sábado, 21 de março de 2015

Contos Twitteranos [26]

Contos Twitteranos

Contos que, como no Twitter, devem conter
um máximo de 140 toques.
O mais legal é fazer com que fiquem
com exatos 140 toques.

501) Ranzinza (140 toques)
Sempre ranzinza, naquela manhã acordara feliz. Saiu sorrindo. Sorriu cumprimentando conhecidos e desconhecidos. Naquela noite, dormiu feliz.

502) Bruxas (140 toques)
A bruxinha pede: -Mamãe, posso dar uma volta? -Pode filhinha, mas cuidado pois parece que vai chover. Melhor não ir de vassoura; vá de rodo.

503) Luz (140 toques)
G
emidos e respiração ofegante. Mais gemidos. Muitos esforços, cansaço e mais gemidos. De repente um grito, outro. Choro, choro alto. Nasceu!

504) Praia (140 toques)
Passou protetor 50. Foi à praia protegido. Futebol, frescobol, mar, muito sol. Mas, nenhum protetor aguenta mais de 10 horas de sol. Torrou!

505) Cães amigos (140 toques)
Depois de um dia horroroso, pneu furado ao chegar em casa. Abre a porta cheio de raiva. Rex com o rabinho abanando o desmonta. Fim da raiva.

506) Saidinha de banco (140 toques)
Foi aplicar uma saidinha de banco. Escolheu a vítima e a seguiu. Parou o homem e o roubou. Só não vira os seguranças. Deu-se mal, muito mal.

507) Liberdade demais (140 toques)
Ela adorava a liberdade sem responsabilidade. Aprontava todas e saía com todos. Grávida aos 17. Vida nova. Acabou a liberdade irresponsável.

508) Boa vida (140 toques)
Ele aprendeu cedo que a vida era mole para quem era duro e dura para quem era mole. Achou um meio termo, nem mole nem duro, e foi ser feliz.

509) Felicidade (140 toques)
A meta era ter muito dinheiro. Casaria com uma velha bem rica. Apaixonou-se por uma jovem pobre. Casou-se. Ele nunca fora tão feliz na vida.

510) Quase o recorde (140 toques)
Abatera várias naves inimigas. Mais de duas horas e estava no início do último nível. Prestes a bater os recordes. Queda de energia. Apagão!

511) O anjo (140 toques)
Ela dizia morar com um anjo de verdade, mas que ele ficava ali por não ter asas. Boato espalhado, foram ver. -Cadê? -Partiu. Ganhou as asas!

512) Acabou em pizza (140 toques)
Ela queria um sanduba. Ele, a fim de um pastel. Assunto discutido e não chegaram a um acordo. Tudo acabou em pizza: meia muçarela meia atum.

513) Briga de paladares (140 toques)
-Temaki é o melhor! Alguém gritou. -Prefiro churrasco! Disse outro. -Comida chinesa! Rebateram. Como decidir a briga? Foram comer uma pizza.

514) Enamorado (140 toques)
Não queria pisar na bola. Faria uma surpresa para a menina, mas não sabia onde jantariam. Qual o gosto dela? Na dúvida, foi no certo: pizza!

515) Dia do fico (140 toques)
Férias na Ucrânia. Iria? Fã da história brasileira, disse à mãe: Se é pro bem de todos e felicidade geral dos pais, diga à família que fico!

516) Dançarino (140 toques)
Primeira aula de dança. Todos o olhavam espantados. Cinco aulas depois todos queriam dançar com ele. A cadeira de rodas em nada atrapalhava.

517) Qualidade de vida (140 toques)
Basta! Chega de ser gordo! Mudou radicalmente. Boca controlada, exercícios e xô preguiça. Emagreceu, algumas dores sumiram. Era outro homem!

518) O auê (140 toques)
-Ei! -Hã? -Ó o auê! -Auê? -É! -Por quê? -Por que o quê? -O quê? -Tá o maió auê! -Onde? -Aí! -Aí? -Aqui não, aí! -Ah sei. -Sabe? -O quê? -Hã?

519) Mundo melhor (140 toques)
Todos achavam que o mundo era melhor sem ele. Passado um tempo, viram-se totalmente enganados. Que fariam sem ele? Daria para ressuscitá-lo?

520) Corrupção (140 toques)
Uma grande multa de trânsito para pagar, estava sem dinheiro. O policial ofereceu um jeitinho para se livrar da multa. Optou pela dignidade.

terça-feira, 10 de março de 2015

Rua Voluntário Gabriel Soares, Jacareí/SP

RuinhaRua Voluntário Gabriel Soares? Que nada!

