.
- Não se preocupe dona, eu sei bem o que estou fazendo e não há perigo, não. Dizia e continuava pendurando-se dada vez mais, com o corpo quase que totalmente para fora.
Aquilo era necessário. Tinha de ser a melhor, deixar tudo 100% limpo para garantir os trabalhos e cuidar dos filhos, o maior tesouro de Iriscléia.
Mas, foi em uma oportunidade dessas que Iris vacilou.
Estava tentando limpar o vidro daquele janelão enorme do 15º andar e não estava conseguindo.
Lançou mão da escada, posicionou-a junto à janela aberta, subiu, pôs o corpo para fora e passou a limpar o vidro. Teve de raspar para tirar aquela sujeira grudada e... aconteceu.
A patroa havia visto Iris pegar a escada e perguntou para que era.
- Vou alcançar a parte de cima do vidro da janela da sala. Não está dando para limpar.
- Iris, não seja louca. Não ponha a escada perto da janela.
- Ora, dona Juliana, eu sei bem o que estou fazendo.
Tocou o interfone e a patroa foi atender, desviando a atenção do assunto. Iris aproveitou-se, saiu de mansinho e subiu na escada.
De repente, um barulhão de algo caindo, um grito.
O filho mais novo de dona Juliana, que brincava na sala, entra chorando na cozinha e, aos prantos, fala para a mãe que a Iris havia caído da escada, da janela.
Décimo quinto andar, não tinha como alguém se salvar de uma queda dessas.
Juliana entrou temerosa na sala, sem saber se teria coragem de olhar pela janela e ver, lá embaixo, o corpo estatelado de Iris.
A queda, algo que sempre a preocupava já que a faxineira era mesmo atrevida, acontecera. Logo naquele dia em que acordara com um péssimo pressentimento.
Não tinha jeito, entrou na sala, viu a escada caída e, ao lado dela, Iriscléia reclamando de uma dor no braço.
Sim, Iriscléia, por sorte, caíra para o lado de dentro e não para fora do prédio.