A rua estreita, como muitas da Jacareí antiga, era conhecida como ruinha por aquele bando de meninos que a usavam como um centro de encontro a fim prepararem-se para as aventuras do dia, combinarem do que iriam brincar.

Sempre havia as brincadeiras de praxe, de épocas certas, como papagaios (que aprendi a chamar de pipa, morando em Santos), pião, bolinhas de gude ou espeto.

As de sempre também fazia parte do dia a dia, como polícia-ladrão, pega-pega, mãe da rua, pula sela, taco e o sempre presente futebol, o qual acontecia no quintal da casa do Paulo Arnaldo, no areião ou mesmo em qualquer espaço livre da rua ou em um campinho de supervárzea, muitas vezes jogado com bolas feitas com meias velhas.

Sobre carrinhos de rolimã tenho uma passagem inesquecível, com marcas para provar.

Vinha pela calçada da Antônio Afonso, pertinho de casa, dando impulso com o pé e segurando o eixo frontal para direcionar o bólido. Eis que o tal do eixo se solta, vira e eu freio o carrinho prensando as mãos entre a calçada e o eixo, dou uma pirueta com a parada brusca e bato o rosto na roda de um carro parado.

Pronto. Sangue para todo lado.

Levanto, recolho as peças, corro para o quintal de casa em busca das ferramentas de meu pai, conserto o carrinho e volto para a rua - não  cheguei.

Com o carrinho consertado, quando vou abrir o portão, ouço minha irmã gritando com aquele sotaque típico caipira:

- Mãe! O Carrrlos se machucou!

Pronto. A brincadeira deu lugar ao sofrimento.

Naquela época, em casa, os machucados eram tratados à base de salmoura e...

Em resumo, ali estava uma “coitadinha de uma criancinha” com a face esquerda tomada por aquela mistura de sal e água, assim como as costas das mãos. Se chorei? Ah ah ah que pergunta.

Era assim mesmo, se não fosse pego em flagrante, teria continuado a andar no carrinho de rolimã - não dávamos IBOPE para os machucados afinal era muito mais gostoso brincar que chorar.

Quantas vezes nossos tampões dos dedões dos pés eram abertos em uma raiz ou pedra quando errávamos o chute?

Comíamos frutas direto das árvores que fervilhavam pelos arredores, especialmente as jabuticabas no quintal da “Casa do Padre” (a casa paroquial onde viviam os padres e tínhamos aulas de catequese - para não confundir com catecismo que, para nós, era outra coisa. rrsss)

Havia, se bem me lembro, umas seis jabuticabeiras e subíamos o mais alto possível. Não só para pegar as melhores frutas, mas principalmente para não sermos vistos pelos padres.

Fazíamos “guerrinha” com nêsperas - sabem quanto custa uma caixinha com poucas dessas frutas hoje em dia?

Nossas guerrinhas também eram travadas com estilingues, usando mamonas como munição. Era um cacho na mão, cada um por si e Deus por todos.

E as antenas de televisão? Em Jacareí muitas casas tinham torres bem altas para captar as imagens. Em um dia de muita chuva e vento, a torre da casa do médico Dr. Carlinhos Carderelli dobrou-se e a antena ficou caída justamente na ruinha. Que festa fizemos!

Por quê? Ora, os tubos que formam as antenas eram excelentes zarabatanas para nossos dardos feitos com tiras de papel arrancadas de nossos cadernos.

Certa feita, eu e meu irmão estávamos em casa e tivemos a ideia maluca de alvejar um grande quadro que havia pendurado na parede da sala, quadro que meus pais ganharam no casamento.

Pusemos alfinetes nas pontas dos “dardos” e começamos os disparos. Quando o quadro estava cheio deles, ouvimos meus pais chegando. Em tempo recorde retiramos todos e nos salvamos de uma boa.

Põe boa nisso - naquele tempo não era bronquinha. Não mesmo.

Se tivéssemos sido pegos, com certeza o premio seria umas boas cintadas, fora o castigo.

Claro que há muito mais a ser contado, mas o importante é saber que eu não trocaria minha infância de pé no chão, tomando água de qualquer mangueira, com brigas de manhã que à tarde já haviam sido esquecidas, por esta infância de hoje em dia, com as crianças trancadas entre quatro paredes com um monitor à frente.

Naquele tempo não tínhamos vídeo games.

Tínhamos vida games, o que é muito mais legal.